Capítulo 3 - Meu amigo lobisomem

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Dessa vez eu fui primeiro e Lupin veio logo depois com o caldeirão cheio de Wolfsbane. Ele quase caiu em cima de mim porque eu não tinha saído de perto da lareira quando cheguei. Estávamos na mesma casa ao pé da colina de onde nossa viagem começou pela manhã, mas aparentemente não estávamos mais sozinhos.

Coloquei os dedos sobre os lábios quando ele fez menção de reclamar por eu não ter saído da frente e indiquei o cômodo adjacente de onde vinha barulho de passos. Com medo de sermos descobertos saímos engatinhando em direção à porta dos fundos tentando não fazer barulho. Lupin esticava a mão para girar a maçaneta quando uma voz nos assustou.

— Quem são vocês? — Um homem alto de barba e bigode que usava um chapéu preto e pontudo estava parado bem atrás de nós.

— Corre! — Lupin gritou saindo em disparada para o quintal dos fundos comigo seguindo de perto.

O homem correu atrás da gente, mas ficou desconcertado quando não nos encontrou no quintal. Remus tinha lançado um feitiço de camuflagem em nós dois e no momento nos confundíamos com algumas árvores em volta da casa.

— Moleques! — Ele esbravejou antes de entrar e bater à porta.

Respirei aliviada. Consegui encontrar com custo os olhos de Remus camuflados entre as folhas e senti que trocamos um sorriso, apesar de não conseguir visualizar. Passado o perigo saímos dali e voltamos para onde a vassoura havia ficado escondida horas mais cedo.

— Pilota isso com mais cuidado — pedi a ele montando na vassoura. — Agora só posso te segurar com uma mão.

Não sei se Lupin realmente foi mais devagar ou se eu já tinha me acostumado o suficiente para conseguir aproveitar a viagem, mas diferente do que senti pela manhã, o voo de vassoura foi mais um sonho realizado para alguém que nunca tinha sequer entrado em um avião. Era uma sensação muito boa de liberdade.

— Então agora você tem um pai e um irmão lobisomem. — Lupin comentou desviando de algumas árvores enquanto subíamos a colina. Eu precisei contar para ele a história que havia inventado enquanto o levava para dentro da casa do senhor Belby para usar a lareira.

— Família completa, viu só! — Repousei meu queixo sobre o ombro esquerdo dele.

Eu me sentia muito bem ao lado dele. Sabia que Lupin me considerava uma estranha, mas já fazia tantos anos que eu conhecia sua história que para mim é como se ele fosse realmente da família. Não conseguia evitar a proximidade e o carinho com ele. Sempre foi meu personagem preferido, e agora era meu amigo. Lupin baixou a vassoura devagar para que eu descesse quando chegamos de volta à cabana dele.

— Malfeito feito — disse.

Ele apenas sorriu.

Quando entramos, coloquei o caldeirão sobre a mesa. Eu o destampei com cuidado e percebi que o líquido estava fumegante. Lupin olhava dele para mim e de volta para o líquido.

— Quando é a lua cheia?

— Falta uma semana...

— Então você precisa começar a beber hoje.

Lupin pegou um cálice no armário, mergulhou no caldeirão e bebeu o conteúdo de uma vez só. Eu achei que ele fosse cair no chão quando dobrou o corpo ao meio e soltou um grito comprimindo o estômago. Fiquei com medo de que a poção acabasse fazendo mal a ele.

— Você está bem? — perguntei aflita.

— Isso tem um gosto horrível! — Ele olhou para mim fazendo uma careta.

Eu sorri aliviada e ele correspondeu o gesto.

— Nem pense em colocar açúcar, viu. Corta o efeito — disse enquanto ele tampava o caldeirão e o guardava dentro do armário.

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