Capítulo TRÊS

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A flecha voo em direção ao alvo, até que algo inexplicável a fez cair no chão bem antes de acertar.

- É a décima quinta vez que você falha, tem certeza de que não quer treinar outra modalidade? - Perguntou Marcus. Pouco longe dali podia ver Joshua que aparentava estar sentido dó.

- O.K. Eu posso treinar facas... depois de mais uma flecha, por favor.

O líder do esquadrão B suspirou e me entregou mais uma flecha.

Foquei na bolinha vermelha que se encontrava no centro do alvo. Me coloquei na posição que o monitor de Arco e flecha me indicou e então posicionei a flecha no arco. Era só mirar e soltar.

Eu mirei e soltei.

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Os fins de semana no Campo eram completamente entediantes, na verdade eram como se fossem dias normais da semana, porém, sem os treinos e as aulas. Havia uma irritante "regra" no projeto em que você não poderia, de forma alguma, sair do prédio, a não ser que esteja em uma missão, então nada de me encontrar com a minha mãe. Engraçado não terem dito isso quando foram me visitar. O jeito era ficar com meus únicos amigos até então.

- Mas o que tem para fazer aqui nos fins de semana?

- Absolutamente... nada. - Respondeu Lydia.

- O.K; O.K; mas o que vocês fazem nos fins de semana?

- Bem, na verdade Marcus tem uma sala "especial" e a gente fica com ele - respondeu Joshua com um risinho.

Estávamos num corredor, não muito cheio, o que facilitou na ida à sala de Marcus. No caminho, observei um pouco o prédio, haviam algumas pessoas algemadas, o que de fato me incomodou.

- Espera, quem são essas pessoas?

- Alienígenas.

- Mas, como? Não, não. O projeto paraíso afirma que devemos matar os alienígenas, não os prender.

- Ethan, os Raks hospedaram alguns humanos, certo? - Assenti com a cabeça - O que o projeto não conta é que esses hospedeiros ganham habilidades...

- Que seriam...?

- Poderes sobrenaturais, coisas de outro mundo, literalmente.

A vida toda, imaginávamos os extraterrestres como um bicho todo verdinho, com olhos e orelhas gigantes, talvez fossem bonzinhos, talvez não, mas nunca imaginamos algo como os Raks. Eles tiraram tudo de nós. Primeiro cortaram nossa energia e liberaram o caos no mundo, numa sociedade tão monopolizada pela tecnologia, tivemos que voltar à estaca zero, tudo se tornou como antes, não podíamos ter nada que usasse a energia. E então invadiram nosso mundo numa noite qualquer, não houve avisos, não houve alarmes, não houve sinais. Tudo aconteceu tão instantaneamente. Quando alguém não era infectado virava um hospedeiro. Mas poderes?! Por que diabos o governo estava escondendo aquilo da gente?!

- De qualquer forma, por que estão prendendo-os e não os matando? - Especulei.

- Desculpa, eles não passam esse tipo de informação para a gente. Somos tão novatos como. Nunca fomos a uma missão e as mesmas são confidenciais.

Observei uma garota ruiva o rosto rebelde revelava alguma dor inexplicável, o que fez doer em mim também.

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A sala "especial" de Marcus era um tanto agradável, com um televisor de sessenta polegadas e um console de última linha com realidade virtual, era tudo o que eu não precisava no momento. Nunca me dei bem com jogos, mas havia jogado algumas vezes, e não é de longe a pior coisa do mundo. Talvez o meu pouco contato com os mesmos, possa ter gerado esse "desgosto". Joshua me garantiu uma surpresa durante a noite e após o dia na sala de Marcus fomos para o salão onde nos reuníamos para treinar. O lugar estava bem escuro, iluminado apenas por luzes avermelhadas como o refeitório ao anoitecer, um público avassalador preenchia todo o território. Luzes. Música. Calor humano.

Era uma boa hora para pensar nas pessoas que morreram, nos Raks e em tudo mais, porém depois do terceiro copo, tudo parecia não estar no seu devido lugar.

Minha cabeça girava lentamente, um calidoscópio de sentimentos percorreu por todo o meu corpo. Lydia enfrentou a multidão até me abraçar e me beijar lentamente, não perguntei o que aquilo significava porque eu queria mais, queria mais daqueles lábios quentes e confortantes.

Por incrível que pareça Joshua presenciou o beijo e apenas riu, gritando:

- Finalmente! Você é uma verdadeira Jedi dos Beijos!

Apesar de não estar entendendo nada, eu ri, e me deixei levar. Uma energia fora do comum tomava meu corpo por completo. As pessoas pulavam loucamente, como se estivessem em uma discussão séria com a gravidade. Era como se tudo, tudo fosse um conto de fadas e eu não precisasse mais me preocupar com nada, porque tudo estava sob controle.

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A pressão nos meus olhos era evidente quando acordei. Eu estava seminu em minha cama quando Lydia chamou meu nome pela terceira vez.

- A-ah... O que houve? - Perguntei.

- Você tem treinamento daqui há dez minutos.

Me levantei e percebi que me encontrava só de cueca, então puxei o cobertor cobrindo minhas pernas.

- Cadê o Joshua?

- Ele foi na frente, queria falar com Marcus - disse ela achando graça do meu ato vergonhoso.

- O.K. Eu vou me arrumar!

Ela deu um sorrisinho e foi embora, me levantei devagar com um extremo cansaço.

Chovia forte lá fora e tudo o que eu sentia era um frio desconfortante. Ela não comentara nada sobre a festa, pensei. Isso é tão estranho.

Me ajeitei e corri para o treinamento, Marcus ainda conversava com Joshua quando me viu e encerrou o assunto de imediato como se estivessem falando sobre mim. Joshua sempre me ajudara, desde meu primeiro passo aqui, eu tive pessoas me ajudando, mas será que posso confiar nestas pessoas?! Por incrível que pareça o salão de treinamento estava limpo e organizado, não havia indícios de ter ocorrido uma festa na noite passada.

- Desculpe não te esperar - disse Joshua se aproximando enquanto Marcus recebia os outros integrantes - Marcus está bem apreensivo com o nosso avanço aqui, o Esquadrão A vem puxando o saco do governo e isso os põe à nossa frente.

- Como conseguiram arrumar tudo tão rápido?

- Hã?

- O salão, como arrumaram?

- Ora, ninguém bagunça o salão. Marcus provavelmente te daria uma advertência se fizesse isso...

- Mas e a festa?

- Festa?

Minha cabeça começou a latejar, não era um sonho, afinal, o que aconteceu depois que saímos da sala de Marcus? Por que tudo o que tinha na minha mente chegava até a festa?

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Depois de meia hora tentando convencer Marcus para me deixar ir ao banheiro, lá estava eu. Sentado em algum lugar depois da ala F, desconhecido, mas sem barulho o que o tornava aconchegante. Provavelmente já vira esse lugar... quando passamos num corredor que levava a sala de Marcus. Continuei andando sem rumo, o Campo era grande e bem aconchegante, por assim dizer, a alta tecnologia do governo passava por lá e ali ficava, com o tempo se tornou algo bastante tecnológico com a única coisa natural sendo nós, os humanos. Para uma primeira semana num lugar duro como este, eu já me encontrava perdido e pensando no quão bem eu estaria se estivesse em casa e não em um lugar louco. Talvez eu estivesse ficando louco, independente do que era, tinha haver com os Raks, tinha haver com esse Campo.

Andei mais alguns passos até chegar em um corredor cheio de celas. As "pessoas" com poderes estavam nelas, todas dormindo, apenas uma garota ruiva acordada, era a garota ruiva. Quando percebeu minha presença ficou assustada.

- Ah, Oi?

- Oi - respondeu ela, com desconfiança - Não deveria estar dormindo?

- Não, bem, por que diz isso?

- Imaginei que nos deixariam dormir agora, já que com o som daquela festa ficamos acordados a noite toda.

- Espera, então teve uma festa?

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