Capítulo XII

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Era uma vez... Antes de muita coisa...

Antes disso tudo... Uma garotinha de cabelos vermelhos, que usava sempre vestidos longos e dourados, sapatilhas verdes, e tinha os olhos mais azuis de todo o mundo. Esta adorava passear pelo espaço, dançar sobre as galáxias, mergulhar nas nebulosas, observar planetas se transformando em buracos negros, meteoros, e outros astros perdidos pelo cosmos.

Em um de seus passeios, enquanto observava o nascimento de uma gigante vermelha, a bela garota dos cabelos flamejantes foi surpreendida por um garoto. Este era careca, tinha as sobrancelhas bem desenhadas, olhos rosas, estava descalço, e usava um longo capuz negro.

- A paz... – ele tocou em seu ombro.

- A paz... – ela se virou, chocada. Nunca tinha visto ninguém em toda sua vida.

- Qual é o seu nome? – perguntou envergonhado.

- Meu nome é Vida... – respondeu com vergonha de olhar em seus olhos – e o seu?

- Meu nome é Morte...

- Prazer...

Não trocaram palavras por alguns minutos, apenas observaram a gigante vermelha surgir. Mas, depois disso, para todo lugar que Vida ia, Morte a seguia. E ela amava isso.

A amizade entre eles crescia cada vez mais, até que se tornou uma paixão, até o momento em que um não vivia sem o outro.

O casal passava grande parte do tempo criando planetas novos e desenhando galáxias. A favorita de Vida era a "Redemoinho Branco", como ela a chamava, nessa galáxia, os planetas tinham cinturões gigantes e vários satélites. Decidiram, então, criar um planeta que fosse só deles, onde eles morariam para o resto de suas vidas.

Vida e Morte passaram vários ciclos desenhando sua nova morada. Mas, não concordavam um com o outro...

Vida queria um planeta inteiramente azul, com muita iluminação. E Morte queria um planeta verde, com pouca luz, pois a mesma machucava sua pele cinza.

Como amava seu homem, e não queria brigar, Vida propôs que eles misturassem as duas idéias, e assim eles fizeram. Mas, infelizmente, o resultado não foi satisfatório... Morte não era um bom pintor, e sua parte, ao invés de verde, ficou com borrados amarelos, vermelhos, cinza, marrom, e outras falhas.

O casal, depois de ver o resultado final, chegou a decisão de destruir e começar tudo de novo. Mas, antes disso, Vida viu que seu novo planeta começava a se manifestar sozinho... as pinceladas desajeitadas de Morte começavam a escorrer, cresciam, e viravam belas arvores, que cresciam e davam belos frutos, que caiam e viraram sementes, que refaziam esse ciclo, várias e várias vezes. Os borrões cinza tornaram-se belas montanhas. E as borradas amarelas criaram belas dunas de areia. Com um acidente, Morte acabara de criar o planeta mais belo que Vida já tinha visto.

- Mas eu não quero morar nele... - disse Vida.

- O que? Por que não? - Morte se espantou.

- Quero ver até onde ele pode evoluir. Até onde as árvores podem crescer, até onde as montanhas podem rachar, e até onde as areias podem viajar.

Morte fingiu que não ouviu e caminhou até a beira de um lago. Passou os dedos sobre as águas, e formou pequenas ondas.

- Está vendo isso? - perguntou à vida.

- Isso o que?

- As águas estavam paradas, e só se mexeram quando eu as toquei. De que adiantaria eu observá-las por mil anos, se poderia movê-las a meu modo, em poucos segundos?

- Não é para isso que serve o vento?

- O vento não escolhe, não segue ordens, não move as águas ao nosso favor... Ele é aleatório. - Morte então percebeu que os peixes que ali nadavam morreram, e flutuavam na superfície. Vida ficou desolada.

- Está vendo? Isso que acontece quando tentamos mudar a natureza! Nós a matamos!

- Mas isso é lindo... A morte, eterna e silenciosa, total- mente vazia de consciência e dor... Diferente da vida, tão imperfeita, cruel e derradeira.

- Se eu sou tão imperfeita, cruel e derradeira, por que você me segue?

- Não sei – se levantou, e caminhou até ela. - Tem algo em você que me atrai. É mais forte do que eu. Onde quer que Vida for, Morte sempre a irá seguir.

- ...

- E não tem como você escapar de mim. – abraçou-a e beijou sua testa. – Eu te amo...

Vida se afastou, fitou os olhos de morte e disse:

- Então prove...

- Provar?

- Prove que me ame... Vamos ficar mil ciclos observando esse planeta...

- Apenas observando? Tudo bem, ué...

- Mas... Eu vou cuidar de um lado, enquanto você cuida do outro...

- De fora do planeta? Sem ver você? Por mi-mil anos? – tentou.

- Sim...

Morte hesitou.

- Mas eu te...

- Teremos mais um ciclo juntos - ela interrompeu-o – terminaremos o que falta... E...

- Perfeito – Morte engoliu o orgulho, concordando com sua amada.

E juntos, deram os toque finais na Terra. Morte desenhou a mulher, fazendo ela a imagem e a semelhança de Vida. Vida desenhou o homem, fazendo ele a imagem e a semelhança de Morte. Juntos, esses animais povoariam a superfície do planeta.

- Quem vai cuidar da essência, da vida, da consciência, e outros aspectos, impedindo o caos entre eles? - perguntou Morte.

- Nossos filhos... - Vida assentiu.

- Filhos?! - Morte abriu um sorriso gigante. Faltando pouco tempo para o fim do ciclo, Vida e Morte subiram até a nuvem mais alta, onde se amaram e deram a luz a sete filhos... Estes que agora cuidam da vida na terra, dos humanos, mais especificamente.

- Como vou saber que você não vai me deixar? – Morte perguntou, minutos antes da separação.

- Durante esse mil ciclos, te mandarei um presente por dia...

Morte abaixou a cabeça e assentiu.

- E quero que você me mande também... todos os dias...

Vida foi para uma gigante vermelha, Sol, de lá, ela ilumina metade do planeta. Morte ficou na lua, cuidando da iluminação á noite.

Com a depressão que Morte teve, ele não conseguia criar presentes para Vida, e devolvia todos que ela enviava-o, com um beijo e um abraço...

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