O Bosque da Natureza Humana

Capítulo IX

Jeoleana estava mais do que admirada pela história.

- Isso é esquisito, interessante, legal - ela tentou - Eu não sei o que pensar, nem o que falar.

- Obrigado, obrigado - Essência brincou.

- Tudo aqui é lindo... até as histórias tristes... – disse Vitalidade olhando para o céu.

- Eu tenho que dizer uma coisa, estou me segurando desde a hora que cheguei para comentar e perguntar sobre isso - disse Jeo.

- O que é? - Essência perguntou.

- Vocês sabem o que é galáxia, certo?

- Sim - Essência respondeu.

- Ué, mas é claro - disse Vitalidade.

- Então, nós estamos em outro planeta? Esse planeta fica na mesma galáxia que a Terra? Porque não é possível que nos estejamos na Terra, de lá seria impossível ver o céu desse jeito, ver planetas a olho nu, sem usar um telescópio, ver tantas estrelas cadentes passando...

- Olho nu? – Vitalidade perguntou confusa passando a mão em seus olhos.

- Bom, de certa forma nós estamos na mesma galáxia que a Terra, mas não no mesmo lugar em que ela está localizada, entendeu? – disse Essência.

- É... Não muito.

- Hum... Imagine que a alguns ciclos atrás tinha alguém sentado nesse mesmo banco que você está agora. Esse alguém estava no mesmo banco que você está agora, mas não no mesmo momento, e não no mesmo lugar. Entendeu? - ele tentou.

Jeo escutou-o com atenção.

- Não - mas não entendeu nada.

- Relaxe, depois eu te explico melhor - ele respondeu.

- Conte mais histórias, querido - disse Vitalidade.

- Calma... temos que contar mais coisas sobre o bosque para a nossa amiga, Jeoleana.

- Não, tudo bem... - Jeo disse sem jeito - Sabe, no caminho para cá, eu vi um moinho, muito bonito, madeira bem escura e brilhante, quem mora lá?

- Aaaaaaah – exclamou Essência animado – Aquele belo moinho, o Inteligência mora lá. Falando nisso, faz tempo que não falo com ele, é um bom amigo.

- O inteligência? - Jeo perguntou.

- Siiiim - ele respondeu - Ah, essa eu não posso deixar passar, eu tenho uma história dele que é ótima. Vamos lá...

Era uma vez... esse rapaz que se chamava Inteligência, tinha a pele clara, cabelos curtos e negros e, estava sempre usando um colete de lã vermelho escuro, ele não gostava muito de sair do seu lar, aquele belo moinho. Um dia, de uma das janelas de seu quarto, viu uma bela jovem andando pelas trilhas ali perto de sua casa, ela era muito bonita, usava um vestido cinza escuro e tinha os cabelos curtos e castanhos.

Ele, que já estava cansado de ficar sozinho, ficou deslumbrado com a moça.

Bom, eu não tenho nada a perder - pensou. Inteligência desceu, apressado, alcançou a garota, se apresentou, e começou a conversar.

- Olá, é... Meu nome é Inteligência - ele disse meio que sem jeito.

- Prazer, Inteligência, meu nome é Ignorância. – ela sorriu.

E, daí em diante, os dois passaram a conversar, marcaram um encontro na travessia dos véus, depois marcaram um encontro na floresta, e assim foi.

O tempo passou, Inteligência finalmente tomou coragem para pedir Ignorância em namoro, ela aceitou. E os dois foram morar juntos no belo moinho. Eles levavam uma ótima vida, saudável e alegre. Até que a Ignorância engravidou.

Quando ficou grávida, Ignorância meio que virou outra pessoa, nada estava bom para ela, não concordava em nada com o Inteligência, nunca estava satisfeita, brigava o dia inteiro com seu homem, e sempre dizia ter se arrependido de engravidar. Isso acabou deixando seu parceiro triste.

No período de gestação da sua mulher, Inteligência, que já não estava aguentando mais, começou a ficar super desanimado com o relacionamento, e queria termina-lo, mas não podia, ou pelo menos não deveria, afinal, o casal estava esperando um filho.

Eu realmente não sei o que fazer - pensou - Será que eu poderia pegar meu filho assim que ele nascer e abandonar a Ignorância aqui?

Porém, isso não foi necessário, chegada a hora de dar a luz, Ignorância decidiu ir escondida para o extremo oeste do bosque, pediu para o Inteligência buscar algumas cerejas e fugiu. O que ela não sabia é que Inteligência não aceitaria perder seu filho dessa maneira, e notando seu plano, seguiu-a até lá.

Em uma das cavernas no oeste do bosque, Ignorância entrou em trabalho de parto, e deu a luz a um garoto. Inteligência ficou de longe, admirando o nascimento de seu filho, mas percebeu que a mãe não estava tratando a criança da maneira correta. Assim que Ignorância terminou o parto, ela enrolou a criança em um pano velho e deixou-a na caverna. O inteligência esperou ela ir embora e correu até a criança, ele pegou-a no colo, limpou em um lago que tinha ali perto e a levou para casa, onde criou-a sozinho.

Ignorância nunca mais se encontrou com Inteligência.

A criança foi batizada de Orgulho, e hoje ela já não mora mais naquele belo moinho.