Prólogo

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"E de repente a vida te vira do avesso e você descobre que o avesso é o seu lado certo."

Caio Fernando de Abreu

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Correndo pelo jardim da mansão onde acontecia a festa para a qual fui convidado, sentia-me como um espírito livre, como alguém que poderia conquistar tudo o que quisesse e ter tudo o que almejasse. As luzes agora distantes da casa iluminavam a noite na região e os pequenos pontos que brilhavam lá em cima decoravam o céu trazendo uma sensação de conquista e de que tudo poderia ser facilmente alcançado.

E com sorriso no rosto e de braços abertos, senti o vento bater em meu corpo e ser deixado para trás. Meus pés calçando all-star preto de cano alto encontravam com o chão bem asfaltado e vez ou outra o barulho do atrito com as pequenas pedras no caminho podia ser ouvido.

Vestindo uma jaqueta verde-musgo com mancha de café e trajando uma calça jeans muito apertada preta, eu sabia que cada célula de meu corpo estava embriagada até porque eu me sentia quente e minha visão estava levemente embaçada. No entanto, apesar do álcool em meu sangue, a consciência de minha realidade ainda se fazia presente.

Porque eu, Louis William Tomlinson - nascido em uma cidadezinha do interior também conhecida como Doncaster -, poderia dizer que tinha uma vida de merda.

Uma vida incontestavelmente de merda.

E como em todas as histórias sobre uma vida miserável, a minha não poderia ser diferente. Afinal, todos os empregos nos quais trabalhei durante minha vida forneciam um pagamento ruim devido, principalmente, ao baixo nível de escolaridade - ou seja, terminei o segundo grau e desisti de qualquer universidade, pois aquilo definitivamente não era para mim. Como se não bastasse, os chefes com quem tive de lidar foram extremamente sacanas, fazendo-me trabalhar incessantemente, sem folgas para o almoço e muito menos liberando os fins de semana.

Eu me recordava muito bem da época em que tinha dez ou doze anos, mais ou menos, e trabalhava entregando jornais nas casas lindamente decoradas, com jardins floridos, carros belos na garagem, famílias muito bem vestidas e com bicicletas que eu sempre desejara ter, mas nunca fora possível ganhar. Com o passar do tempo, no entanto, aquela realidade que eu apenas observava e não poderia alcançar começou a fazer parte de um doce sonho meu.

E para ser sincero, sempre fui um sonhador. Não era apenas uma bicicleta que sempre desejei. Quero viajar pelo mundo e conhecer cada canto dele. Austrália, Bélgica, EUA, Arábia Saudita... Quero ter um livro de viagens onde poderei guardar minhas recordações. Desejo imensamente ter dinheiro o suficiente, o meu dinheiro, para me hospedar em um hotel de luxo e admirar o pôr do sol enquanto bebia uma taça de champanhe na sacada com vista para o mar.

Não é tão ruim assim ser um pouco ganancioso, é?

Porque se for, eu não me importarei nem um pouco. O que sempre quis, desde pequeno, fora ser rico o suficiente para não precisar me preocupar com despesas. Não sonho com um amor como muitas pessoas o fazem e nem com a profissão dos sonhos, afinal não me identifico com nada e não tenho talento para coisa alguma que as universidades possam oferecer.

Anseio por riqueza, status, poder e estabilidade econômica.

Desejo aquilo que posso encontrar em uma festa da qual eu acabara de sair levemente bêbado.

Ou aquilo que encontro em homens com quem passo apenas uma noite e desfruto de todos os minutos que posso em suas imensas mansões. Anseio por mais presentes semelhantes aos quais tenho ganhado desses mesmos rapazes. Joias, carros, viagens de luxo e festas extravagantes.

Strange Destiny (Larry Stylinson)Onde histórias criam vida. Descubra agora