Capítulo 5

30 5 1
                                    

Naquela noite, o sono não foi exatamente um poço de tranquilidade. Talvez por ele sequer ter vindo. Estava extremamente inquieta, perturbada pela noção do que se seguiria no dia seguinte. A única coisa que me passava pela cabeça era o fato de que toda a minha vida mudaria assim que eu despertasse na manhã seguinte. E num piscar de olhos já era a hora de acordar.
Quando os pássaros começaram a cantar anunciando um novo dia, eu levantei da cama, preparando-me para a viagem.
Desci as escadas, fui até a cozinha e tomei um chá. Estava sem fome.
Tomei um banho, troquei de roupa, amarrei o cabelo e peguei um livro para me ocupar na viagem.
Então fui até o quarto do meu pai. Tentei não chorar em meio aquela despedida, mas foi impossível. Lembro-me dessa conversa com a mesma intensidade com que lembro a última de minha mãe.
Meu pai estava dormindo calmamente. Parecia um anjinho. Me aproximei da cama e segurei sua mão.
— Pai? — Sussurrei.
Seus olhos foram abrindo lentamente até que eu entrei em seu campo de visão.
— Bela?
— Sim, sou eu. — Dei um sorriso triste.
— Você... Já vai?
Seu rosto assumiu uma expressão triste.
— Sim. — Deixei uma lágrima escapar — Pai, eu sei que você não concorda com isso, mas eu estou fazendo porque te amo, okay?
Meu pai se sentou e me puxou para um abraço. Eu pude sentir tudo o que ele queria comunicar mesmo sem palavras. Carinho, gratidão, um pouco de raiva por eu fazer algo tão idiota. Me senti uma garotinha outra vez. Uma garotinha que chorava em seu colo e lamentava a perda da mãe. Aquela garotinha havia crescido, mas não havia deixado de amar seu pai. Ali ela faria um sacrifício que mudaria a sua vida pra sempre. Para o bem ou para o mal, ali ela fazia uma escolha.
Sem que eu pudesse evitar, lágrimas irromperam de meus olhos. Agarrei-me mais a ele, enquanto botava pra fora palavras a muito tempo entaladas na garganta.
— Porque, pai? Eu não entendo.
— Tudo bem. Pode chorar, eu estou aqui.
Certa vez li em um livro uma frase que com certeza exemplifica o que eu vivia ali. A frase era a seguinte:
"Dizem por aí que crescer ajuda, pois com o amadurecimento vem a serenidade para analisar cada fato com a frieza de quem não está vivendo. Pode ser. Mas só para alguns. Outros vão sempre sentir, não importa a idade que tenham."

Beast Onde histórias criam vida. Descubra agora