Capítulo 24

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Acordei com a cabeça latejando e morrendo de sede, reuni forças pra levantar e tomar um banho. Tentei acalmar a empolgação matinal do Paçoca para que não acordasse Camila, mas não adiantou muito e logo a ouvi resmungando. 

Ela sentou na cama com o cabelo bagunçado, esfregando os olhos de um jeito super fofo e abriu os braços parecendo uma criança. Beijei o topo de sua cabeça enquanto ela se agarrava na minha cintura, enfiando o rosto em minha barriga. Eu já estava em pé, a caminho do banho e incentivei pra que ela fizesse o mesmo. 

A ressaca não estava tão grande quando poderia, mas ainda assim se fazia presente. Nos limitamos a apenas banhar, qualquer coisa a mais exigiria uma disposição que nenhuma das duas tinha naquele momento. Saímos do quarto com os cabelos lavados em busca de algo pra comer. Mesmo sendo domingo, Maria tinha estado no meu apartamento. Ela já tinha organizado tudo da noite anterior e a mesa do café estava posta. Chris estava largado no sofá, dedilhando alguma música que eu não consegui identificar no ukulele, Paçoca deitado ao seu lado.  Virou a cabeça em nossa direção ao ouvir os passos.

- Bom dia! - Era um pecado alguém ser tão feliz enquanto eu estava acordando.

- Como que você tá em pé? Fomos dormir e não tinha chegado ainda. - Falei bem menos empolgada que ele.

- Acordei pra conversar com Maria e matar a saudade dela e dos seus waffles, é claro. - Ele contou sorridente.

Sentei na mesa procurando por água e café, Camila já comia tudo que estava ao alcance de suas mãos. Chris contava animado como tinha sido o restante de sua noite e eu ficava melhor a cada gole de café. 

- E quais os planos pra hoje? - Camila enfim se manifestou, também parecia bem mais disposta.

- Como assim, quais os planos pra hoje? - Chris respondeu apontando para sua camisa azul, nela estava escrito "Indians" em vermelho e branco. Minha namorada olhou confusa e eu estava incerta sobre a sugestão, então ele voltou a falar um pouco chocado com minha inércia - Hoje é dia de baseball! Você não está acompanhando a temporada regular, Laur?  

- Não estou acompanhando, não. Não tem graça ir ao estádio e asssitir os jogos sozinha. - Expliquei, e era verdade. Minha família sempre via os jogos juntos e apesar de ter tentando ver algumas vezes só, não foi a mesma coisa, era quase doloroso, na verdade.

- Mas eu estou aqui, e Camila vai com a gente também. Além do que, hoje vamos destruir o seu White Sox e eu quero estar no estádio pra ver sua cara enquanto isso acontece. 

- Você torce pro Indians. - Camila afirmou apontando pro Chris, depois olhou pra mim incerta e perguntou - E você torce por White Sox? Como isso é possível? - Aquela era uma das maiores rivalidades da liga nacional.

- Isso é possível quando seu irmão nasce com o dom da chatice. Meu pai era fanático pelo White Sox e todo o resto da família seguiu o mesmo caminho. Menos o Chris, que em algum momento rebelde de sua puberdade chegou em casa dizendo que torcia pelos Indians. Isso foi pior, muito pior, que chegar bêbado, engravidar uma garota ou fazer uma tatuagem, foram tempos difíceis. - Falei me divertindo ao lembrar daquele dia.

- Nem me fale, mas amor por um time não é algo que você escolhe. - Chris se justificou.

- Na verdade, ele já tinha se tornado um traidor ao entrar pro time de basquete da escola. Ali foi a primeira pista de que não entendia absolutamente nada de baseball. - Impliquei

- Jogar basquete foi um meio pra atingir um fim, com isso conseguir ficar com todas as meninas da escola que quis.

- Eu consegui ficar com todas as meninas da escola que quis e jogava softball, argumento falho. - Mal terminei de falar e senti um pão atingindo minha têmpora. Olhei confusa pra uma Camila raivosa e ouvi a gargalhada do meu irmão.

- Então, vamos ao jogo? - Ele parecia uma criança ansiosa.

- Vamos, amor, nunca fui ao estádio de baseball! - Minha namorada se empolgou também. 

- Vamos, então! - Concordei feliz, eu sentia muita falta de baseball pra falar a verdade.

Procurei minha camisa da sorte no closet, não queria arriscar uma derrota logo contra os Indians no primeiro jogo que Camila iria assistir no estádio. Achei o uniforme feminino branco com listras pretas finas e enquanto o abotoava, pensava no que daria pra minha namorada vestir. Escolhi uma blusa preta personalizada com o simbolo do white sox branco na frente, atrás tinha 'Jauregui' em cima do número 27.

Olhamos uma pra outra, aprovando simultaneamente nosso visual. Além da blusa do time, usávamos short jeans curto e vans branco, eu gostava de sair 'combinadinha' com Camila porque era mais um sinal de 'Ela tá comigo!'. Arrumava meu cabelo em frente o espelho do closet quando a vi colocando um boné do time na cabeça, a ajudei o colocando pra trás. O boné era um pouco grande pra ela e talvez a blusa também, mas ela parecia tão fofa vestida naquilo. E eu tava adorando a ideia dela usar meu sobrenome, talvez estamparia todas suas blusas daqui pra frente.

- Você tá muito bonitinha, amor. - Abracei sua cintura e lhe dei um beijo sem pressa nenhuma, finalizei com um selinho em seu pescoço.

- E você tá lindona, mas precisa de um boné também pra ficarmos igual. - Falou tentando achar algum no closet olhando por cima dos meus ombros.

- Pode ser uma touca? -Perguntei pegando uma preta, ela confirmou com um gesto de cabeça, coloquei a touca no bolso e saímos de mãos dadas ao encontro do Chris.
 

Eu tinha sentido saudades de ir no estádio e estava gostando muito de estar de volta com Chris e Camila. Escolhemos um assento perto da primeira base, assim teríamos uma ótima visão do jogo. Eu tentava explicar as regras pra minha namorada, mas não estava tendo muito sucesso.

- Apenas grite quando eu gritar e xingue quando eu xingar, ok? - Resumi.

Ela captou a mensagem e as vezes se empolgava até mais do que eu.

- Estou fazendo certo? - Perguntou ansiosa com um sorriso enorme no rosto.

- Está sim, amor. Apenas tente não falar muitos palavrões seguindo, você está assuntando um pouco aquela senhora ali na frente. - Ela concordou balançando a cabeça freneticamente e em seguida gritou um 'Go Sox' que eu tenho quase certeza, foi ouvido por todo o estádio.

Eu estava ficando nervosa, o jogo estava difícil. Chris também estava tão nervoso que não conseguia fazer piadinhas. Camila só ficava esperando que eu gritasse ou xingasse enquanto comia pipoca, cachorro quente, nugguets, donuts, ou que mais que vendesse por lá. Eu realmente não conseguiu entender pra onde ia tanta comida, ela nem fazia exercício ou coisa do tipo. 

Após muitos gritos e palavrões, os whites sox ganharam, acabando a partida com um home run. Camila pulou enroscando as pernas na minha cintura e me deu um beijo empolgada.

- Quero vir a todos os jogos, amor. - Ela falou ainda agarrada em mim.

- Nós viremos, amor, porque você me dá sorte. - E eu não estava falando só de baseball.  
 

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