DEBILITADO - Livro 1 [COMPLETO] - Trilogia dos irmãos Amâncio

15 - INVESTIGANDO O BOMBADO (Norberto Jadir - 2ª Parte)

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Não me levem a mal! Gosto muito de Adriel e os irmãos, mas meu foco estava em outro lugar e eu não podia evitar. Isso podia ser interpretado como uma ironia do destino, visto que no tempo em que eu estava com Natalie, eu me concentrava mais nos estudos. Por certo eu descuidei de minha relação, mas eu ainda não estava convencido.

No dia seguinte ao ocorrido na piscina, no mesmo horário em que Natalie costumava estar na academia, estava eu, a poucos metros dela. Observei um instrutor se aproximar, o que fez com que Natalie diminuísse o ritmo na esteira e falasse com o mesmo enquanto continuava em atividade. Aquele instrutor não costumava estar por ali. Embora tivesse o perfil bombado, daqueles que possuem força muscular de braços suficientes para segurar um motor de carro com apenas um deles, mas que sentem dificuldades para pentear o cabelo – devido a amplitude de movimento de ombro necessária para a tarefa; ele não havia estado naquele setor da academia nos dias e horários em que eu estava. Ainda mais, o tempo poderia ter me paralisado, mas como já mencionei, ele estava veloz. Não sei precisar ao certo, mas eu já frequentava aquele lugar a pelo menos seis meses. Uau! Meio ano eu passei me concentrando nela...

Não dava para ouvir o que falavam de onde eu estava. As constantes vibrações dos aparelhos eram ensurdecedoras. Mas, percebi que conversaram durante um bom tempo e... Ele colocou a mão no ombro dela! Por que aquilo? Parei o movimento da ergométrica bruscamente e, como ela era automática, quase despenquei; porém, pouco me incomodei com esse fato. Queria saber mais a respeito do ocorrido.

O instrutor saiu deixando Natalie voltar a atividade na velocidade em que costumava trabalhar na esteira. Eu o segui, tropeçando um pouco devido ao excesso de pedaladas automáticas na ergométrica. Havia muita gente na academia naquele dia e eu quase o perdi de vista, mas observei que ele seguia para o setor das piscinas. Decidi ir até a recepção e encontrar a sempre amistosa Helena, não sei por que – e confesso nem me importar por agora, mas essa Helena parece se incomodar com o mundo e os que nele habitam.

Apressei o passo, sentindo que minha circulação sanguínea retornava a sua normalidade, e a interceptei:

- Boa tarde – sorri afavelmente a fim de convencê-la. Ela me encarou com um meio sorriso. Desejei-me força e prossegui: – Eu gostaria de fazer aulas de natação com um professor que... não sei bem o nome dele, mas ele estava no setor de musculação e equipamentos aeróbicos agora. Ele é todo bombado, deve ter uns 1,85 de altura, loiro e...

- Sim, eu sei quem é – respondeu cortando-me. – Haverá uma nova turma as terças e quintas, se quiser se inscrever, ainda temos vagas.

Fiquei aliviado! Ela não me perguntou sobre meu interesse em ter aulas com aquele instrutor específico. Helena gostava de vender o produto e parecia não se importar com a forma ou a causa pessoal de cada vítima... quero dizer, interessado!

- Aqui está a taxa de matrícula e a lista de material – disse-me estendo uma folha sulfite A5.

Paguei a taxa e a aquisição do material. Ela se pôs a datilografar as alterações do boleto bancário dos meus dados e em pouco tempo recebi a atualização em meu e-mail, percebido graças ao smartphone. O que é a tecnologia?...

- Aguardo-te semana que vem – disse com um sorriso breve enquanto me entregava o material pedido e um cartão com os dias, horários e outros dados.

Guardei rapidamente o cartão dentro do bolso da malha que eu usava e peguei o material deposto em uma mochila de plástico. Eu estava tão concentrado em me aproximar daquele sujeito e continuar minha árdua e lenta investigação que não me atentei aos dados que Helena colocara naquele cartão de aulas. Talvez, se o tivesse feito, teria conseguido evitar a tragédia que viria mais tarde...

Os dias se passaram rapidamente e eu já estava novamente fazendo a mesma bateria de estágio – Dermato Funcional. E o pessoal achava incrível que eu estava refazendo a área considerada mais relax. No entanto, era disso mesmo que eu precisava só que eu não tinha.

Por fora todos achavam que eu era um cômico, que era um sátiro que não levava a vida a sério - eu agradecia por assim pensarem! Eu não sou o tipo de pessoa que demonstra o que realmente sente e me sentia protegido por isso.

Seria a primeira aula com aquele instrutor. Procurei meu cartão de horário, mas não o encontrei. Provavelmente eu tinha esquecido no bolso da calça e que a máquina de lavar já dera fim a ele. No entanto, era irrelevante – eu podia frequentar as aulas sem aquele cartão-lembrete, pois havia um lembrete muito mais vívido para mim. Natalie não estava ali ainda, então, eu podia manter toda a minha atenção naquele instrutor.

Eu sei que essa minha atitude em 99,99% não me levará a nada de bom, mas eu sinto em mim que preciso prosseguir. Há tempos que não penso em mais nada! Também sei que posso estar me desviando do que realmente quero, que aquele professor de natação nada tem a ver com a Natalie e eu, mas algo me faz atentar a ele e foi assim que passei a agir. Eu tentava analisar o caráter dele pelo tom de voz, modo de se comportar com os alunos, modo como caminhava, piscava, movia as sobrancelhas, se trajava, se penteava... Eu estava ficando louco!

Interrompi meus pensamentos ao ouvir os comentários de duas garotas a respeito do mesmo. Quais eram os nomes delas?

- Eu ouvi falar que ele é gay – disse por cima do ombro delas sorrindo, uma delas virou e sorriu também. Lembrei-me da apresentação, seu nome é Estela. Quem sabe eu poderia conseguir aliados? Ah, até parece... Longe de mim esse tipo de pensamento! Ninguém, jamais, poderá saber de minha investigação amorosa! Por certo me internariam se soubessem...

***

Estela não é a única a se focar em algo mais do que em qualquer outro, aparentemente... Será que o foco de ambos - Estela e Jadir se chocarão? Não percam ao próximo capítulo a fim de descobrirmos mais a respeito.