Capítulo 4

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Aproveitei ao máximo os meus últimos dias. Aproveitei a biblioteca, aproveitei a minha casa, aproveitei a minha cidade. Aproveitei a minha liberdade. Aproveitei o meu pai.
Ele simplesmente não se conformou com o fato de eu estar sacrificando minha liberdade por ele, mas já estava feito. Ele acabou aceitando e aproveitando os meus últimos dias também.
O transporte para levar os novos trabalhadores ao Palácio poderia chegar a qualquer momento, então eu já deixei tudo preparado para a partida.
Estava levando algumas roupas (não que eu achasse que fosse usar, mas elas traziam memórias valiosas), o livro que estava lendo para minha mãe antes dela morrer e mais alguns, a xícara que o meu pai acidentalmente havia derrubado no chão, lascado-a e alguns papéis para caso eu conseguisse um jeito de mandar cartas ou simplesmente para expor meus sentimentos.
Tentei ignorar ao máximo o meu futuro nos dias que se passaram. Mas, não tem como fugir do futuro. Lembra que eu disse que a vida não é um conto de fadas? Pois é. Uma solução não ia aparecer do nada e então eu poderia ter dinheiro e ficar com o meu pai.
Escolhas são feitas na vida. Para o bem ou para o mal.
Até que o dia chegou. Depois de alguns dias, o transporte chegou em minha cidade. Os guardas foram nas casas de quem estava na lista, buscá-los.
Quando chegou a minha vez, eu estava em casa, lendo para o meu pai.
Ele estava sentado na cama, enquanto eu estava no chão, lendo. Então ouvimos as batidas na porta. Olhei para o meu pai, e ambos sabíamos que havia chegado a hora. O temido momento.
Tomei coragem e levantei. As batidas se tornavam cada vez mais urgentes e eu andei mais rápido enquanto falava:
- Já estou indo.
Cheguei na porta e a abri. Um guarda estava na porta e me passou as últimas informações. Enquanto ele falava, percebi que ele tinha cabelo negro, do qual caíam-lhe alguns fios na testa. Seus olhos eram castanhos, e ao olhar neles eu percebi que eles diziam que eu estava fazendo a pior idiotice da minha vida. "Não se preocupe" pensei. "Eu sei disso."
Ele me informou que eu deveria comparecer na entrada da cidade até no máximo seis da manhã, então eu seria levada para o palácio. E se houvesse bagagem ele levaria naquele momento.
Depois de me passar as informações, eu disse que a bagagem estava dentro de casa e pedi para que me seguisse. O levei até o meu quarto, onde tinha um baú com os meus pertences. Ele o pegou e o levou.
Assim que o guarda saiu da minha casa eu fechei a porta e me apoiei na porta de modo que fiquei com as costas apoiadas nela.
Foi como se a ficha só caísse naquele momento.
- Eu... Eu vou embora.
Lágrimas inundaram meus olhos e eu fui escorregando até estar no chão. Então, eu abracei os joelhos e chorei, lamentando a vida que eu estava deixando para trás.

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