Capítulo QUATRO

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- Os Raks são, sem sombras de dúvidas, a raça mais inteligente, mais que os seres humanos. E quando entraram na Via Láctea, o campo magnético solar, transmitiu uma radiação jamais vista, fraca ao ponto de não os transformar em coisas estranhas, forte ao ponto de dar a eles superpoderes...

- Como o Superman? - Disse um garoto loiro do outro lado da sala e todos riram.

- Sim, como o superman! - Digg dizia com cautela observando o olhar apavorado de cada um dos recrutas que se calaram imediatamente esperando por uma explicação plausível - os seres humanos estão acostumados a viverem com esse tipo de radiação, já os Raks têm um sol de proporção bem menor que o nosso, o que fez com que a radiação fosse grave neles. Nossa teoria é de que os líderes deles estavam cientes e por isso mandaram toda a população do planeta de uma só vez.

- Como sabem que não existem mais Raks de onde vieram? - Especulei.

- É apenas uma suposição e acreditamos estar certos...

- E então pela primeira vez em séculos não estamos sozinhos no universo - disse Mason, diretor do projeto, adentrando a sala, sorrindo para todos - Hoje eu vim pessoalmente acompanhar o desenvolvimento de vocês e já posso ver que esta é uma turma especial, estou certo senhor Ben Lira?

O mesmo garoto loiro acenou com a cabeça, baixando os olhos e corando.

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Nada mais fazia sentido.

Pouco a pouco eu começava a sentir que tudo aquilo iria desmoronar em cima de mim. E não estava feliz com essa hipótese. Minha mãe estava morrendo e eu estava ali, em meio a dezenas de jovens tentando ganhar o nosso planeta de volta e, claro, algum crédito. A Terra nunca tivera os seres mais inteligentes do universo, mas estávamos indo bem. Os computadores avançaram em nível que com ele você poderia fazer absolutamente tudo. A economia subia mensalmente num nível avassalador. A evolução tinha começado.

A vida era algo do tipo: Trabalhe menos e ganhe mais, o conforto para o ser humano era muito bem acessível, mas conforto nunca é demais, e o governo sempre procurava evoluir o país, antes que a população se revoltasse. Sim, o poder era da população, exceto em alguns países onde a terceira guerra estava literalmente em andamento. Os planos estadunidenses para acabar com a primeira potência mundial, Alemanha, funcionaram de imediato, a disputa crescia. Japão, Brasil, Rússia... as potências se fortificavam e tentavam conseguir mais e mais poder. O ser humano é assim, nunca se satisfaz.

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A sala de treinamento estava limpa como sempre, era estranho entrar ali com a memória de uma festa perturbadora, e saber que está ficando louco junto com um alienígena - muito bonita, aliás - que provavelmente tem superpoderes.

- Atenção, cadetes! - Era impressão minha, ou Marcus estava sendo mais formal? - Já se passou uma semana, tempo suficiente para terem descoberto em qual área se destacam mais. Então por favor, dirijam-se para frente de cada compartimento.

Eu ligeiramente fui para o compartimento de arco e flecha, apesar de ter errado feio no treino anterior. Sim, eu nunca acertei o alvo, mas cheguei perto.

Joshua foi até o compartimento de armas, e Castor? Bem, o Castor não estava lá, provavelmente ficou com algo no ramo de informática. Um treinamento supervisionado pelo diretor era muito diferente de um treinamento normal, apenas pelo fato de que está sendo supervisionado pelo cara que te banca.

Uma garota, Stella, veio para o meu lado, ela atirava muito bem, nunca errara um alvo.

- Pronto para errar...? De novo - ela soltou uma leve risadinha nada agradável.

Enquanto meu treinamento não começava observei Joshua, e os outros quatro que escolheram o compartimento de arma, ele atirava muito bem, e pude ver um sorriso de admiração na face de Mason, mas o diretor não conversava com ninguém, parecia ser tão comunicativo, e ao mesmo tempo tão... rude. Incompreensível, como tudo naquele lugar.

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O mundo mudara, isso nós temos que concordar, mas a raça humana diminuía diariamente. Alguns países em guerra nem existiam mais. Rússia ou CEI cresceu de tal modo que conseguiu mais vinte países para unir-se à terceira potência mundial. Tirando alguns países como França, Itália, Espanha e Portugal, quase todos os outros países eram território alemão. E então vieram os Raks, e todos apontaram o dedo para a Rússia, que logo caiu nas mãos de um governador extraterrestre. Não sabia se era verdade, mas havia boatos de que quase toda a Ásia fora destruída somente pelos infelizes visitantes.

Após os ataques dos Raks vivíamos numa ditadura militar, onde governo e militares eram uma só carne. Um ano depois com a entrada do projeto Paraíso, o mundo achou que finalmente estaria livre. Não era isso que os alienígenas superpoderosos mostravam.

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Stella, mais uma vez, acertara o alvo bem no centro, nem um centímetro para a direita ou para a esquerda. Era a minha vez.

Mason me fitava freneticamente. Com um tempo aquilo estava me causando um certo incômodo.

Segurei firme o arco, fitei Mason por mais um ou dois segundos antes de soltar a flecha, que acertou alguns centímetros a direita da flecha de Stella, equivalia a nove pontos, o que era bom, não tanto como comemorar dez pontos, como a garota fazia naquele momento.

Ainda paralisado na frente do alvo, segurando firme o arco, Mason se aproximou e sussurrou em meu ouvido:

- Estou de olho em você, garoto! - Parecia sorrir ao dizer isto, e então saiu da sala de treinamento, me deixando boquiaberto.

- Ei, Ethan! O que foi isso? - Perguntou Joshua, se aproximando.

- Eu não sei... preciso ir ao banheiro, conversamos mais tarde, beleza? - Disse, batendo de leve no braço dele e saindo imediatamente sem sequer falar com Marcus.

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- O que ele quer comigo?

- Quem? O que aconteceu? - Perguntou a garota - ou devo dizer alienígena? - Com quem encontrei no dia anterior.

- Mason, você me disse que estavam tramando para os cadetes, disse que isso tudo era uma armação...

- Ele falou com você?

- Sim, ele disse "Estou de olho em você". O que ele quis dizer com isto?

- Cara, Mason Mor falou com você, não ficará vivo por muito tempo. - Disse ela rindo.

Eu estava apreensivo, sentia a temperatura congelante das barras de ferro que prendia a garota. Seu senso humorístico estava me deixando irritado, em nosso último diálogo ela parecia doce, tentava desesperadamente me avisar, mas a irritação estava, também por conta de eu não saber com quem estava falando, o alien ou a humana. Seja lá quem for, eu precisava de ajuda, e ela era a única opção válida no momento.

- Não estou brincando, por favor me ajude!

- Eu estou aproveitando o que me resta da humanidade, porque em breve esse alienígena em mim irá comandar todo o meu corpo, incluindo o cérebro, e aí será tarde demais para mim. Desculpa, não posso te ajudar com seus problemas.

- Olha, e se tentarmos descobrir como isso acaba, como te desconectar desse E.T.?

Ela olhou com os olhos marejados, havia uma certa esperança no seu olhar, o que me partiu o coração, aquela era a garota doce.

- Com que garantia?

- Eu não posso garantir nada, olha para mim, sou apenas mais um derrotado, mas juro por tudo, tentar te ajudar com isto.

Depois de alguns segundos me encarando, ela acenou positivamente com a cabeça.

- Maravilha. Conte-me tudo, absolutamente tudo sobre o Paraíso - implorei.

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