VINTE E OITO

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2014

- Isso foi golpe baixo! – Reclamei, enquanto puxava uma pequena mala pela Penn Station.

Gabriel caiu nas graças do meu pai assim que contou sobre os planos de me tirar da cidade para um final de semana de diversão.

Mas é claro que ele ocultou que seu significado de diversão muito possivelmente não entraria nos padrões aceitáveis por papai.

- Eu queria Havaí. – Ele disse. – Mas Liz disse que é uma viagem muito cansativa para se fazer em um final de semana só.

Ele e papai ficaram um bom tempo discutindo sobre destinos, o suficiente para eu quase perder a hora de vez.

O fato é que ele me convenceu a ir para Philadelphia, depois que meu pai revelou que era uma das minhas cidades preferidas.

Fazia um tempo desde que eu não visitava e, no fundo, eu estava animada.

Fomos de trem, pela rota expressa. Eu queria que Gabriel experimentasse uma das viagens que me fizeram gostar tanto da cidade, mas não consegui que ele aceitasse ir de ônibus, como eu, Mark e Belle fizéramos havia alguns anos.

- Eu já tenho todo o roteiro pronto na minha cabeça. – Falei quando desisti de fingir que estava odiando a viagem. – Nós vamos chegar, deixar as malas no hotel e andar um pouco pela cidade. Você precisa conhecer a Benjamin Franklin Parkway, que é a rua das bandeiras. E o Reading Terminal Market, onde tem o melhor sanduíche do mundo. E é claro que temos que ir ao Longwood Gardens, mas podemos fazer isso amanhã de tardinha e emendar para ficar lá até depois do anoitecer. Eu garanto que você nunca viu nada igual!

Eu estava tão empolgada que não conseguia parar de falar. Gabriel me olhava risonho, mas concentrado em seu porta-whisky, que ele mantinha dentro da jaqueta de couro.

- Tem uma prisão famosa também, não tem? Eu li alguma coisa sobre ela. – Ele perguntou.

- Sim! Acho que foi a primeira prisão de verdade dos Estados Unidos, onde ficou preso o Al Capone. Quando eu vim pela primeira vez, Belle contou histórias de que ela é mal-assombrada.

A viagem foi bem curta, pouco mais de uma hora, na qual Gabriel bebericou seu whisky, cochilou e levantou umas dez vezes. Ele disse que não conseguia se sentir muito confortável em viagens de trem.

Então, assim que chegamos, deixei que ele alugasse um carro e fomos para o terminal. Era como um mercado municipal, que tinha como carro chefe, o Philly Cheesesteak – um sanduíche super tradicional da cidade.

E é claro que Gabriel, do alto do seu refinado gosto inglês, fez cara feia.

- Você não pode vir para a Philadelphia e simplesmente não comer um Philly Cheesesteak! É um clássico!

- Eu nunca vou comer isso. – Ele disse, já virando de costas. – Por que não podemos simplesmente procurar um restaurante decente pra almoçar?

- Bom, se você quiser, vá em frente. Mas eu vou ficar aqui e comer um sanduíche. – E então me virei para o vendedor e fiz meu pedido.

Ele me olhava como se eu fosse um aliem, enquanto eu segurava o sanduíche monstruoso com as duas mãos.

- Como você consegue?

- É cebola, pimentão, carne e queijo! – Ri. – Por que eu não conseguiria?

- É nojento. Eu me recuso a acreditar que isso não cause um grande estrago dentro de você.

- É gostoso! – Ri.

Gabriel preferiu não arriscar muito e tomou só um sorvete na sorveteria mais antiga dos Estados Unidos.

Ele queria escolher um sabor de baunilha francesa, mas eu dei um pequeno ataque.

- Pelo amor de Deus, você está nos Estados Unidos! – E virei para atendente por trás do balcão. – Por favor, ele vai querer duas bolas. A primeira pode ser de Vanilla Fudge, já que ele quer tanto o sabor mais sem graça do universo. Mas a segundo, por favor, capricha no Cookies and Cream.

Ele tomou satisfeito e me agradeceu pelo melhor sabor de sorvete que ele já tomara na vida. E, realmente, Deus abençoe os Estados Unidos por ter essa maravilha chamada Cookies and Cream.

- Não é o melhor sorvete do mundo. – Ele disse. – Mas está no meu top 5, com certeza.

Gabriel também ficou louco quando viu uma Linzertorte, uma torta tradicional da Áustria que ele apaixonado. E aí comprou cinco unidades inteiras. Uma para comermos no hotel durante o final de semana, uma para Lionel, uma para dar para o meu pai e ele disse que daria as outras duas para alguém, mas talvez ele mesmo ficasse com elas.

- É sério, você precisa experimentar isso.

Depois do mercado, fomos até a Benjamin Franklin Parkway em busca da bandeira do Reino Unido. Como eu conhecia melhor a cidade, eu dirigi, mesmo que com as pernas bambas. Por toda a minha vida, eu tinha dirigido única e exclusivamente para tirar a carteira de motorista, nunca mais. Mas Gabriel insistiu, dizendo que ele queria ver as paisagens sem ter que prestar atenção no trânsito. E eu vira como ele estranhou a diferença mais cedo, já que na Inglaterra é tudo ao contrário.

- Vai me dizer que está arrependida de ter vindo. – Gabriel perguntou, passando os braços em torno dos meus ombros.

- Eu nunca disse que não gostaria de ir para qualquer lugar. Eu só não gosto de deixar meu pai sozinho em casa. Sabe, eu só confio em Donna para ficar com ele, mais ninguém.

- Mas o que aconteceu com ele? Você disse que foi um AVC, mas o que ocasionou isso?

- Ele sempre foi hipertenso. Acho que desde que eu era muito pequena. Mas era um cara relativamente relaxado, que curtia a vida com a esposa e a filha. Viajada mais a lazer do que a trabalho. Ele gostava de viver. Depois que minha mãe morreu, quando eu tinha oito anos, ele virou outra pessoa.

- Como assim? – Ele perguntou.

- Ah, primeiro ele surtou com a questão da segurança. Não sei se a Belle te contou, mas minha mãe foi assassinada no metrô, na minha frente. Não se preocupe, não fiquei traumatizada por causa disso. – Acrescentei quando ele me encarou com os olhos arregalados. – Mas meu ficou obcecado pela minha segurança e, ao mesmo tempo, nunca superou a perda de minha mãe. O que ele fez foi se enterrar cada vez mais no trabalho.

- Vem cá. – Ele disse, se abaixando em minha frente, de costas para mim. – Hoje não é pra pensar em coisas ruins.

E, antes que eu pudesse ter qualquer reação, ele pegou minhas pernas para que eu subisse em sua garupa e correu pela rua, perguntando a direção para onde deveria ir.

Eu ri até minha barriga doer.

Essa rua era a mais fria que eu conhecia, a que mais ventava. E eu precisei me concentrar para não bater queixo.

Gabriel só parou quando chegou à uma praça com a fonte do memorial Swann. Ele estava completamente sem fôlego, mas estava rindo todas as vezes que nossos olhares se cruzaram.

- Está se divertindo? – Ele perguntou.

- É claro que sim!

E eu estava mesmo. No que dependesse de mim,esse final de semana poderia durar para sempre.


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Oi gente!

Que que aconteceu com vocês???

Eu achei que a Belle ia chocar um pouco vocês, mas ninguém disse nada =O

Deixei pra postar o capítulo hoje porque já é novembro, mês do meu aniversário. Logo, mês que eu devo ser paparicada com muitas estrelinhas e comentários! 

Até porque vai ser um mês tenso pra Liz!

E aí, estão curtindo o efeito Gabe na vida da Liz?

Eu fico na eterna indecisão se gosto ou não hahaha Mas vamos lá.

Me digam o que acharam e sexta tem mais! <3

Para Sempre Nova York  [COMPLETO]Onde histórias criam vida. Descubra agora