Capítulo DOIS

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- Hora de acordar, novato - gritava Joshua que por um acaso estava no mesmo dormitório que o meu.

- O quê? O que vamos fazer?

- É o seguinte, levanta, se veste e eu o levarei para o treinamento. Por sorte é do meu esquadrão, verifiquei isso ontem para você.

- Obrigado, mas...

- Por que sempre tem um, "mas"?!

- Por que está me ajudando?

Ele não respondeu, apenas começou a calçar os sapatos. Me levantei e vesti uma calça olhando para o espelho, me lembrando de Lydia e do que ela me contou. Pensei em Joshua, parecia um cara legal, talvez fosse popular por ali, mas não hesitou em me ajudar. Comecei a entender a definição de Paraíso.

O banheiro estava vazio, era possível ouvir apenas o barulho da torneira pingando repetidamente.

- Ei, Ethan, anda logo com isso - gritou Joshua batendo na porta que imediatamente abri - Ah, aí está você! Vamos, não vai querer chegar atrasado.

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A mesma série de corredores pelos quais passei no dia anterior com Lydia, só que com pessoas de mau-humor e claro, muitas, muitas vozes, até enfim chegarmos no campo de treino.

- Joshua e... novato, estão um minuto atrasados.

- Marcus, eu estava ajudando ele, sabe como é essas coisas.

- Como ousa me chamar de Marcus?

- A-ah... Senhor Marcus.

- Vocês dois, na minha sala, depois do treino.

Pode ser paranoia minha, mas juro tê-lo visto piscar.

O treino era tão difícil quanto esperava. Dei uma espiada completa por todo recinto, até que Marcus, o líder, veio me guiar.

- Somos divididos por habilidades, mas tem que treinar todas de qualquer forma, até mesmo as que não é tão bom assim, quando descobrir sua habilidade, vai poder deixar as outras categorias, se quiser, claro. Algumas pessoas costumam escolher algo primeiro, então...?

Olhei novamente ao redor; Pontaria com facas? Não, não era meu forte. Arco e flecha? Pouco provável. Arma? Não muito. Escalada?

- Acho que consigo escalar - disse olhando para a parede que aparentava ter uns cinco metros de alturas e algumas das pedras se desintegravam.

- Tem certeza disto? - Balancei a cabeça positivamente - O.K; vai ter que fazer todas as categorias de qualquer jeito, mesmo.

- Obrigado, senhor.

_

Faltando alguns centímetros para acabar a escalada, pisei em uma pedra que se desintegrou no ar. Tentei firmar com as mãos, mas foi inútil.

Eu estava com a cara no chão, quando Marcus veio finalizar o treino.

- Por hoje é só pessoal - ele me ofereceu a mão - Isso é normal, tá?! Amanhã procure uma categoria melhor...

- Ei! Por que gritou comigo daquele jeito? - Disse Joshua, quando todos tinham saído do campo.

- Já conversamos sobre você me chamar de Marcus na frente dos recrutas, não?

- Já, mas poderia ter pegado leve comigo...

- Daí teria que pegar leve com todo mundo.

- Como se já não pegasse...

- Dez voltas completas no campo.

- O quê?! - Gritou Joshua arregalando seus olhos para o líder.

- Você, pode ir...

- Ethan.

- Claro. Pode ir Ethan, Joshua te encontrará depois.

Joshua ergueu as sobrancelhas para Marcus, mas não disse nada. Balancei a cabeça me despedindo dos dois e saí em direção ao refeitório. Sentei no mesmo lugar, ao lado de Lydia e de outro garoto de olhos puxados.

- E aí, cara?! Eu sou Castor! - Disse ele, com a voz rouca.

- Ah, nome legal, prazer eu sou Ethan.

- Onde está o Joshua? - Perguntou Lydia.

- Ah, o líder, é.... Marcus, pediu que ele ficasse lá - contei toda história para ela, na intenção de que entendesse bem.

- Ah - ela soltou um risinho - Marcus é muito amigo do Joshua, provavelmente vão ficar conversando.

Olhei para minha bandeja, estava cheia de comida, com um aroma saboroso. Fazia um bom tempo que não comia em abundancia daquele jeito.

Um jovem se aproximou de Castor e juntou as mãos em forma de agradecimento.

- Arigatô.

- Ah! Vocês são um pé no saco, eu sou coreano, já disse.

O garoto saiu correndo enquanto Castor o seguia.

Joshua e Marcus entraram juntos na sala e se sentaram na nossa mesa.

Conversamos e rimos até nos dispersarmos para outra fase do treinamento.

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- Meu nome é Digg e esta é a parte teórica do treinamento dos senhores - dizia o oficial que me guiou até os dormitórios no meu primeiro dia. Estava, literalmente, de volta à uma sala de aula, o que era um tanto estranho, contando com o tempo em que os Raks monopolizaram nossa liberdade. Três anos sem ir à escola. Mil e noventa e cinco dias sem entrar em uma sala de aula - Bem, vamos conhecer o nosso real inimigo. Há três anos o que parecia impossível aconteceu: Uma nave alienígena planou sobre a Terra, infelizmente os condutores da nave não eram nossos amigos. Os Raks habitam um mundo invisível em uma dimensão para além das dimensões existentes de nosso universo, eles visitaram a Terra seis vezes, menos que o normal para um alienígena, isso porque o seu sistema imunitário não pode lidar com a fauna e a flora branca da Terra. Enfim, estes monstros de vários cordões nos atacaram, espalharam doenças, cortaram toda nossa energia e por fim habitaram milhões de corpos até que Mason, diretor deste projeto e fundador deste prédio, conseguiu detê-los fazendo com que fossem embora, mas os milhares de corpos habitados pelos Raks ainda estão aqui - ele me olhou fortemente, esperou alguma reação, o que foi em vão, porque eu continuei imóvel - O projeto Paraíso visa acabar com estes que ainda ficaram, infelizmente não há como tirar o alienígena do corpo humano, portanto devemos mata-lo de imediato, antes que busquem reforços.

Eu sabia de quase tudo aquilo, se é que me entende, mas a forma como Digg pronunciava parecia totalmente sombria e perigosa. Provavelmente estava escondendo algo. Aquele lugar era assim, cheio de mistérios. Também não fiquei surpreso com o fato de termos que matar os humanos hospedeiros, afinal, a humanidade estava em jogo ali, ou matamos, ou somos extintos.

No fim da aula, todos se encontravam cansados, cansados da mesma conversa. Joshua e eu fomos ao dormitório, onde permanecemos até o anoitecer. Meus pensamentos estavam voltados para minha mãe, ela ficara mal nos últimos dias e era impossível não culpar meu pai, se naquele dia ele tivesse ido ao encontro, tudo estaria bem agora. É terrível quando nos encontramos no passado, parece que a vida só vai para frente se consertar o erro que fez lá trás. Eu preciso seguir, preciso encontrar os Raks, matá-los, conseguir o dinheiro para o tratamento com minha mãe e tudo voltará ao normal. É um sonho lindo, mas não passa de um sonho...

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