1. Melting

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– Lis, você precisa se acalmar. – Nat arrastava as palavras, o sotaque sempre tão imperceptível se fazendo presente.

Era raro presenciar alguma rachadura na armadura da poderosa Viúva Negra, mas, vez ou outra, quando o cansaço conseguia abater até Romanoff, certa vulnerabilidade aparecia. E a ruiva estava realmente cansada naquele momento. Os cabelos acobreados escondiam seu rosto enquanto ela mantinha os cotovelos sobre as coxas, inclinada para frente em uma posição meio derrotista. Não sabia se minha amiga estava exausta pela missão da qual acabara de voltar ou da teimosia que eu estava demonstrando. Sim, eu sabia que estava sendo teimosa, mas minha raiva era bem maior que meu senso comum no momento.

Me agarrar a raiva era melhor do que me preocupar com o fato de eu estar irritando uma das pessoas que havia acabado de impedir que mais um lunático executasse um plano de dominação mundial. E, afinal, havia a remota possibilidade de não fosse por minha causa que ela s-

– Droga, Lisbon!

Levantou-se da cadeira de plástico criada por algum artista vanguardista, que provavelmente era a última moda em decoração – mas que Tony só tinha comprado porque era laranja –, e seu movimento súbito me fez parar de andar de um lado para o outro. Surpresa pela falta de graça naquela que normalmente se movia como um gato, voltei toda minha atenção a ela.

– Natasha?

– Eu desisto – abriu os braços como que para enfatizar. – Vocês dois são malditamente teimosos demais para alguém usar algum tipo de racionalidade. Não é à toa que estão juntos. Ele vai ter que passar a noite na ala hospitalar. Se, em algum momento, você superar sua raiva e resolver ir visitá-lo, ao menos sabe onde – com essas palavras frustradas, girou nos calcanhares e saiu de meu quarto sem que suas passadas fizessem um único ruído.

Só quando a porta automática deslizou de volta para a fechadura foi que soltei o grito frustrado que estava segurando. Meu ataque de raiva, contudo, não acabou tão fácil. Em uma atitude bem infantil, resolvi que também iria jogar um dos vários travesseiros da enorme cama contra a porta.

Como se Nat tivesse alguma culpa de qualquer coisa. E como se aquela porta toda cheia de tecnologias incompreensíveis para meros mortais, que Mia e Tony sempre estavam desenvolvendo, fosse sofrer qualquer arranhão. Romanoff tinha razão, no entanto, eu estava longe de qualquer estado racional no momento. Estava lívida. Furiosa o suficiente para me agarrar a meu orgulho e forçar meus pés a ficarem no lugar, mesmo quando queria ir encontrá-lo.

Se fosse sincera comigo mesmo, eu queria muito ir encontrá-lo. Também seria necessário um pouco de honestidade para aceitar que minha raiva era uma maneira de mascarar a preocupação que sentia. Então, não. Nada de honestidade naquele momento, senão acabaria enlouquecendo por não saber o que estava se passando. Teimosamente, assim, obriguei-me a sentar sobre o colchão macio e a cruzar os braços, concentrando-me em alguns exercícios de respiração que Steve me ensinou, a fim de me acalmar o suficiente para dormir.

Respirar, inspirar. Respirar, inspirar.

Depois de cinco minutos daquela porcaria, percebi que não iria funcionar. Ao menos não enquanto não tivesse ao menos uma ideia de como ele estava. Precisei de mais alguns minutos para engolir meu orgulho – segundos que passei em parte amaldiçoando minha melhor amiga por ter me dado um sermão ao invés de informação – até abrir a boca e chamar:

– JARVIS?

– Pois não, senhorita Lisbon? – a voz com simpática ressoou no cômodo imediatamente.

Burning IceOnde histórias criam vida. Descubra agora