Oito e quarenta. Estou em frente ao prédio aonde trabalho. Há um ano exatamente, eu entrei nessa empresa para trabalhar como operador de telemarketing. Se me perguntar se eu gosto de trabalhar aqui, eu direi "não, não gosto", mas é daqui que sai o dinheiro para pagar minhas faturas.
Acredito que minha opinião é compartilhada com milhares de jovens - e outros não tão jovens - que adentram a esse prédio. Muitos aqui tem contas pra pagar, famílias pra sustentar, mensalidades para quitar... As razões para estarmos ali são muitas. A minha era para pagar o cartão de crédito.
Bem, eu me chamo Luís Carlos, tenho 23 anos, gordinho "proporcional", meio nerd, meio bobão. Eu tenho um coração enorme, sou fácil de fazer amizades, mas tenho um defeito: sou teimoso. Vocês me conhecerão melhor ao acompanhar a minha história. Esse sou eu, e sejam bem-vindos à minha vida de Operador de Telemarketing!
Normalmente eu passo pela catraca, que fica na portaria, e me dirijo até a Operação - o local aonde os operadores entram pra trabalhar -, bato meu ponto eletrônico e começo a atender os clientes. Mas hoje algo me prende a atenção. Eu passava pela catraca que estava bem próxima ao porteiro. E ao passar por ele foi que eu notei algo. Aliás era impossível não notar: a "mala" do homem. Parecia uma bola de tênis dentro daquela calça tamanho "M". UAU! Dava pra ver que o cara não estava excitado, mas aquele volume...
Eu devo ter ficado admirando por bastante tempo porque quando eu subi a vista, o tal porteiro estava me olhando. Pense na cor vermelha do tomate, assim meu rosto estava. Eu me apressei em sair dali. Fui quase correndo para a minha Operação, mas aquela "mala" não saía da minha cabeça.
Só para constar: eu sou bissexual, já namorei mulheres antes mas atualmente sinto tesão em homens.
ERICA: Quase você bate o ponto tarde!
EU: Bom dia pra você também, Érica!
Érica era uma das minhas amizades dentro da empresa. Ficamos bem amigos porque eu a ajudava com procedimentos no sistema, já que eu conhecia bastante do sistema de vendas da empresa.
ERICA: Sabe, Luiz, advinha o que eu ganhei hoje?
EU: O quê?
ERICA: Um ovo de chocolate! - e ela me mostra a guloseima.
EU: Puxa, esse ovo é de marca. Humm... Deixa eu adivinhar, foi o Fausto que te deu?
Fausto é um colega de equipe que era caidinho pela Érica. Ele luta artes marciais e gosta do mundo do sobrenatural. Às vezes eu tenho medo dele, ele se comporta como um psicopata, mas no geral ele é bem legal.
ERICA: Foi... - risos- ele não é um doce?
EU: Eu sei bem o doce que ele quer de você em troca... AI! - Érica me deu um tapa na cabeça.
ERICA: Se feche, Luís!
E então fomos trabalhar. A operação trabalha seis horas e vinte por dia, e temos direito a três pausas, sendo duas de 10 minutos e uma, de vinte minutos para o lanche. Nessas pausas eu sempre dava um jeito de passar pela portaria para poder vê-lo.
Ele era a minha definição de "Meu Ébano": homem baixo - mas não muito - corpo troncudo e pernas tipo "fino falso" - comparado com o tronco, as pernas pareciam finas, mas olhando de perto, você via que as coxas eram grossas e tinha uma panturrilha proporcional ao resto do corpo.
Aquele tom de preto igual ao do ator e modelo Rafael Zulu, rosto quadrado, cabelo cortado em padrão militar (corte tipo "Um" em baixo e "dois" em cima), o rosto parece que nunca teve um enrugamento. Ele era lindo! Ahh...
O que ele tinha de lindo, entretanto, tinha de sério, formal, burocrático. Eu vi isso nesse mesmo dia, quando ia sair da empresa para comprar almoço barato nos arredores. Na hora que eu ia passar, duas operadoras passaram usando o mesmo crachá. Isso é proibido pela empresa, pois envolve questões de segurança dos funcionários dali. Eu não sei explicar com detalhes, mas todos foram instruídos no treinamento para trabalhar na empresa de que era proibido usar crachá de outro funcionário, como também emprestá-lo a terceiros.
O caso foi que ele flagrou as operadoras usando o mesmo crachá, mas as danadas se escafederam correndo, não deu para ele tentar prossegui-las, já que estava sozinho no posto e não poderia abandonar a posição. Eu ouvi ele dizer que elas iriam se ver com ele quando voltassem. Eu não fiquei pra saber o que o porteiro faria, porque meu tempo estava reduzido e ainda faltava almoçar.
Voltei para a Operação e fui atender os clientes. Dez minutos depois, eu olho para o corredor e quem passava? Ele, o porteiro da empresa! Todo sério, olhava de posição em posição procurando alguém. Olho para o outro corredor e vejo as operadoras que fugiram do porteiro, que se abaixaram na posição para não serem encontradas por ele.
Coitadas... Ele as encontrou e procurou o supervisor delas, e relatou o que tinha acontecido. Como o supervisor estava longe, eu não consegui ouvir o que eles conversaram. Pelo que eu vi, elas tomaram um belo de um esporro - bronca - e acho que nunca mais elas farão isso novamente.
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O porteiro da Empresa
Roman d'amourConta a história do Luís, um teleatendente que trabalha em uma grande empresa de telemarketing, que se apaixona pelo Igor, um porteiro (que faz função de segurança) dessa empresa. Para Luís, Igor é hétero e muito rígido mas tenta conquistar o coraç...