Capítulo 2

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Olho fixamente para o capacete em minhas mãos. Respiro fundo.

Estamos prestes a entrar em campo, e mesmo depois de todos esses anos jogando profissionalmente, ainda sinto um friozinho na barriga antes de começar cada partida.

Mas meus pensamentos não estão completamente no jogo dessa vez. Penso em Ella, e Chris e no bebê.

Sei que minha mãe está com eles e se tivesse acontecido algo ela me avisaria. Eu a fiz prometer me avisar. Mas a gravidez de Ella teve complicações e o médico disse que o parto pode ser perigoso.

Estou tão preocupado com ela e o bebê.

Por favor, que nada aconteça com eles.

— Está na hora, pessoal! — Alguém grita, mas minha mente está dispersa demais para identificar quem.

Respiro fundo mais uma vez e coloco o capacete.

O jogo vai começar.

***

O suor escorre dos meus cabelos por meu pescoço e minha testa. Estou acabado.

Paro para recuperar o fôlego, mas logo sou puxado por braços fortes.

O time todo comemora, vencemos mais uma vez. Por pouco, mas vencemos.

Conforme a adrenalina vai deixando o meu corpo, começo a sentir o cansaço e as dores costumeiras.

Meu time e eu comemoramos juntos, fazemos algumas gracinhas para as câmeras, damos algumas entrevistas rápidas na beira do gramado e voltamos para o vestiário.

Tiro o equipamento e as roupas suadas e vou para debaixo da ducha morna.

— Ah! — Apoio a mão no azulejo à minha frente e exclamo ao sentir a água em minhas costas.

Tomo um banho rápido, pois ainda temos uma coletiva para fazer, só então poderemos ir para o hotel dormir um pouco.

Meu voo sai amanhã logo cedo, a tempo de chegar em casa para o almoço.

Enrolo a toalha na cintura e vou até meu armário, visto minhas roupas e espero pelos caras que ainda não estão prontos.

Vinte minutos depois estou sentado em uma cadeira com um microfone na cara enquanto encaro mais de trinta jornalistas de uma vez.

Um cara de um blog esportivo faz uma pergunta e deixo um dos meus colegas responder, depois uma pergunta especifica para mim é feita e eu a respondo da forma mais breve possível. Estou tão cansado.

Mais algumas perguntas são feitas para mim. Estou no meio de uma resposta quando um dos assessores do time faz sinal para mim.

Me calo no mesmo segundo e meu sangue gela.

Só há uma razão para ele estar interrompendo a entrevista. Algo aconteceu com Ella.

— Com licença! — Levanto-me e caminho para longe, ignorando o burburinho que se forma atrás de mim em reação a minha partida súbita.

Chego ao homem em poucos passos e quase o jogo contra a parede.

— O que foi? — Pergunto, nervoso, mesmo sabendo que o pobre homem não tem culpa nenhuma. Eu o havia instruído a me chamar no mesmo segundo caso alguém ligasse com noticias da minha família.

— É sua esposa, Sr. Price...ela...ela está no hospital.

— O que aconteceu com ela? Ela está bem? — Pergunto, o medo de que algo tenha acontecido me deixando paralisado.

— Foi sua mãe quem ligou, parece que seu filho está para nascer.

— O que? Não! Ainda faltam quatro semanas! Droga, e eu não estou lá com ela! Porra! — Começo a xingar e me desesperar.

Se o parto já seria arriscado no tempo certo, quem dirá um mês antes!

— Deus do céu! O que eu faço? Preciso ir pra lá agora! — O desespero toma conta de mim. Preciso estar com Ella, não posso perder o nascimento do meu filho ou filha. E se algo acontecer...não, nada irá acontecer.

— Quero estar em um voo para o Texas na próxima meia hora, entendeu?

— Mas, senhor...

— Meia hora! — Grito para ele e vou embora. Preciso ir para o hotel pegar minhas coisas.

Ella, minha pequena, aguente firme que estou chegando.

***

— Como assim não têm nenhum voo indo para o Texas?

— Sinto muito, senhor, mas...

— Mas o que? Hein? — O pouco de paciência que eu tinha acabando. — Minha mulher está no hospital e meu filho vai nascer a qualquer momento e eu preciso estar lá com eles. Entendeu?

— Sim, entendi, senhor, mas não há nada que eu possa fazer, o próximo voo para o Texas sai amanhã pela manhã. Gostaria de fazer uma reserva?

— Eu sei que tem a porra de um voo pra lá amanhã porque eu estou nele! Jesus! — Passo a mão pelos cabelos, completamente frustrado.

— Então por que o senhor não aguarda até amanhã e...

— Você não ouviu o que eu...ah, deixa pra lá, merda! — Afasto-me do balcão e pego meu celular.

Assim que minha mãe atende lhe pergunto:

— Mãe, como está Ella e o bebê?

Está tudo bem por enquanto, filho, ela está na sala de operação. Eles vão fazer uma cesárea, a pressão de Ella está muito alta e eles não querem arriscar.

— Quanto tempo eu tenho?

Sinto muito, filho, mas não acho que você vai conseguir chegar à tempo para o parto.

— Porra! Caralho! Mas que merda de... — Começo a praguejar, me esquecendo que é minha mãe que está do outro lado do telefone.

— Mãe, fique com a Ella e se acontecer qualquer coisa me avise. Eu vou dar um jeito de chegar aí o mais rápido possível. — Digo e desligo.

— Sabia que não deveria tê-la deixado. — Digo para mim mesmo enquanto pesquiso em meu celular uma empresa de jatinhos particulares.

Não deveria ter me afastado da minha pequena. Não deveria. Agora vou perder o nascimento do meu filho.

Contos da série da PaixãoOnde histórias criam vida. Descubra agora