Prólogo

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1998

Já estava tarde.

Implorei para que mamãe ligasse para o papai me buscar mais cedo, mas ela se recusou. Um monte de vezes.

- A cidade está um caos, ninguém consegue passar da altura da Times Square, você vai voltar comigo mais tarde e acabou a discussão.

Passei o resto da tarde e muito mais do que o início da noite com ela em seu escritório de frente para o Bryant Park.

Eu vi as pessoas andando de um lado para o outro na rua, devidamente vestidos com roupas com as cores da bandeira dos Estados Unidos, comprando cachorro-quente e refrigerante. Vi um cachorro se assustar com o barulho e se esconder por baixo de uma mesa verde de ferro atrás da biblioteca. E vi um menino dividir seu pão com os pombos que formavam um círculo ao seu redor.

Mamãe estava trabalhando no projeto de um casamento e ligava toda hora para milhares de lugares. Ela disse que só iríamos para casa depois que conseguisse marcar alguma coisa que não prestei atenção.

Tive tempo para ouvir todo o cd do N'sync mais de uma vez e, de fato, quando saímos, a rua ainda estava lotada, mesmo já sendo perto de meia-noite.

Era feriado de 4 de julho e a cidade estava em êxtase.

A noite nos presentou com a maior lua que eu já vira. O calor penetrava minhas roupas e me fazia suar. Papai não mentiu quando disse que seria um verão muito, muito quente.

As pessoas andavam animadas, deitavam na grama da praça e cantavam com toda a força dos pulmões.

Meu pai ligou umas 5 ou 6 vezes para mamãe, perguntando se ela já tinha conseguido um táxi para nos levar para casa.

- Não Robert, não consegui. Vou pegar um metrô para subir até a 86 e de lá podemos ir andando até em casa. – Pausa. – Não precisa nos buscar, é um pulo. – Pausa. – Não Robert, a rua está movimentada, não há o menor problema, ok? Nos falamos quando chegarmos em casa. – Pausa. – Pode deixar. Também amo você, querido.

Minha mãe me arrastou rua abaixo depois de me dar ordens precisas para guardar o discman e, caso nos separássemos, procurar a primeira loja aberta e ligar para o seu celular, sem falar com ninguém na rua.

Enquanto andávamos pela 42 até a Grand Central, várias pessoas esbarravam e gritavam e riam e se divertiam.

Não reparei bem quando tudo passou do ponto da euforia para o medo e o desespero.

Eu estava assustada, agarrando a mão de minha mãe como se minha vida dependesse de nunca a soltar, com um medo enorme de me perder.

As pessoas gritavam palavrões e indignações, alguma coisa acontecera.

Mas, graças a Deus, antes que mais alguém pudesse ameaçar quebrar o elo entre mim e mamãe, ela me puxou para dentro da minha estação preferida.

O teto azul me trouxe a paz que costumava e toda a sensação negativa de antes de dissipou em um sorriso que lancei a mamãe.

A viagem foi tranquila. Os primeiros 15 minutos passaram rápido, só estávamos nós duas, um senhorzinho, uma moça dormindo e um rapaz tocando violão. Eu andava de um lado para o outro pelo vagão com o discman no volume máximo.

Mamãe parecia tão cansada, que ela nem ao menos mandou que eu me sentasse. O trem sacolejava para lá e para cá, e eu quase caí algumas vezes.

- Mãe, posso pegar mais um bombom?

- Não Liz, mas você pode parar de andar de um lado para o outro.

- Ai mão, me deixa!

- Mas estamos quase chegando, fique aqui comigo.

Eu estava pronta para responder, mas um homem grande entrou no último minuto antes da porta se fechar em uma estação e apontou uma arma diretamente para minha mãe.

Ele gritava coisas que eu não entendia e então só me encolhi por entre as pernas de minha mãe.

- Eu vou falar de novo. – Ele repetiu calmamente. – Eu não quero machucar ninguém, então vamos simplesmente passar o dinheiro, as joias e quem tiver celular.

Senti minha mãe se remexer acima de mim.

- Por favor, se você não quer machucar ninguém, abaixe essa arma.

- VOCÊ NÃO MANDA EM MIM! – Ele gritou, sacudindo o revólver para o alto.

As paredes cinzas do vagão ficaram geladas, apesar das ondas de calor da superfície. A tensão era quase palpável e nem percebi que algumas lágrimas escorriam do meu rosto.

E aí foi tudo muito rápido.

A moça que estivera dormindo soltou um grito que fez o rapaz deixar o violão cair no chão. O senhorzinho fez como se fosse asfixiar e minha mãe levantou de sobressalto.

Nesse mesmo instante, a porta se abriu na estação e o homem atirou, fugindo em uma velocidade que não consegui nem identificar.

Minha mãe soltou um grito e, quando a vi, sua blusa branca tinha uma mancha muito grande de um vermelho escuro.

Ainda tenho a clara memória de alguém me puxar enquanto eu gritava, implorando para que ela me respondesse.

Alguma coisa, mesmo no auge dos meus 8 anos, me dizia que minha mãe não estava só de olhos fechados.


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Oi oi gente!

Bom, primeiro deixa eu me apresentar! Meu nome é Marina, mas podem me chamar de Mari, Nina ou o que quiserem :)

Eu já postei algumas coisas aqui no Wattpad, mas infelizmente nada que tenha ido pra frente :(

NYL é um projeto que comecei tem pouco tempo, mas já tem um lugarzinho mais do que especial no meu coração. Espero que vocês se identifiquem com a Liz e curtam ler o livro, assim como eu estou curtindo escrevê-lo.

Nova York é a cidade do meu coração e eu não podia ter escolhido outro lugar para contar essa história.

Então, é isso hehe

Eu pretendo postar um capítulo novo a cada semana ;)

Beijinhos a todos, e bem-vindos ao universo de Liz <3

Para Sempre Nova York  [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora