Capítulo 05 - Macarrão com queijo (parte 02)

295 34 0
                                    


Despertei um pouco tarde. A casa tava uma zona de tão desarrumado. E eu tinha meia hora para chegar ao trabalho, sendo desse tempo 15 minutos para o deslocamento. Eu tomei um banho - o mais rápido que pude - esquentei a comida e corri para o ponto de ônibus mais próximo.

Cheguei à empresa no horário limite, passei pelas catracas quase correndo e fui pra entrada da operação. Para adentrá-lo, era preciso passar o crachá no codin (leitor de cartões magnéticos iguais aos dos crachás). Mas ao procurá-lo no bolso, não o encontrei. 'Cadê o meu crachá?', pensei eu.

Eu não esqueci o crachá em casa pois eu eu o usei para passar pelas catracas... Espera - conclui nos meus pensamentos - meu crachá deve estar pela portaria. Voltei pra portaria avoado para encontrar esse maldito crachá. Tive que me agachar em certo momento para ver se havia caído no chão.

IGOR: Aham!

Eu voltei a atenção para o dono daquele pigarro. Era o Igor, o meu segurança gostoso, atrás de mim com os braços cruzados. Fiquei olhando pra ele por mais alguns segundos quando notei que estava "de quatro" no chão e com a minha bunda - que modéstia à parte, era grande e durinha - apontada pra ele. Fiquei tão sem graça por ter ficado naquela posição e ter me colocado em constrangimento.

Eu: Desculpa pela situação toda. - meu rosto corado confirmava a minha vergonha - estava procurando o meu crachá que deixei cair aqui no chão.

Igor: Ah, sei... Você fala disso aqui?

Ele tira do bolso da camisa social branca o meu crachá. Graças a Deus que ele achou.

Eu: Muito obrigado! - disse após receber de volta o meu crachá - ultimamente estou meio desastrado...

IGOR: Meio desastrado? Você é o cara mais desastrado que eu conheço.

Eu ri timidamente porque eu era o objeto de sua piada e por ver o homem sério como ele rindo de algo ou alguém. Era um feito realmente raro.

Eu olhei para o relógio que ficava na portaria e me dei conta que estava bastante atrasado. Então me levantei e saí em disparada em direção à Operação. Eu ouvi, entretanto, o porteiro gostoso dizer "Ele é uma figura".

Deu a hora da pausa lanche, mas que faço de pausa almoço , e fui me sentar nas cadeiras que ficam na área ao ar livre. Eu senti que alguém se sentou ao meu lado. Supus que era o Ricardo, já que normalmente almoçávamos juntos nesse horário, mas me enganei.

IGOR: Posso me sentar aqui contigo?

EU: Igor - fiquei surpreso- Claro. Sente-se. Só não repare muito nos meus modos. Tenho somente 20 minutos para comer.

IGOR: Nem ligo. Pode ficar tranquilo. Falando em comer, o que achou do meu macarrão com queijo? Diga se eu levo ou não levo jeito pra cozinha.

Eu: É... Tenho que reconhecer que você manda bem na cozinha. Acho apenas que você deveria colocar mais umas pitadas de sal.

IGOR? Hum-rum... Você parece ainda não acreditar em mim, né?!

EU: Não. Que é isso? Eu acredito em você.

IGOR: Mas não parece. Que dia você folga nessa semana?

EU: Eu vou folgar no domingo.

IGOR: Então, se você estiver disponível, você poderia ir lá em casa e eu poderei te provar por "A + B" que sou fera no fogão.

Espera um pouco: O Igor, o meu porteiro gostoso, está me convidando para passar um dia com ele, na CASA DELE?!?! Meu Deus! É muita sorte para eu desperdiçar.

EU: Com certeza! Estarei disponível.

Voltei a comer, duplamente feliz por estar na companhia do Igor e por ter um "encontro marcado" com o meu idolatrado porteiro. Ele me fez companhia durante toda a minha pausa. Ele me contou como aprendeu a cozinhar, e eu, sobre como a minha vida daria um roteiro para um filme de comédia.

EU: Sou tão desastrado, Igor, que nem sei como ainda estou de pé.

IGOR: Nem é! Isso te torna único e especial.

EU: Você acha? - fiquei vermelho com as palavras dele - Obrigado.

Acho que ele se deu conta do que falou porque Igor parou de rir e ficou olhando pro lado, ao invés de olhar para mim. Se eu não fizesse algo, a nossa aproximação iria morrer ali.

Ao olhar pra sala dele, eu percebi algo.

EU: Ei, aquela pelúcia rosa é o Jibak?

IGOR: Você conhece o Jibak?

EU: O espírito da Grande Criança de Primas? Com certeza! Eu assistia a Bucky na TV todos os dias!

IGOR: É sério?! Se eu te contar que queria ser uma Grande Criança quando era pequeno? Era um grande desejo meu.

EU: Eu acredito. E mais: eu tinha um caderno de ofício que eu desenhava todos os Espíritos dos Doze Mundos e a Torre Pontiaguda.

O Igor voltou a olhar pra mim com um sorriso travesso no rosto. Então o meu porteiro se levantou e eu fiz o mesmo. Ele foi até a estante e pegou a pelúcia.

IGOR: O Jibak minha mãe me deu de presente no dia do meu aniversário. Ela sabia que eu amava o anime, então no meu aniversário de sete anos, ela me deu ele de presente. - ele sorriu, olhando por alguns segundos para o objeto.

Em seguida eu me impressionei ao ver Igor chorando. Era estranho ver um homem daquele chorando. Na verdade, eu achei lindo vê-lo assim porque quem via o Igor na portaria da empresa todo sério e formal não imaginaria que ele choraria daquele jeito, todo dengoso, quase igual a uma criança.

O que me veio à mente para fazer, eu fiz: abri meus braços diante dele. Ele, ao perceber o meu gesto, se aproximou de mim e se entregou ao meu abraço. Senti calafrios e fiquei balançado ao estar ali, abraçado a um homenzarrão como ele, sentindo por ele um sentimento muito forte. É difícil dizer, era uma ternura com carinho com vontade de protegê-lo e ainda por cima vontade de percorrer todo o corpo dele com as minhas mãos.

Juro que fiquei tentado a me aproveitar da situação e tentar fazer uma safadeza, mas me estapeei mentalmente. Ele precisa de um amigo, não de um puto.

Nesse momento, justamente nesse momento, eu reconheci e aceitei pra mim mesmo este fato: eu estou apaixonado pelo Igor!

IGOR: Desculpa - disse o meu porteiro, após enxugar as lágrimas do seu rosto e se desfazer do abraço - O que era pra ser uma tarde de alegria acabou sendo um momento de chororô.

EU: Sem problemas! Eu até gostei de conhecer um lado seu que não esperava ver.

IGOR: Me perdoa por fazer um papel de besta?

EU: Nem precisa. Você, hoje, se tornou meu melhor amigo. Eu é que agradeço por me permitir conhecer você.

Igor me deu uma olhada que me arrepiou e me deixou mole.

IGOR: Certo, agora vamos deixar essa sofrência e vamos curtir a tarde.

Continuamos curtindo o dia juntos com o seu macarrão com queijo, que se seguiu com um bom churrasco e cerveja e um excelente bate-papo entre ele e eu. Pra mim essa tarde com Igor foi importantíssima. Eu tive a certeza do que eu sinto por ele e pude conhecer um lado do Igor que não conhecia e que foi bonito de ver.

Como tudo o que é bom, dura pouco...

EU: Bom Igor, eu tenho que ir embora agora. Amanhã tenho que trabalhar e acho que você também. Né?!

IGOR: É. Você tem razão. Obrigado por tudo e espero que nos encontremos mais vezes.

Nos despedimos com um aperto de mão que virou um abraço apertado. Sabe, eu achei que o Igor me beijaria ao invés de me abraçar. Cheguei mesmo a fechar os olhos e esperar os seus lábios tocarem os meus. Mas foi um apertado abraço. Gesto esse que me arrepiou, depois de sentir a sua respiração em meu cangote.

Fui pra casa me sentindo leve, tranquilo e sorrindo de felicidade.

O porteiro da EmpresaOnde histórias criam vida. Descubra agora