Capítulo 3 - Voltando para Casa

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The rest of the world
Was black and white

Capítulo 3
Voltando para Casa

Em uma cidade tão pequena quanto Rosedale, todo mundo se conhece e estuda junto praticamente a vida inteira. Eu mesma conheci Max Warner quando estava na primeira série e não queria entrar na sala de aula, chorando sem parar com medo de me afastar da minha mãe. Ele não se lembrava disso, nem devia ter pensado muito no assunto, senão provavelmente teria aproveitado para jogar na minha cara durante o colegial. Mas ele estava lá na sala de aula, sentado duas carteiras na frente de onde eu fui forçada a ficar, com seu cabelo loiro claro e seus olhos de cores diferentes.

Do lado dele, estava Tony. Mas tinha que admitir que nem o percebi direito naquele dia.

E que, talvez até eu fazer uns doze anos, também dei atenção demais a Max, como todos os outros alunos da nossa escola.

Com seus olhos exóticos e um corpo bem maior do que a maioria dos garotos da nossa idade, ele logo foi colocado em três times de esportes diferentes, em mil fotos pelos corredores da escola e em todas as entrevistas que o jornal local fazia no volta às aulas. Ele virou o típico clichê colegial, mas, até o pior dia da minha vida, era teoricamente inofensivo.

Quer dizer, ignorar nós meros mortais só tinha me feito parar de me importar com ele e só o achar fútil e desnecessário. Cruel foi algo que ele se mostrou depois.

Era no dia seguinte ao meu aniversário do primeiro ano do colegial. Eu tinha ganhado uma saia linda e enorme de tule da Leanne, que ela mesma tinha feito e costurado, e combinei com uma jaqueta jeans customizada. Tinha me demorado quase seis meses juntando dinheiro para comprar os patches para costurar nela - e os repor, depois de queimar os primeiros, - e eu estava orgulhosa.

Nunca fui muito contra minha própria aparência, mas tampouco já tinha me sentido realmente bonita.

Eu me sentia naquele dia. Minha saia, minha jaqueta, as várias pulseiras coloridas em meu braço e, talvez esse tenha sido meu maior erro, maquiagem.

Quando esbarrei nele no refeitório, Max pareceu ter levado um choque. Nunca admitiria isso nem para mim mesma, mas tinha certa esperança de que me notasse de verdade, que também me achasse bonita. Se ele era o clichê de atleta do colegial, eu era a excluída que queria ser bonita e vista por ele.

Depois daquele dia, só queria ser invisível outra vez.

Ele riu. Ao invés de me admirar, ele riu. Disse em alto e bom tom como era patético eu tentar passar maquiagem, como tinha batom nos meus dentes enormes que eu nunca conseguia manter dentro da boca. E sua namorada, Lilian, ajudou.

Ainda posso ouvir sua risada ecoando pelo refeitório, sua mão puxando minha saia para debochar ainda mais dela, e Max ao seu lado, chamando mais atenção ainda dos outros alunos. Perguntou se eu tinha perdido uma aposta, se eu realmente achava que estava bonita, como eu poderia me achar bonita?

Por que ele não pôde simplesmente me ignorar?

Talvez o mais dolorido tenha sido ver os olhos de Tony atrás dele. Não ria junto, mas tampouco me defendia. Tampouco o reprendia. E, no ano anterior, eu tinha chegado a pensar que Tony era legal, que só estava em má companhia e sempre tinha sido amigo de Max, por isso ainda era. O pequeno encanto que eu vinha criando por ele infelizmente não se desfez e, mesmo agora, uma década depois, ainda me peguei questionando onde ele estaria, se eu o veria.

Max estava praticamente igual quando entrou no meu quarto de hospital. Loiro ainda, só mais escuro, e um olho azul, outro levemente castanho. Ele estava ainda maior que antes, tão grande que seria estranho ter que tocá-lo. Mas tinha se tornado absolutamente tudo que qualquer pessoa poderia prever que se tornaria.

Uma década em uma noite  [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora