A Escolha de Ana Maria

Borboleta

As janelas do meu quarto estavam fechadas e o único barulho que eu ouvia era o da minha respiração. Assim que cheguei, joguei minha bolsa em cima da mesa e desabei sobre a cama, borrando o travesseiro quase instantaneamente com meu lápis de olho que derreteu com lágrimas.

Tirei meu celular do bolso.

O aparelho estava no modo "não perturbe" desde que eu havia entrado no taxi. Engoli em seco com a quantidade de ligações que recebi: 47 no total. Parte da minha família, parte da imprensa e claro... muitas de Harry e Fausto.

O desliguei apertando o botão com força, me contendo para não jogá-lo contra a parede hotel. Será que eu tinha acabado com a minha carreira ao fazer aquela revelação em rede nacional? Balancei a cabeça tentando afastar os pensamentos.

Minha carreira já não importava – estava muito feliz com tudo que tinha conquistado e a essa altura da vida tudo que eu queria era me entregar ao amor.

Quem diria que para uma mulher como eu, que sempre conquistou tudo o que sonhou e se tornou uma das maiores celebridades do Brasil, encontrar um amor fosse a tarefa mais difícil.

Foram quase quarenta minutos deitada sobre a cama, inerte. Meu coração não desacelerou em nenhum momento. Eu estava suada e precisava tomar um banho logo.

Me arrastei até o banheiro amplo e espelhado. O box de vidro me separava da banheira. Fui até ela, certa de que era aquilo que eu precisava. Coloquei-a para encher e fui ao sistema de som do banheiro. Antes que pudesse dar play na nova música de Maiara e Maraisa, estremeci ao reconhecer a voz que ecoava através da parede, no quarto ao lado.

Uma voz que eu já ouvira muitas vezes.

Aquela voz ouvida por milhões de pessoas mas que longe dos holofotes era cantada só pra mim, ao pé do meu ouvido, e que me fazia estremecer com aquele hálito fresco perto da minha nuca.

Harry Styles.

Pisei dentro da banheira para chegar mais próxima da parede, a água já media dois dedos. Fiquei desnorteada assim que percebi que não era uma gravação. Harry estava cantando a música que ele fez só pra mim, eu reconheci os versos.

Oh, Ana Maria..
Oh, Ana Ma-ma-ma Maria!
When you talk to your parrot,
It's very sexy.

When you touch your hair,
It gets more messy.
That's why I need you...
Forever.

Me afastei da parede de mármore num rompante, me desequilibrando ao sair da banheiro. Aqueles versos eram o suficiente.

Comecei a chorar novamente. Estava confusa. Harry sabia que eu estava ali? Se ele realmente me ama, por que não me deixa sozinha por um momento para que eu entenda os meus sentimentos?

Em meio ao meu próprio choro, que tentei abafar no travesseiro branco – nesse momento tão sujo de maquiagem que parecia a ilustração de um pequeno panda –, ouvi outro choro.

Harry também chorava no outro quarto, ainda mais alto que eu. Ele sempre fora sentimental. Durante nossas incontáveis conversas pelo Skype, ele nunca se continha de saudade e se debulhava em lágrimas.

Fiquei de pé rapidamente e respirei fundo. Fui até o grande espelho próximo a entrada do quarto e verifiquei como eu estava. 

Linda. Como sempre.

Eu era uma mulher forte e guerreira, tinha que encarar os meus problems como tal. Abri a porta com força e fui em direção ao quarto ao lado.

Sem pensar duas vezes, coloquei minha mão sobre o olho mágico, para que ele não pudesse me ver. Apertei na campainha e anunciei, fingindo outra voz: