Capítulo 18

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Decidi tomar um banho e ir dar uma volta com Paçoca. Não queria me entregar a depressão de domingo, mas não estava num dia muito sociável, então logo descartei a hipótese de ligar pra alguma das meninas. Vesti um short jeans curto, uma camiseta listrada e meu vans branco. Ainda não sabia o que faria, então peguei uma mochila e coloquei ipod, cartão, fone de ouvido, o livro que estava lendo, bebedouro portátil pra cachorro e um saquinho com ração. Não levaria meu celular porque não queria cair na tentação de ligar o aparelho. 

Coloquei meus oculos wayfarer, abotoei a coleira no paçoca e saímos do apartamento. Passei um tempo dirigindo sem destino, apenas concentrada na música. Então decidi ir ao parque, talvez o ar puro iria acalmar minha mente. Eu precisava de um tempo pra mim, pra pensar, pra ficar tranquila, pra não agir por impulso. Tenho a tendência enorme de fazer besteiras quando apenas me deixo levar pelas minha emoções. Por isso na noite passada tinha ignorado todas as mensagens e ligações de Camila. Se eu tivesse respondido algo naquele momento, provavelmente seria um simples e direto 'Vai se fuder!'. 

Estava tendo um exposição na área central do parque e me distraí um tempo com isso.  Depois caminhei com paçoca e sentamos num banco pra tomar sorvete, o clima estava quente, mas não muito. Eu só observava as pessoas passando e tentava não pensar. Depois me acomodei no gramado, sentando com as costas apoiadas numa arvore, soltei a coleira do meu cachorro, o deixando correr um pouco. Fora de casa, Paçoca era bem medroso, não tinha perigo dele fugir ou algo assim. Faltavam poucos capítulos pra terminar "A tormenta de espadas - As cronicas de gelo e fogo" e apenas me concentrei nisso. 

Não sei quanto tempo passei lá, mas quando vi que o sol já estava bem mais baixo, resolvi que era hora de voltar pro apartamento. Não me surpreendi quando dei de cara com Normani sentada no meu sofá com os pés estirados na mesa de centro, digitando freneticamente no seu celular. Todas minhas amigas tinham a chave e eu sabia que nunca conseguiria sair impune de um dia inteiro sem dar notíciar pra elas. Livrei paçoca da sua coleira e ele saiu correndo em direção ao quarto, devia estar exausto. Sem pressa, tirei a mochila e o tenis. Mani não se deu ao trabalho de me cumprimentar, continuou concentrada no aparelho.

- Oi, Normani. Pode entrar, fique a vontade, sinta-se em casa. - Ironizei enquanto sentava ao lado dela.

Ela só ergueu uma sobrancelha, parecia uma professora prestes a dar um sermão.

- Sem gracinhas, Jauregui. 

Levantei os ombros e voltei a ficar calada. Ela ficou encarando meu perfil por um tempo e num tom mais ameno, voltou a falar.

- Aconteceu alguma coisa, Laur?

- Me diz você. Não acho que essa visita seja algo aleatório. - Falei a olhando de frente, mas logo voltei a direcionar meu rosto pra tv apagada. Eu não tinha sido rude, apenas direta.

- Dinah me ligou. Aparentemente Camila entrou em um leve desespero sem noticias suas. Então me diz você, não acho que seu sumiço seja algo aleatório. - Ela também foi direta.

- Somos namoradas, Mani. Brigas irão acontecer uma hora ou outra.

- Mas pelo que sei, uma briga consiste em duas pessoas expondo sua opinião. E te conheço a muito tempo pra saber que você não deu chance nenhuma pra Camila lhe dizer o que quer que seja. - Eu não tinha argumento pra isso, permaneci calada. - Laur, você sabe que eu te amo e sempre estarei do seu lado, mas amizade também é puxar a orelha. Você tem um mania muito feia de agir algumas vezes de modo unilateral, você não é a única sofrendo. Camila é a sua namorada, mas lembre-se também que você é a namorada dela. Ela tem o direito de saber o que lhe deixou chateada, tem o direito de poder se defender.

- Eu vou conversar com ela, Mani. Só estava tentando organizar as ideias, ontem eu estava sobrecarregada, poderia colocar tudo a perder e não quero perder ela. - Me calei por um tempo e então falei sorrindo pra minha amiga. - Obrigada, estava precisando desse sacode. 

- Missão concluída, já posso voltar pra minha cama e ver minhas séries. - Disse brincando e em seguida me abraçou. Se levantou rumo a porta e antes de sair do meu apartamento, concluiu. - Fica bem, Laur e me liga qualquer coisa.
  

Peguei meu celular o ligando em seguida. Ele vibrou por alguns segundos sem parar, as mensagens acumuladas chegando uma após a outra. Ignorei as da meninas e passei os olhos pelas de Camila. Das ultimas que tinha lido na noite passada até a mais recente, não haviam intervalos de tempo muito grandes em que ela não houvesse tentando falar comigo. Ela já sabia que Dinah tinha me deixado ciente da visita de seus pais, pedia desculpas em algumas e me chamava de orgulhosa e cabeça dura em outras. Disquei seu número sem ensaiar o que falaria.

- Oi Lauren - respondeu no segundo toque, sua voz estava ansiosa.

- Oi Camila, você  já jantou?

- Se eu jantei? Não. - Falou automaticamente, mas logo voltou a falar sem dar importância pra minha pergunta. - Olha Lolo, sei que eu deveria...

- Podemos comer pizza - A interrompi.  Eu sinceramente, não sabia o que estava fazendo.

- Você tá falando sério? Você realmente quer sair comigo agora pra comer uma pizza? - Camila perguntou surpresa. Pensei um pouco antes de responder.

- Na verdade não, desculpa. O que quero na verdade é te ver, precisamos conversar. 

- Chego aí em 20 minutos. - Desligou sem esperar resposta.

Quando a campainha tocou, meu coração parecia que ia sair pela boca, eu sentia um frio desconfortável na barriga e meus músculos todos estava tensionado. Segurei na maçaneta e respirei fundo antes de abrir a porta. Camila estava de short jeans e uma blusa folgada demais pra ser dela, seu cabelo estava amarrado num rabo de cavalo e ela hesitou um pouco, me encarando com um olhar sem o brilho que me era familiar. Eu não achei que era capaz de emitir algum som, então apenas fiz o gesto pra que ela entrasse. Ela então caminhou até o centro da sala e eu mantive uma distancia considerável.

- Pensei que estaria vendo o jogo do Austin. - Estava tão atordoada que recorri a ironia. Ela me encarou como se não estivesse entendendo.

- Do que você tá falando? - perguntou incerta

- Olha que legal, Camila. Ontem o cara que você ficava me informou alegremente que vocês são amigos, que agora trocam mensagens, mas que eu poderia ficar tranquila. É apenas pra manter a harmonia do nosso grupo de amigos. - Eu falei sem conseguir conter a raiva em minha voz.  

- Eu não acredito que virei a noite chorando tentando falar contigo, que sai de casa do jeito que tava assim que você resolveu dar notícias, pra chegar aqui e ouvir essas merdas, Lauren. - Camila nem tentou se conter e respondeu gritando.

- Sabe o que é uma merda, Camila? É você ficar de conversinha com o Austin sem me avisar, você realmente achou que isso tá tudo bem? Em que mundo você vive? - Comecei a gritar também, nos olhávamos furiosas e eu sabia que tinha o rosto vermelho. Eu estava me descontrolando.

- Você não pode falar isso, não pode, enquanto você continuar falando com a Alexa. - Ela se aproximou com o indicador erguido, o colocando próximo ao meu rosto

- Porra Camila, você realmente vai comparar sua amizade com o Austin com a minha e a da Alexa? Você é maluca ou tá se fazendo? - Eu passei meus dedos pelos meus cabelos, agarrando minha nuca com força e sai de perto dela, indo em direção ao sofá.

- Você tá me chamando de Maluca? Eu não sou maluca, sua idiota. Eu só quero saber porque o seu ciúmes é mais importante que o meu! Me explica, Lauren! - Ouvi sua voz cheia de raiva atras de mim.

Me sentei no sofá e tentei respirar fundo enquanto olhava pro chão. Estava acontecendo justamente o que eu temia, a conversa tinha ido pela direção errada, eu estava perdendo o controle e já nos atacávamos sem caminhar realmente para alguma solução. Eu precisava de mais tempo, precisava colocar os pensamentos em ordem, aquela conversa teria que ser adiada.

- Isso não tá funcionando Camila, melhor pararmos agora - Falei tentando controlar a situação.

- Você está terminando comigo, Lauren? 
 

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