Capítulo VIII

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Eu não entendi muito bem - Jeolana questionou a história - Inocência e rebeldia são emoções?

- Não exatamente... - disse Essência – Mas são características que fazem parte da natureza humana.

- Conta pra ela sobre a travessia dos véus... – disse Vitalidade animada.

- Calma, calma... - disse Essência - Nós temos tantas histórias, falar sobre a travessia dos véus agora? Não é tão importante...

- Essência, o que aconteceu com a Amor e com o Egoísmo? - Jeo perguntou - Eles ainda estão vivos?

- Sim, estão... - ele respondeu - Veja bem, aqueles que vivem aqui, vivem para sempre. De certa forma, essas histórias aconteceram a menos de, como diriam vocês terráqueos: "algumas semanas".

- Como assim? - Leana começou a ficar mais confusa

- Já que são todos imortais, então porque os irmãos morreram?

- Bom - disse Vitalidade - Não somos imortais, apenas vivemos para sempre.

Jeo continuou encarando-os, ainda mais confusa.

- Existem forças bem mais poderosas que cuidam desse lugar – disse Essência - Assim, nós somos livres, mas estamos a baixo dessas forças.

- Que forças? - Jeo perguntou.

- O Vida e o Morte - Vitalidade respondeu.

- Se eles mandaram a Amor morrer, ela vai morrer. Se não, não – disse Essência.

- Entendi, acho.

Jeo olhou para o lado. E de uma das trilhas que vinha até a travessia, vinha um jovem, loiro, com vestes verdes, bem cabisbaixo, andando.

- Quem é aquele? - ela perguntou.

- Uuuuuuh, conta a história dele - disse Vitalidade.

- Huuum, é mesmo - Essência concordou.

- Ele quem? Quem é? - Jeo perguntou.

O homem cruzou a travessia dos véus e passou reto. - Vamos lá... - disse Essência.

Era uma vez, uma mulher chamada Traição, ela era casada com um rapaz chamado Ganância. Traição adorava burlar as regras de um relacionamento, mas nunca tinha de fato traído o Ganância. Um dia, essa mulher decidiu que o Ganância não estava mais satisfazendo ela o suficiente, então decidiu ir atrás de um homem que pudesse realizá-la como mulher, pelo menos por uma só noite.

Perto de sua casa, vivia um rapaz chamado Luxúria, ele era solteiro e vivia e uma casa amarela brilhante, que tinha uma horta maravilhosa na parte de trás. Depois de observá-lo por um tempo, a Traição decidiu que queria ter algo com aquele homem, e inventou uma desculpa para ir até sua casa.

*Toc toc*

Luxúria abriu a porta e se deparou com uma mulher de vestido vermelho, com os cabelos negros e longos:

- Olá?

- Então... - ela disse - É que eu vi que você tem uma bela horta na sua casa, né? Será que você não poderia me dar umas beterrabas... ou uns alfaces?

O rapaz, educado, apesar do inconveniente, não poderia negar um simples pedido, ainda mais vindo de uma moça tão bela. Então ele a convidou para entrar na casa. Bom, acho que não preciso nem dizer o que aconteceu, ela não queria beterrabas e alfaces, coisa nenhuma. E como ela não tinha dificuldade em seduzir alguém, conseguiu com facilidade aquilo que queria.

O tempo foi passando, e o Ganância nem suspeitava da infidelidade de sua amada esposa. Até que um dia, Traição não estava muito bem e brigou com o Ganância por causa de alguma idiotice dentro de casa, ela saiu e ficou algumas semanas fora, nem preciso dizer para onde ela foi.

Quando sua esposa ficou fora, Ganância ficou em casa, esperando que algum dia ela voltasse. Enquanto isso, ele alimentava suas manias, de colher mais frutas do que o necessário, plantar mais flores do que o necessário, e tudo mais.

Traição voltou para casa, Ganância, que já estava sentindo falta dela, recebeu-a muito bem, mas é claro que a intimidade do casal não era mais a mesma.

Com a volta de sua mulher, Ganância começou a perceber algumas coisas, Traição estava com umas manias estranhas, ela dormia bem mais do que o normal, comia limão com amora - uma mistura meio estranha - e não queria dormir junto com ele.

Ganância tinha suas suspeitas, mas só foi ter certeza do fato algumas semanas depois, quando percebeu que o ventre de sua mulher começara a aumentar. Sem pensar duas vezes, ele expulsou Traição de casa. Ele não queria nem saber quem era o pai, apenas expulsou.

A primeira coisa que Traição fez, foi buscar abrigo com seu Amante, o Luxúria, mas ele estava muito ocupado cuidando de sua horta, e não deu nem atenção a ela.

Desamparada e envergonhada, Traição, foi até que travessia dos véus, e de lá ela tomou seu caminho para o extremo oeste, onde se exilou por alguns ciclos em uma caverna.

Passado o tempo de gestação, nessa caverna, Traição deu a luz a um garoto.

Assim que ela tomou coragem, levou o bebê para conhecer o Luxúria.

*Toc toc*

- Traição? - Luxúria se admirou.

- Eu só queria que você conhecesse alguém... - ela desenrolou a criança dos panos.

- Até que ele é bonitinho. Qual o nome? - ele perguntou enquanto fazia carinho no rosto da criança.

- O nome dele... É Arrependimento.

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