Epílogo

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Louren

Quase quatro anos depois ainda assisto aos jornais com esperança. É como se eu soubesse que o rosto dele vai aparecer na televisão e então vão dizer que ele está livre e ele vai vir me encontrar como disse que faria, mas isso não vai acontecer.

Muita coisa mudou com o passar do tempo. Carla foi embora com Coll e os dois estão na universidade da Virgínia. Ela está cursando moda e ele faz Engenharia Metalúrgica. Nós sempre nos falamos pelo telefone ou por chamada de vídeo e nas férias eles vêm me visitar, mas não é a mesma coisa. Morro de saudades daquele casal clichê que sempre me deixava de vela. Quanto a Jona, ele também sempre me dá notícias. Vive me ligando aos finais de semanda ou me mandando e-mails contando algumas novidades, até cartas ele me envia. Em dezembro do ano passado recebi um cartão de natal seu e na foto estavam ele, a esposa e o pequeno Joe. Isso mesmo, ele teve um filho. Um menino lindo.

E eu estou cuidando da minha lanchonete. Depois que Carla foi embora, tive que contratar novos funcionários e ainda bem que encontrei duas pessoas incríveis; Wes e Hailey. Wes tem uns 17 anos e é muito dedicado no que faz, já Hailey me faz lembrar da antiga Louren. Ela é meio maluquinha, mas é uma boa garota. Os dois me ajudam muito por aqui, por isso não tenho do que reclamar.

Quanto a minha vida amorosa, eu conheci um cara legal já faz um tempo. Esbarrei meu carrinho de compras com o dele no corredor de doces no supermercado e ele pegou meu telefone. Nós saímos algumas vezes, fomos ao cinema, jantamos em alguns lugares chiques e decidi dar uma chance ao meu coração.

Quando Dick me pediu para deixá-lo naquela cabana, me fechei para o mundo. Fiquei muito tempo sem ter alguém do meu lado e me tornei uma pessoa solitária, porque eu queria o Dick. Só ele. E eu nunca o esqueci. Porém, Brad apareceu na minha vida e eu me deixei levar. Namoramos por seis meses e só então fui para a cama com ele. Foi um relacionamento bom, saudável e isso me amadureceu muito, depois ele quis levar as coisas mais a sério e em uma bela manhã, acordei e lá estava um anel de noivado ao lado do despertador.

Eu não aceitei o anel.

Pode me chamar de burra ou de qualquer outra coisa parecida, mas eu não sentia que estava indo pelo caminho certo e então nós terminamos. Eu terminei para ser exata. Sei que poderia estar casada agora, quem sabe já esperando um bebê ou tentando ter um, com uma casa boa, um marido que me amasse e uma vida digna, mas não era certo fazer isso com Brad, porque não sou a mulher para ele. E desde então não tenho mais procurado estar com alguém, nem me imagino em um novo relacionamento. Sou só eu.

Sabe, quando digo que as coisas realmente mudaram, estou falando sério. Nem dá para acreditar que ainda continuo loira, gostei mesmo da cor, algo que imaginei nunca admitir, e meu cabelo está mais curto agora, emoldando meu rosto. Mas confesso que no fundo ainda tenho medo da polícia bater na minha porta e me levar para a cadeia, só não quero acreditar que essa é a verdadeira razão para continuar com esse visual.

As mudanças não pararam por aí. Também mandei que fizessem uma reforma na minha casa e tudo está melhor naquele lugar. Mandei pintar as paredes, troquei a madeira velha do piso e troquei a maioria dos móveis. Agora sim posso entrar pela porta da frente depois de um dia cansativo de trabalho e dizer:

- Lar, doce lar.

Ah, tem outra coisa; não fumo mais como antes. Às vezes até esqueço que já fumei. Quase não compro cigarro, sempre que penso em comprar uma carteira acho que é um gasto de dinheiro desnecessário e compro uma barra de chocolate. Isso sim, é um dinheiro bem gasto. E falando em comida, eu também aprendi a cozinhar muito bem. Antes, tudo que sabia fazer era hambúrguer, mas depois que me tornei dona de uma lanchonete tive que aprender. Sou uma cozinheira de mão cheia agora e o pai de Carla adora quando vou lhe visitar e levo para ele torta de frango ou bolo de chocolate. Ele não me acha mais tão mal educada.

Estou levando uma boa vida agora e de vez em quando dirijo a camionete do Dick só para pensar nele. Coloco os CDs que ele gostava e dirijo por aí. A camionete é uma lembrança boa de Dick e eu cuido muito bem daquela princesa.

- Lou, eu posso sair mais cedo hoje? - Hailey se aproxima de mim, já tirando o avental e me entregando. - Tenho uma festa pra ir. Wes pode cobrir meu turno.

- Hailey, outra festa? - cruzo os braços.

- Qual é, Lou! Parece minha mãe falando. - ri. - Você deveria vir comigo.

- Eu não vou, não - digo, cansada. - Já passei dessa fase.

- Você tem 50 anos por acaso? - põe as mãos na cintura.

Ela é mesmo uma versão moderna da antiga Louren.

- Não. Tenho 23 e preciso cuidar da lanchonete. - respondo. - Mas você pode sair mais cedo.

- Valeu. - ela se pendura em meu pescoço e beija minha bochecha. - Te vejo depois.

Hailey sai correndo e Wes vem até mim.

- Sobrou para mim cobrir o turno dela, não é?

- Sim. - digo e ele resmunga. - Wes, preciso que ligue para o fornecedor de carne e peça para que ele venha amanhã, tá legal?

- Pode deixar, dona Lou. - ele vai para a cozinha.

Dona Lou. Que coisa.

Enquanto Wes está na cozinha, decido cuidar das mesas. Coloco o avental de Hailey e é como se eu estivesse voltando no tempo. Escuto a porta se abrindo, anunciando com um sininho a chegada de um cliente e vou atendê-lo, pegando o bloco de notas e uma caneta no bolso do avental, mas derrubo tudo no chão quando o encaro e o vejo sentado a uma das mesas.

Ele tirou os alargadores das orelhas e o piercing da sobrancelha, além disso o cabelo está mais curto, mas o sorriso é o mesmo. Tem uma nova tatuagem no seu braço, outra fênix. Eu também tatuei uma fênix há um tempo, fiz uma na nuca. Quis tatuar porque, como ele me disse uma vez, a fênix significa renascimento e eu renasci.

- Oi, Lou. - Dick me tira dos meus pensamentos e só então percebo que estou parada na sua frente como uma idiota. - Eu disse que ia te encontrar, não disse?

Enxugo as lágrimas que escorrem por minhas bochechas e ele segura a minha mão que permanece ao lado do meu corpo.

- Você ficou tão linda loira. - diz e eu soluço. - Mas não acredito que você ainda usa essas botas de cowboy. - ele ri olhando para meus pés e não sei se rio também ou se choro mais. - Eu esqueci de te dizer uma coisa naquele dia na cabana.

- O... quê? - enfim consigo falar. - O que você esqueceu de dizer?

- Que eu te amo. - se levanta. Tinha esquecido do quão alto ele é.

Eu o abraço e Dick envolve minha cintura, afundando o rosto em meu pescoço. Pela primeira vez em quatro anos, respiro aliviada por saber que estou em seus braços novamente.

- Eu te amo. - me afasto, segurando seu rosto com as mãos e o fazendo olhar para mim.

Dick aproxima os lábios dos meus e retribuo seu beijo na mesma hora com uma urgência desesperada. É como se eu ansiasse por esse momento há muito tempo e isso meio que é verdade. Eu esperava por sua volta todos os dias.

- Eu vou ficar, garota. - fala com os lábios próximo aos meus. - Mas só se você quiser, é claro.

- Eu quero, Dick. - sorrio e volto a beijá-lo.

Então nós ficamos assim; nos beijando no meio de uma lanchonete cheia de gente.

Mas por incrível que pareça, é como se todo mundo sumisse e somente nós estivéssemos aqui.

Fim.

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