Capítulo NOVE

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Mais uma vez Joshua chegara com outros dois guardas.

Desta vez, abriram a cela e me tiraram, deixando que eu me apoiasse neles. Dei uma última olhada para Lara:

- Eu vou te tirar daí - disse, mesmo sem saber se eu estava indo em direção a morte, o que se mostrou um equívoco, quando eu acordei deitado numa cama na parte hospitalar do campo. Os poucos raios de sol infiltravam a janela, aquecendo levemente minha pele. Era outono quando me prenderam na sala escura, agora estava eu no frio do inverno.

Quanto tempo? O que acontecerá nesse tempo todo? As perguntas não cessavam em minha cabeça. Fiquei pensando em Lara, em Lydia... em todos.

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Diferente de muitos, eu gostava do verão. Os verões em Breckenridge são quase indiscerníveis, as montanhas congeladas que envolviam a cidade, traziam o frio constante. O prédio, feito pelo governo, do projeto ficava na montanha mais baixa, e de fácil acesso à toda população. Afinal, estariam se escondendo de quem?! De certo modo, só de estarem em uma cidade pequena, como essa, já era uma pista de que estavam se escondendo, mas a população, amedrontada, não ligou os fatos. Confesso, que também não, mas agora, tudo faz sentido. Como puderam matar todas aquelas pessoas? Como podem destruir todo um continente? Que espécie é capaz de destruir, não só uma nação, mas um planeta inteiro?

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Por as noites serem mais longas no inverno, eu dormia por umas três, quatro horas. Passava mais da metade da noite pensando em minha mãe, pensando nos Raks, sentindo raiva, tentando pensar em algo, algo para sair daquele cativeiro.

Na manhã do dia seguinte não fui treinar, fiquei apenas deitado olhando para a cama à cima da minha. Algum tempo depois, recebi uma batida na porta e pedi que entrasse. Era Lydia.

- Como está? - Disse ela se sentando na beirada da cama.

- Sinceramente? - Ela acenou dizendo que sim - Com medo.

- É normal ter medo...

- Sim, mas não esse tipo de medo.

- E que tipo de medo seria esse? - Sentei-me na cama, para ficarmos mais à vontade.

- Um medo inútil por saber o que está por acontecer.

- E o que está por acontecer?

- Eu não sei.

- Ethan - disse ela, se aproximando - devia relaxar, voltar como era antes, sei que não foi fácil naquela cela, mas tem que superar.

Ao terminar ela aproximou seus lábios dos meus e me tranquilizou. Não a impedi, não interrompi, só deixei que fluísse até que acabasse. Seria como a festa? Não, na festa eu não me senti tão avivado.

Ela cessou o beijo, me envolveu num abraço carinhoso e só então saiu.

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Me arrumei, vesti algo quente, também confortável, e fui até o refeitório, que estava cheio, mas não avistei meus amigos.

Havia umas duas ou três mesas completamente vazias, perguntei-me o que estaria acontecendo e então me sentei na mesa ao canto, mais escondida.

Não queria conversar com ninguém, e podia sentir Stella e seus amigos do meu esquadrão me perfurando com olhares.

Lydia fora a primeira a chegar ao lado de Joshua, ambos bem agasalhados por causa do frio, posteriormente Castor se sentou do meu lado.

- Oi, Ethan, como se sente? - Perguntou o garoto de olhos puxados.

- Vou bem, Castor, obrigado!

- De nada - respondeu dando uma mordida num sanduíche.

- Ethan - falou Joshua - estamos pensativos sobre algo, queremos saber o porquê daquilo... - ele olhava diretamente nos meus olhos.

Avistei uma câmera girando em nossa direção. Havia um segurança, na janela, não muito distante. Por mais que eu odiasse Marcus, ele estava certo. O campo estava cheio de escuta, câmeras e guardas. Tudo o que você fala dentro do Paraíso, chega até Mason.

Havia um guardanapo na mesa, e uma caneta no bolso da camisa xadrez de Castor. Peguei ambos e comecei a escrever:

Não posso falar aqui e agora

Empurrei o guardanapo para Joshua que, me devolveu dando de ombros. Voltei a escrever:

Preciso de um lugar, sem câmeras, sem guardas, sem escutas!

Ele acenou positivamente com a cabeça, mostrou à Lydia e por fim derrubou o suco no papel apagando as palavras, Castor terminou seu sanduíche e entendeu o recado, foi o primeiro a sair da mesa, Lydia e Joshua foram juntos, como chegaram e por fim, eu.

Ao virar para a mesa, o guarda tentava secar o papel, o que seria inútil, mas percebi, que minhas intuições não estavam erradas.

Mason estava de olho em mim.

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