Capítulo 20

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Estava sentada na cama de camila, com as costas apoiada na cabeceira e as pernas esticadas, observava a mesa de desenho cheia de papeis, régua, lápis e todo material possível. Comparado com o da minha namorada, meu quarto parecia pertencer a alguma neurótica com transtorno obsessivo compulsivo por organização. Não que o dela fosse um caos total, era apenas muito mais colorido e desprendido de alguma ordem pré-estabelecida que o meu. 

Direcionei meu olhar pra porta do banheiro quando ouvi se abrindo, Camila surgiu e não pude evitar o descompasso no coração quando a vi

- Você tá linda. - Falei enquanto ela abria o guarda roupa em busca de algo.

- Amor, eu acabei de sair do banho e ainda estou de toalha. 

- E tá linda. - reafirmei.

Camila veio em minha direção, parou ao meu lado e se inclinou pra me dar um beijo. Segurei na sua nuca enquanto ela tinha as mãos em meu rosto, antes que ficasse muito intenso, ela encerrou o contato me dando uns selinhos de consolação.

- Já pra sala! - Falou autoritária e eu levantei uma sobrancelha. - Preciso me arrumar.

- Pode se arrumar, ué. Fico quietinha aqui, não vou atrapalhar nem nada.

- Vai sim, sinto muita pressão com você me analisando e bufando a cada minuto que passa, acabo demorando o dobro do tempo.

Levantei da cama um pouco contrariada, mas a possibilidade de Camila demorar um minuto a mais do que já fazia normalmente, me convenceu. Ela estava segurando a maçaneta da porta do quarto, batendo o pé impaciente. Parei na sua frente e sorri ao sentir sua pele cheirosa recém saída do banho, não resisti e beijei seu ombro que ainda tinha umas gotinhas de água. 

- Pra sala, Lauren. - Então era assim que Paçoca se sentia, pensei enquanto seguia sua ordem.

O apartamento de Camila e Dinah era pequeno, mas muito bem decorado, de alguma forma o estilo das duas se completavam. Sentei no sofá laranja e liguei a tv,  só me restava esperar. Meia hora depois, ouvi passos pelo corredor, me decepcionei um pouco quando Dinah apareceu impecavelmente arrumada num vestido dourado. 

- Jauregui! - Ela me cumprimentou sorridente, não necessariamente surpresa em me ver ali. 

- Hansen! Como estão as coisas? 

- Poderiam estar melhores... - Sentou na poltrona ao meu lado, falando como quem conta um segredo. - Eu tenho essa amiga, sabe. Que conheço faz tempo, mora comigo e sempre foi uma irmã mais nova pra mim. Ela era meu bebê, pura e santa aos meus olhos, até o dia ela arrumou uma namorada...

- oh, e isso como isso lhe trouxe problemas? - Segui o seu tom de conversa secreta, achando divertido.

- Inicialmente não trouxe nenhum, mas aí numa sexta qualquer, elas decidiram dormir no nosso apartamento. Quer dizer, pelo que escutei, dormir foi a última coisa que elas fizeram. Meu Deus, Lauren, terei que pagar anos de terapia pra esquecer os gritos e os gemidos, foi horrível! - Colocou uma mão no peito, dramatizando. - Mas graças a Deus, uma das minhas chefes é bem generosa e irá bancar o tratamento, que será muito caro, mas acho que isso é uma espécie de justiça divina.

Não evitei uma gargalhada e antes de me recompor para responde-la, Camila surgiu usando um vestido preto bem colado e curto até demais, ela estava linda, seus cabelos caiam lisos por suas costas e a maquiagem valorizava ainda mais seu rosto perfeito. Logo minha gargalhada virou um engasgo com o impacto daquela visão e Dinah esticou a mão pra dar um tapinhas nas minhas costas enquanto balançava a cabeça pro lado e pro outro.

- Eu simplesmente não aguento vocês duas. - Camila lançou um olhar questionador ao ouvir as palavras da amiga e eu dei de ombros, já recuperada.  

Deixamos o apartamento e entramos no meu carro. Naquele sábado íriamos a boite com alguns amigos de Camila e Dinah, Normani encontraria com a gente lá. Durante o trajeto elas conversavam empolgadas, falando alto e gesticulando muito, riam de coisas que sinceramente não faziam sentido nenhum pra mim, mas não reclamava, eu devia ser do mesmo jeito quando estava com minhas amigas.    

Aquele tipo de balada nunca tinha me agradado muito, mas Camila estava bastante feliz, bebendo e dançando com os amigos, pelo que demonstrava. Eu achei melhor ficar só na cerveja porque claramente estava na minha vez de ser babá. Normani e Dinah reclamavam comigo, que insitia em ficar no camarote, eu tentava explicar que um lugar para sentar e uma mesa eram importantes, mas na verdade ninguem estava se ouvindo naquele barulho. Elas acabaram desistindo de me convencer e desceram pra pista. 

Falei pra Camila que tudo bem ir com elas, mas ela preferiu ficar comigo. Me puxou pra dançar e me entreguei um pouco a batida só pra agrada-la, já ela dançava com mais dedicação, indo até o chão com os braços erguidos. Aquele rebolado naquele vestido não me dava outra opção a não ser agarrar seu corpo pra que se juntasse ao meu. Dei um beijo que demonstrava toda a vontade que estava sentido no momento, minha mão pressionado sua bunda pra lhe manter o mais junto a mim possível. Ela deu um sorriso do tamanho do mundo quando separamos nossas bocas, nossos peitos arfando pela falta de ar.

- Bem melhor agora. Pensei que você ia ficar a noite toda com um olhar clinico analitico comportamental pra esses pobres seres que só querem se divertir. - Falou implicando, apontando o polegar pras pista atrás dela.

- Desculpa, mas você namora uma velha de 89 anos. - Respondi sorrindo.

- Eu namoro a velha de 89 anos mais lindona desse mundo. - E logo voltou a me beijar.

Normani, Camila e Dinah conseguiram me levar pra pista eventualmente. Relaxei um pouco mais e até conversei com alguns amigos da minha namorada, que estava menos sóbria a cada minuto. Eu gostava de ve-la se divertindo tanto, ela era tão feliz e cheia de vida que pareca uma menina as vezes. Exatamente o oposto de mim, mas isso não nos atrapalhava, pelo contrário, acho que era por isso que funcionávamos tão bem.

Esperei ela pedir pra ir embora e admito que achei essa espera um pouco longa. Decidi que era melhor que dormíssemos no meu apartamento, seria boazinha e daria um sossego pra Dinah. No caminho aguentei Camila topando o som do carro enquanto se esgoelava cantando alguma música pop do momento, disso eu não podia reclamar, afinal tive meu momento Eminem. Ela me agarrou algumas vezes entre a cantoria, chupando minha orelha, beijando meu pescoço e passando as mãos em minhas pernas, e disso eu não queria reclamar.

No elevador, Camila se enganchou em mim enquanto gritava alguma coisa sobre 'Coala hugs', me beijando sem parar. Embora estivesse gostando muito daquilo, achei melhor cuidar pra que ela não tivesse ressaca, então a levei pra cozinha assim que entramos no apartamento e lhe dei agua e leite condensado. Eu não sabia outro jeito de cuidar de pessoas bêbadas, mas ela aceitou sem reclamar. 

Em seguida fomos pro quarto, Paçoca na nossa cola. Entrei com ela no banheiro, e tentei tirar seu vestido. Ela dificultava a tarefa porque cismou em tirar minha roupa também, o que acabei deixando ela fazer sem muita resistência. Insistiu pra entrássemos juntas no chuveiro e de novo, não exista motivo pra que eu negasse seus pedidos. Camila me surpreendia todo dia com sua inteligência, seu humor e sua beleza. Mas a intensidade das emoções que ela me faz sentir era talvez mais surpreendente ainda. Uma vez ela tinha dito que amava todas as minhas versões, mas a minha versão preferida de mim mesma, era sem dúvidas a que aparecia na sua presença.
 

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