À Prova de Fogo

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Charmander pulou da bancada em minha direção, olhou para cima e gritou. Acho que para Pidgey.

- Você quer batalhar? - Perguntei.

Charmander balançou a cabeça negativamente. - Char! - Gritou sorrindo.

- Ele quer brincar, Barry. Ele só quer brincar com o Pidgey. - Disse o professor com ar de cansaço. - Esse charmander nunca batalhou.. Por isso seus donos sempre devolvem ele. E as brincadeiras as vezes passam dos limites, como agora...

- Tudo bem professor... O que você acha amigão?

Pidgey me olhou, levantou e pulou do meu ombro para o chão. Ficou olhando para Charmander que fazia estripulias com os papéis que derrubou no chão. O fogo em sua calda estava alto e forte, vívido como uma fogueira recém acesa. Parece que meu amigo decidiu ir pulando atrás dele só pra garantir que não passaria dos limites. Acho que percebeu qual era a de Charmander e se sentiu como um tutor: entediado, atento e incansável. Charmander se dava por satisfeito apenas com a presença de Pidgey e continuou sua bagunça de felicidade.

- Ele foi abandonado e está feliz assim?

- É.. Ele sempre está feliz... É dele mesmo, sabe? O seu primeiro treinador chegou a chutá-lo num acesso de raiva. Ele ficou triste e enraivecido. Mas no momento em que o rapaz o entregou a mim, eu o acariciei, tratei da mancha que ficara do chute e o pus no jardim atrás do laboratório. Quando voltei ele estava correndo de um Bellsprout, feliz da vida e gritando "chaaaaar" pra lá e pra cá. Rimos imaginando a cena.

Mas minha curiosidade foi maior e tornei a perguntar. - O senhor não fez nada com o treinador!?

- Bem... Ele me disse que foi numa batalha, que Charmander foi chutado por um Machop muito forte e ficou com o machucado. Como poderia dizer o contrário? Mas ainda o questionei até ele me contar a verdade. Aí o suspendi por um ano e Pedi sua Pokedex de volta.

- E o que aconteceu depois?

- Bem... Há dez meses que ninguém o vê. - Disse o professor baixando a cabeça, triste. - Três meses após o início da punição ele desapareceu e nunca mais fora visto. E a mãe dele ainda me culpa. Eu tento explicar que todos os pokemons dele que eu avaliei estavam para lá de machucados, com cortes, manchas esverdeadas... Pensei até em cancelar a licença dele por definitivo, mas sua mãe veio até mim, chorando, me pedindo que não o fizesse. Não fiz, e um mês depois ele sumiu.

- Nossa, professor, que história triste.

Agora entendo porque ele insiste comigo. Teme perder a mim também - pensei.

- É... Muito triste. - Disse, apoiado à mesa de onde Charmander pulara. - Mas bem, onde estão aqueles dois pestinhas?

Quando saímos para o quintal atrás da casa, Charmander e Pidgey pareciam estar numa conversa séria, gritando seus nomes um para o outro, Pidgey sempre com ar de professor, Charmander sempre como uma criança estabanada e curiosa. Quando nos viram sorriram e vieram até nós. Pidgey subiu para o meu ombro novamente e eu me agachei e acariciei Charmander que por sua vez fechou os olhos com um semblante de alegria.

- Você é um carinha legal, sabia?

Professor Carvalho observava tudo.

- Humm... Barry?

- Sobre a pesquisa da qual havia comentado antes... O que você acha?

- Do que o senhor precisa? - disse sorrindo.

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