Capítulo 8

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Eu estava totalmente alheia ao mundo ao meu redor, um zumbido me impedia de escutar a música que deveria estar tocando. Com os meus olhos fechados, eu poderia estar no pub, no meio da rua ou no topo do Everest que não saberia a diferença. Por outro lado, meu corpo estava totalmente conciente de cada pequena parte de Camila. Meus braços apertaram ainda mais sua cintura fina, enquanto nossas linguas se encontravam em sua boca morna. Eu podia sentir nossos corações batendo fora de ritmo e suas mãos em meu rosto, indo em direção a minha nuca. Senti meu folego acabar e tratei de separar gentilmente nossos lábios, finalizando nosso beijo com um selinho carinhoso. 

Era quase uma espécie de transe e eu não conseguia pensar em nada coerente naquele momento. Olhei pra Camila, que parecia estar no mesmo estado que eu. Sorrimos feito duas meninas bobas e não resisti a dar mais um selinho quando a vi franzindo o nariz. Ela deu um beijo na minha bochecha e encaixou seu queixo no meu ombro. 

- Você dança muito bem. - Falou no meu ouvido, sua voz rouca arrepiando meu corpo inteiro.

Beijei o topo da sua cabeça e a apertei ainda mais em meus braços, ela gemeu baixinho e me dei conta que estava a sufocando. Soltei meus braços gentilmente, separei nossos corpos mantendo nossas duas mãos entrelaçadas. 

- Eu realmente não quero fazer isso, mas acho que devíamos voltar pra mesa. - Ela concordou com um aceno e soltou sua mão esquerda, me puxando de volta com sua mão direita ainda enroscada na minha.

Ao avistarmos a mesa, vi Vero olhando em nossa direção, seus olhos caindo pra nossas mão e logo subindo pro meu rosto com um olhar questionador. Sorri mostrando os dentes e erguendo um pouco a cabeça em resposta, meus olhos quase fechados devido a essa demonstração genuína de felicidade. Enquanto ela cochichava com Lucy, provavelmente contando a novidade, eu e Camila sentamos de volta em nossos lugares. 

Observei satisfeita ela arrastar sua cadeira para mais perto da minha e coloquei meu braço em volta de suas costas, apoiando no encosto. Lucy me informou que algumas rodadas de tequila tinham acontecido durante nossa ausência, revelando o porque daquela animação toda. Vero começou a conversar comigo sobre a obsessão de Ally com os preparativos do casamento enquanto sua namorada a defendia com um olhar sonhador no rosto, fiz uma anotação mental pra alertar minha amiga que Lucy já parecia pronta e ansiosa para o próximo passo na relação delas, mas que ela só fizesse o pedido após o casamento 'Troly'. Uma noiva neurótica por vez era o máximo que conseguia aguentar.

Camila estava conversando com o resto da turma dela, mas colocou a mão em minha perna, uma maneira silenciosa de dizer que não tinha esquecido da minha presença. Após um tempo, verifiquei as horas constatando que já era tarde e amanhã era dia de vistoriar algumas obras. 

- Bom, tenho que ir - falei colocando minha mão em cima da mão de Camila, pra chamar sua atenção. 

Vero e Lucy também já estavam de saída e nos despedimos do restante da mesa. Dinah veio em nossa direção, um pouco alterada mas ainda se sustentando em cima de seus saltos. Divagando alguma coisa sobre suas chefes não estarem tendo a melhor impressão dela a vendo naqueles estado. Tratamos de assegura-la que aquilo não era nada demais, pelo contrário, uma pessoa que virava 8 doses de tequila seguidas merecia todo respeito do mundo. Notei satisfeita que Camila também se despediu dela, avisando que iria embora comigo. Dessa vez a morena mais alta soltou um 'Go girl!' tão empolgada que quase caiu pra trás. Saimos rindo e ficamos abraçadas enquanto esperávamos o manobrista trazer meu carro. Abri a porta pra minha pequena e esperei ela se acomodar para então tomar meu lugar.
 

- Pensei que você iria ficar, não teria problema nenhum com isso. Dinah é sua amiga e é natural querer comemorar com ela. - Falei me virando pra ela, sem ligar o carro ainda, queria lhe mostrar que tinha opções.

- Nosso encontro não vai ser perfeito se você não me deixar em casa e não me der um beijo de boa noite. - Sorri com sua resposta. - Além disso, tenho que acordar cedo amanhã, não posso acompanhar Dinah nessa comemoração sem hora pra acabar. 

Assenti compreendendo e liguei o carro. Camila me disse seu endereço e segui o caminho sem pressa, querendo aproveitar sua companha o máximo possível. 

- Você já ficou com mulheres antes? - perguntou sem cerimônia. Eu concordei com a cabeça. Estava curiosa com sua pergunta, mas esperei que ela continuasse. - E você fica com homens também? 

- Já fiquei com homens, mas só namorei mulheres. Talvez seja uma coincidência ou uma questão de gosto mesmo, nunca me rotulei de nenhuma forma até o momento. - Falei tentando tirar a dúvida que Camila mostrava ter implicitamente. - E você? 

- Você é a primeira mulher que beijei, só homens antes de você. - Se calou por um momento, analisando minha reação. Me mantive neutra, já imaginava uma resposta assim. - Mas gostei muito, muito mesmo de ter te beijado. - ela enfatizou, talvez achando que tinha me ofendido de alguma maneira.

- Ainda bem, porque também gostei muito, muito mesmo de ter te beijado, Camz. - Falei sorrindo, lhe assegurando que tava tudo certo. - Porque não ficou com mulheres antes, não teve oportunidade?

- Na verdade nunca tinha tido vontade. - Pensou um pouco e continuou - Então eu te vi entrando no Planeta e foi como se esses seus olhos verdes tivessem me enfeitiçado ou coisa assim. Eu faria qualquer coisa naquele dia pra poder conversar com você. E enquanto você se aproximava deixando suas intenções claras de uma maneira sutil, notei que faria qualquer coisa pra poder continuar conversando com você. Você fez tanta coisa por mim, mas de um jeito tão gentil, que foi irresistível me deixar levar. Tudo parecia estar se encaminhando pra isso - Ela falava enquanto unia nossas mãos. - E estou mais do que feliz em seguir esse caminho.

Levei sua mão em direção a minha boca e espalhei beijinhos leves. Sem soltar nosso aperto, coloquei nossos antebraços no apoio central do carro. Não achava que precisava dizer nada, Camila estava certa mais cedo ao constatar que eu era uma pessoa de atitudes, mas não queria que ela achasse que não estávamos em sintonia. 

- Eu também estou seguindo esse caminho muito feliz. - O sorriso que ela deu em resposta tinha o estranho poder de acalmar e agitar o meu coração ao mesmo tempo.

Parei em frente seu prédio, analisando rápido vi um segurança ao lado do portão e outro na guarita alta. 

- Então é hora de dizer tchau. - Falei um pouco triste pela nossa separação, mas sem querer forçar Camila a nada.

- Nem nos depedimos ainda e já estou com saudades. - Ela falou me olhando com uma expressão séria. 

- Vamos nos ver amanhã. - tentei consolar ela e me consolar também. 

- Então boa noite, Lo. - Camila falou após um tempo de silencio, soltando sua mão da minha e tateando a porta, tentando sair do carro.

- Espera, Camz. - Falei rapidamente, segurando seus ombros, a virando pra mim. - Eu quero que esse encontro seja perfeito. 

Então colei minha boca na dela, passando a lingua em seus lábios, procurando uma abertura pra aprofundar o beijo, o que imediatamente foi concedido por ela. Coloquei minhas mãos em sua nunca, meu polegar acaricando o começo do seu maxilar. Senti ela segurar minha cintura, um aperto não muto firme. Controlei o beijo pra que ele não ficasse muito intenso e o finalizei com vários selinhos. Tentei raciocinar pra falar algo coerente e consegui após um tempo

- Boa noite, mal posso esperar pra te ver de novo. - Destravei o carro e Camila me deu um beijo suave na bochecha antes de descer. Esperei até que ela tivesse dentro do prédio e segui o caminho até minha casa.

Entrei no meu apartamento e o meu estado de felicidade só era comparável ao do Paçoca me reencontrando após um dia inteiro. Peguei meu cachorro nos braços e dei vários beijnhos na sua cabeça enquanto pulava em direção ao meu quarto. Tomei um banho cantando e demorei um pouco pra dormir. Minha euforia dava medo e coragem, mas pela primeira vez na vida não me importava de estar colocando minha felicidade nas mãos de outra pessoa.

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