Capítulo X

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- Então, o Orgulho é um filho da Ignorância com a Inteligência? - Jeo perguntou para si mesma, admirada pela história, sem esperar uma resposta.

- Sim, por quê? Você já o conhecia? - Vitalidade perguntou.

- Não... - ela deu uma risadinha - E faz quanto tempo que isso aconteceu?

- Foi na mesma época que a Amor estava com o Egoísmo - Essência respondeu.

- Aaaah, sim... E a Ignorância? Ela nunca foi atrás do filho mesmo? O que aconteceu com ela?

- Ela é muito ignorante, não consigo entender - disse Vitalidade observando as dunas verdes.

- É... Certo - Jeo concordou ironicamente.

- Ela sempre teve opiniões diferentes. E bom, não existe nem certo e nem errado, né? - Essência piscou para Jeo.

- É...

- Maaaaaas – ele levantou o dedo indicador e continuou - tem uma pequena história, sobre algo que aconteceu depois disso...

Depois de dar a luz ao Orgulho, e abandonar o Rebeldia e o Inocência, o Egoísmo e a Ignorância tiveram seus caminhos cruzados.

O Egoísmo estava vivendo em uma caverna, ele adorava sair, só não fazia mais amizades, e tentava não se envolver com ninguém, mas cuidava muito de si mesmo.

A Ignorância vivia também em uma caverna, mas ela tentava evitar todo contato com qualquer pessoa.

Um dia, o Egoísmo estava andando pelo bosque sem rumo, e depois de uma longa caminhada viu uma bela moça em uma caverna, que ficava no extremo oeste do bosque. A aparência dela o chamou muito sua atenção, logo, ele foi puxar assunto com ela:

- Olá? - ele disse entrando na caverna.

- Oi - ela respondeu sem nem olhar em seu rosto.

- Tudo bem?

Ela hesitou, mas respondeu:

- Sim...

- Tem certeza? - ele perguntou.

- Não...

- O que aconteceu? - ele se sentou ao lado dela.

- Nada, não interessa. Se importa de sair da minha caverna? - ela continuou olhando para o outro lado.

- Mas o que faz uma garota linda como você se isolar assim?

Ignorância finalmente olhou para o rosto do Egoísmo, e não achou nada mal - ela até que gostava de rapazes com a pele mais escura.

- Não, sei. Não quero saber, não te interessa – ela disse.

O Egoísmo parou de olhar para ela e ficou encarando o pouco do céu que dava pra ver dali de dentro.

- Qual seu nome? - ele perguntou.

- Ignorância.

- Que belo nome. Prazer, sou o Egoísmo.

- Ah.

- E... Você já está aqui sozinha a quanto tempo?

- Desde quando eu desisti do meu antigo relacionamento...

- Sério? - ele perguntou estranhamente animado - eu também desisti do meu antigo relacionamento.

- Sério? - ela estranhamente se interessou pelo assunto - que legal...

Os dois conversaram e conversaram, e de alguma maneira, os começaram a se gostar.

O Egoísmo passou a visitar a Ignorância mais vezes, e visitas cada vez mais longas. Quanto mais o tempo passava, mais um sentia a falta do outro. Até que o Egoísmo decidiu que iria morar na mesma caverna que a Ignorância, e assim ele fez... O relacionamento dos dois cresceu e a Ignorância ficou grávida.

O Egoísmo não gostou muito da idéia de ser pai novamente, e a Ignorância não ajudava muito, ela ficou mais estúpida do que quando ficou grávida da primeira vez.

A barriga da Ignorância crescia, a hora de dar a luz se aproximava, e os dois estavam insatisfeitos. O Egoísmo estava se lamentando em pensamento por ter desistido da Amor, e pensava em fugir. Enquanto isso, a Ignorância já planejava o que faria quando a criança nascesse, a mesma coisa que ela fez da última vez, fugiria para alguma caverna escondida e deixaria a criança lá.

Um dia, Ignorância acordou com vontade de comer amoras com pimenta, ela acordou o Egoísmo, e pediu para ele ir buscá-las, que em respeito de não decepcionar uma mulher grávida, foi em busca. Esse dia, Egoísmo sentiu coisas estranhas, o único lugar em que ele encontrou pimentas foi em uma floresta, onde ele costumava encontrar a Amor, ciclos atrás. Foi um momento de nostalgia profunda. Ele pegou as pimentas, foi em busca das amoras, e trouxe-as para sua nova mulher.

- Egoísmo, você me ama? - Ignorância perguntou sem querer, passando a mão sobre sua barriga.

Egoísmo apenas entregou as amoras e as pimentas, e ficou na porta da caverna olhando a paisagem. Apesar disso, foi a primeira vez no período de gestação que a Ignorância não estava agindo com estupidez. Nesse momento, ela percebeu que seu relacionamento não seria mais o mesmo, definitivamente.

- Egoísmo - ela tentou com todo carinho possível.

- Ter um relacionamento não é simples, não é só fazer amor e ficar pedindo pra eu buscar comida. Desde que você ficou grávida, você não consegue concordar comigo nem em ir fazer um simples passeio no bosque - ele disse - Desde que você ficou grávida... - ele sussurrou para si mesmo.

Sinto falta da Amor - ele pensou.

- Ego... - ela tentou, mas foi interrompida por uma dor na barriga.

- O que foi? - ele exclamou e virou de costas. Ignorância tinha caído no chão. Egoísmo correu para levantá-la. Sua bolsa tinha acabado de estourar.

Apesar de estar decidido a fugir, Egoísmo ficou até o fim do parto, que foi meio difícil para a Ignorância.

Ele segurou as mãos da Ignorância e deu toda a força e apoio possível, ela gritava de dor e achava que poderia perder o bebê. Sem pensar muito bem, além do apoio físico, o Egoísmo disse muitas palavras lindas a ela durante o parto "eu te amo" foi uma delas.

Tudo deu certo... A criança nasceu. O choro do bebê arranhava todos os pensamentos ruins que os pais tiveram... Nenhum deles teve coragem de fugir... Eles deram o nome do bebê de Futilidade, e o educaram... como uma família!

O Bosque da Natureza HumanaOnde histórias criam vida. Descubra agora