Um mar de rosas estável e nada interessante

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- Mas vai acabar por fazer com que eu fale sem que eu note, é isso? – pergunto um pouco desconfiada.

- Não Rose, isto não é um interrogatório da polícia. – responde-me com uma voz de troça.

Olhei um pouco desconfiada para o estranho ser à minha frente, mas acabei por relaxar um pouco. Ele transmitia-me uma certa calma e um sentimento bastante reconfortante como se o conhecesse há muito tempo.

- Proponho então começarmos com coisas simples. Vamos falar um pouco sobre ti.

- Está bem.

- Podes falar um pouco sobre ti, o que quiseres.

Olhei para ele com uma sobrancelha levantada e um olhar bastante desconfiado devido ao estranho método de psicologia por ele utilizado, bem talvez resulte.

- Certo, então... sou a Rose, tenho dezasseis anos e vivo aqui em Bradford desde sempre. Acho que é isso, a minha vida não é muito interessante.

- Porque é que dizes isso?

- Não é como se a minha vida fosse um mar de rosas. – digo com um certo desinteresse.

- Então a tua definição de interessante é semelhante a algo que é um 'mar de rosas'? – pergunta utilizando a minha própria expressão.

- Não foi isso que eu disse, acho. – respondo um pouco confusa.

- Será que algo interessante é um 'mar de rosas'? Ou seja, algo que está sempre bem. Talvez a tua vida seja interessante à sua maneira só pelo facto de estares aqui num psicólogo. Porque precisas de ajuda provavelmente, o que significa que algo aconteceu para precisares dessa ajuda, algo interessante. Interessante não significa que seja bom ou mau, apenas não é estável, digamos assim.

- Sim não me considero muito estável.

- A ti ou à tua vida?

- A mim e à minha vida, estão os dois relacionados.

- Mas será que só pelo facto de a tua vida não ser estável obrigatoriamente tu também não o sejas?

- Pois acho que não, só às pessoas fracas mesmo.

- Consideras-te fraca então?

- Sim.

- E os problemas que enfrentas que provavelmente te trouxeram aqui, considera-los graves?

- Sim, muito.

- Então consideras-te fraca por suportares problemas muito graves?

- Mas eu não os suporto, por isso é que estou aqui.

- Errado, tu estás aqui porque não os consegues suportar mais, mas tu, no fundo ainda os suportas, estás viva.

- Não percebi.

- Se estás viva tu ainda estás a suportar os teus problemas, se tu os tiveres claro, a menos que os resolvas, que é o que estamos aqui a tentar fazer, a partir do momento que morres já não há nada para resolver. – esclareceu.

- Não concordo com isso.

- Explica-me o porquê.

- Na minha opinião as pessoas quando morrem, isto é a sua alma, continua a viver e todos os problemas e assuntos que ficaram pendentes em vida são suportados para sempre até que o resolvam.

- E quando é que os resolvem?

- Através da reencarnação as pessoas, as almas, têm a capacidade de se redimir de erros e de resolver problemas passados, apesar de isso não ser muito fácil. A maioria das pessoas não se lembra da sua vida passada, quase ninguém mesmo, aliás já ninguém acredita nesse tipo de coisas.

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