Capítulo 02

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Falta quase meia hora para terminar o meu turno de trabalho,  mas o ato do porteiro ainda repercutia nos momentos de conversa dos colegas operadores.

MARÍA: Gente,  o que foi aquilo?  O cara veio até a nossa operação, procurou as meninas e as dedurou para o Super.
ERICA: É, eu vi. Mas ele estava certo.  Quem mandou elas fazerem uma besteira delas sabendo que ele estaria ali?  Elas procuraram sarna pra ser coçar.
FAUSTO: Se fosse outro porteiro,  elas só pediria pro cara,  e ele liberaria.  Eu mesmo já consegui isso, mas com esse aí,  não tem conversa: ou é oito ou é oitenta!
EU: Mas ele é rígido assim mesmo,  gente?
ERICA: Se ele é rígido? Oxe, o que ele tem de gato,  ele tem de rígido.  Luis,  você ainda é novato aqui na operação. Eu tenho quase três anos trabalhando nessa operação, e aquele ali – se referindo ao porteiro dos meus sonhos – não brinca em serviço.  Ele nem da espaço pras meninas chegarem nele.  Algumas deram em cima dele, outras, só faltavam fazer sexo lá na portaria,  mas ele nem dá bola. 

Eu fiquei calado ouvindo tudo o que o pessoal falava. Ele era realmente um profissional, e isso realmente dificultaria qualquer tentativa minha de me aproximar dele. Mas não irei me entregar, ele valeria a pena todo o esforço que eu fizesse.

E no dia seguinte eu pus em prática algumas ideias pra fazer amizade com ele. Eu cheguei um pouco mais cedo na empresa e me dirigi a ele dizendo que havia pedido o crachá. Enquanto ele fazia os procedimentos,  eu tentei puxar assunto sobre futebol com ele, porém ele foi monosilábico comigo. Porteiro 1x0

Na segunda tentativa, eu o ofereci um cachorro quente do café da manhã que a equipe fez. Fui com meu melhor sorriso pra portaria e o encontrei ali,  parado parecendo uma estátua,  mas seus olhos estavam atentos,  olhando pra todos os lados.  Eu me aproximei dele e lhe entreguei o lanche,  dizendo que eu havia trazido-o pra ele.
Ele pegou o lanche, me olhou nos olhos e me respondeu que não queria e me devolveu o lanche. Eu fiquei desapontado, agradeci a ele pela “atenção”, e me afastei dele. 2x0 pro porteiro.

Quando olhei pro lado,  eu vi o outro segurança olhando pra mim. Percebi que ele queria o lanche que estava na minha mão.  Eu fui até ele é perguntei se ele queria o cachorro quente.  Com um sorriso, ele disse que queria.  Eu então o entreguei evento ficamos conversando um pouco.  Ele se chamava Ricardo,  trabalhava como segurança daqui há dois anos,  solteiro e fazia graduação como bombeiro civil.  O Ricardo era bem humorado,  todo falante e bem divertido. 

Conversa vai, conversa vem,  ele me falou sobre o meu porteiro gato. O nome dele era Igor,  era um dos porteiros mais antigos da empresa,  tem 30 anos, e era solteiro. Falou que ele era realmente certinho no seu trabalho como porteiro. Não dava margens pra erro e nem dava espaço pras meninas que davam em cima dele. 

Agradeci ao Ricardo e voltei pra operação.  Antes eu o admirei mais uma vez,  porque qualquer tentativa que eu desse pra me à aproximar dele seria em vão. 

Daquele dia em diante,  eu decidi não mais tentar dar em cima do Igor.  Tem coisas que nunca mudam. Se as mulheres dali não conseguiram nada com ele,  por que eu conseguiria,  né?!  Eu não deixei de o admirar. Se antes eu o admirava por ser gostoso, ter aquela pose de machão e ter aquela mala enorme no meio das pernas, agora eu também o admiro pela postura profissional que possui. Ele era um cara muito quieto,  observador e acho que a mulher que se casar com o porteiro será muito feliz.

Já que eu não tinha nenhuma chance com Igor,  eu acabei conquistando o outro porteiro,  o Ricardo.  A gente sempre se falava quando eu chegava na empresa,  sempre passava minha pausa descanso conversando e sempre almoçávamos junto. Ele era incrível e muito engraçado.

EU: Você é besta,  viu Ricardo...
RICARDO: Ah vá...  Foi engraçado ou não foi?
EU: O pior é que foi!  (risos)
RICARDO: Ah, lembrei de uma coisa – fiz um ”hum“  - Sabe quem perguntou por você hoje? – Fiz uma de que não sabia – O Igor!
EU: O Igor?
RICARDO: Sim,  o Igor.  Ele me perguntou por você hoje,  já que faz um tempo que você não aparece nas suas pausas dez. 

Então quer dizer que o porteiro notou minha ausência lá na portaria.  2x1 pra mim,  sem querer querendo.

EU: É verdade,  Ricardo.  Eu nem tive tempo,  esses dias está tão atarefado lá na Operação que nem me lembrei de passar por aqui. Desculpe-me.
RICARDO: Não precisa ser desculpar não.  Eu imaginava que você estivesse ocupado mesmo.  Pelo menos temos esse momento para passar juntos.
EU: Obrigado,  Ricardo.

Apesar dessa nossa aproximação,  eu nunca olhei com interesse pro Ricardo.  Meu coração só desejava o Igor,  e ninguém mais. Desejava beijar a boca dele,  pegar aquele volume e fazer loucuras com ele. Só que o jeito fechado dele me fazia perder o interesse nele aos poucos. Por mais que eu tentasse,  eu não conseguia chamar a atenção dele,  só agora ele deu um sinal de que me observa.

Bom,  continuei com a minha rotina de trabalho,  sem nenhuma novidade.  Até que um dia algo incomum nos faria aproximar um do outro.

O porteiro da EmpresaOnde histórias criam vida. Descubra agora