Capítulo 03

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O dia em que a relação entre o Porteiro Igor e eu mudou foi muito ruim pra mim. Parece que eu acordei com o pé esquerdo, sabe?! Todos nós temos aquele - ou aqueles - dias em que tudo o que fazemos dá errado. Esse dia foi o meu.

Eu acordei tarde. Normalmente eu acordo às 6h30, para dar tempo de estar pronto às 8h20, e chegar na Empresa vinte minutos mais tarde. Mas eu despertei às 7h50. Acho que tomei um choque elétrico quando vi as horas. Corri o mais rápido que pude para o chuveiro, mas aí bati o meu dedo mindinho na quina da porta do banheiro. Quem já passou por isso sabe a dor que senti.

O banho que tomei tava mais para banho de gato. Me vesti com qualquer roupa que encontrei pelo caminho e saí apressado de casa. Meu Deus! Olhei o relógio e vi que era 8h24. Estou super atrasado! Eu corri tanto, mais tanto, que me sentia como um atleta numa corrida com obstáculos, quase um Usain Bolt.

Quando cheguei na empresa eram 8h43. Eu ainda tinha dois minutos para passar pela portaria, chegar até a Operação, iniciar a máquina e bater o meu ponto. Quando coloco as mãos no bolso, "Cadê o meu crachá?" MERDA!!! Eu exclamei isso enquanto remexia minha pasta igual a um condenado. Quando eu encontrei o danado, escondido dentro de um dos compartimentos internos da minha pasta, faltava um minuto para bater o meu ponto.

Eu passei pela portaria e corri para o prédio da Operação em menos de um minuto. Meus batimentos cardíacos estavam acelerados e minha respiração, ofegante. Sentei na minha posição, atendi normalmente até o horário do almoço.

Onze e meia, eu fui pra pausa refeição. Fui pra fila dos microondas para esquentar o meu almoço. Mas adivinhem: a minha marmita não estava na minha sacola. MERDA! Na pressa de chegar a tempo no trabalho, eu deixei o pote com minha comida em cima da mesa. Só me resta comprar comida fora da empresa.

Ao sair da empresa eu via várias pessoas vendendo almoço. Fui olhando as opções, mas nenhuma opção me agradava. Então peguei o almoço mais simples: feijão preto, macarrão e frango assado. "Comível", pensei.

Esse processo me custou metade do meu tempo de pausa refeição. Voltei correndo pra empresa para comer aquilo logo. Cheguei na catraca, e de novo, "Cadê o meu crachá?". EU MEREÇO!!! Lá fui eu novamente remexer na minha sacola e encontrar o meu passe em um outro compartimento da minha pasta. Tá parecendo até um dejavù. E lá se foram mais três minutos.

Passei pela catraca rapidamente e me dirigi até o "giga", o espaço para almoço e passatempo dos operadores. Quando ia passar pela porta, eu escuto alguém dizendo "EI! Ei você!". Quando me viro pra trás, eu o vejo. O meu colírio de terno e gravata, o Meu Porteiro.

IGOR: Ei, jovem. Você deixou cair isso!

E ele balançava no ar um saquinho com o garfo e faca de plástico e alguns guardanapos, parte do almoço que comprei. Provavelmente eles caíram no momento que eu passei correndo pela portaria.

Então eu voltei quase correndo até onde o porteiro estava para pegar os talheres. Confesso que estava meio sem jeito para me aproximar dele. Qual é?! O cara é lindo, gostoso, com uma mala enorme no meio das pernas e eu sou caidinho por ele, e tenho de aproximar dele por segundos. Estava todo arrepiado até...

EU: Obrigado, - disse após ter pego o saquinho da mão dele.

IGOR: Por nada. Cuidado na próxima vez! - disse com um sorriso no rosto.

No mesmo momento que eu fui olhar o seu sorriso meus olhos se prendeu ao seu olhar. Eu me senti meio que hipnotizado, me peguei admirando o seu rosto, tentando entender o que a combinação do seu olhar, sorriso e expressão facial queriam dizer pra mim.

O porteiro da EmpresaOnde histórias criam vida. Descubra agora