Raquel e os outros se encontravam na sala de estar às sete e meia da manhã. Só faltavam Sônia e Lucas para poderem visitar o resto da ilha.
- Daqui a pouco vai se aproximar a hora do almoço e vai ficar tarde para sairmos. - desabafou Jennifer.
- Que bom. Isso significa menos tempo com araras dando rasantes na minha cabeça. - disse Diana.
- Eu vou lá chamar o Lucas. - falou Victor. - Aposto que ele ainda está dormindo.
Andou por todo o corredor, observando a casa a qual ainda não se acostumara. Mas era só questão de tempo: ainda era seu segundo dia por ali.
Ao passar em frente ao antigo escritório de Mephisto, o pai de Sônia, Victor sentiu vontade de abrir a porta. Mas não o fez. Se Sônia o pegasse ali, com certeza ficaria muito brava com ele.
Finalmente, subiu as escadas. O primeiro andar estava silencioso, exceto por seus passos nos últimos degraus. Victor levou um pequeno susto quando, ao virar para o corredor, deu de cara com Lucas.
- Cara, não faz isso comigo. - e levou a mão ao coração. - Eu tenho problemas cardíacos.
- Foi mal. - desculpou-se. - Mas o que você veio fazer aqui? Achei que tivessem ido embora pra conhecerem a ilha.
- Era exatamente o que íamos fazer, até você não aparecer. Achei que você estivesse dormindo, então vim te acordar. Mas, pelo visto, me enganei.
- Não 'tô afim de ir hoje. - disse, coçando a cabeça.
- Por quê?
- Sei lá. 'Tô sem vontade.
- Você não parece bem mesmo. - os dois estavam descendo as escadas e indo em direção à cozinha. Victor não deixou de olhar de novo para o escritório. - Está estranho hoje.
- Deve ser por causa do sono.
- É. O filme demorou bastante pra terminar. Ei, espera. Por que você não quis assistir o filme?
- Sei lá. - Lucas pegou uma garrafa d'água e derramou um pouco num copo para beber. - Sem vontade.
- Você não está normal, Lucas.
- Já disse. 'Tô com sono.
Os dois saíram e foram até a sala de estar, onde os demais estavam.
- Cadê a Sônia? - perguntou Helen, a cadeirante.
- Não sei. Eu fui procurar o Lucas, não a Sônia. - respondeu Victor.
Helen revirou os olhos.
- Eu vou procurar a Sônia. - disse Raquel. - Talvez tenha perdido a hora.
- Eu vou com você. Não aguento mais ficar parada. - disse Kiara, com sua cara emburrada que deixava seus olhinhos mais puxados.
As duas foram até o fim do corredor, parando em frente à porta do curioso escritório do pai de Sônia. Não sabiam que rumo tomar a partir dali.
- Ok: agora só precisamos saber pra qual lado fica o porão. - disse Raquel.
- Pra baixo. - respondeu Kiara, olhando para Raquel como se a outra fosse uma alienígena.
- Eu sei. Mas onde é a entrada?
- Não sei. A Sônia não falou.
- É. Vamos ter que achar sozinhas.
As duas olharam, olharam, olharam... talvez não fosse ali que a entrada para o porão ficasse. Mas a intuição de Raquel - que por sinal era bastante confiável - a dizia que ficava por ali.
- Tem que haver alguma escada que leve para baixo daqui... - seus olhos miraram a escada que levava ao primeiro andar, automaticamente. Até que uma coisa lhe chamou a atenção: havia uma portinhola, quase invisível devido à sua coloração ser a mesma que a da parede, debaixo da escada. Raquel pegou o braço de Kiara, que ficou sem entender nada, e a puxou para perto da pequena porta.
- Ai, Raquel! - Kiara desprendeu-se das mãos da debutante. - Não seja tão bruta. Você sabe que, querendo ou não, suas unhas são bem afiadas e arranham todo mundo.
- Desculpa, Kiara. - Raquel afagou ligeiramente o braço da amiga. - Você vê?
E apontou para a parede. Kiara pareceu em dúvida por um momento, mas sua careta de espanto logo fez Raquel entender que a amiga conseguira ver a porta.
- Deve ser a porta que leva ao porão. - disse Kiara, maravilhada. - Raquel, você tem olhos de águia.
- Vamos entrar. Vem. - havia um pequeno espaço entre a parte de cima da porta e a parede. Perfeito para os dedos de qualquer pessoa abrirem.
As duas abriram e depararam-se com uma escadaria bem íngreme e escura que levava para baixo. Raquel tomou a frente e Kiara foi por último, deixando a porta um pouco aberta para entrar claridade.
Quando chegaram ao fim da escadaria, a luz não as alcançava mais. Contudo, as amigas encontraram um lampião aceso apoiado num móvel de madeira. Raquel tomou-o numa das mãos por uma alça gasta e andou pelo cômodo, que não era muito grande, tentando iluminar o que podia.
A cama não ficava muito longe dali. Ficava na parede da direita, mas não havia ninguém dormindo. Kiara andou até um armário que ficava de frente para a entrada. Era bem grande, sem dúvida cabiam cinco Kiaras dentro dele. Ocupava quase toda a parede, exceto por uma cadeira de balanço que ficava à sua esquerda.
Kiara abriu o armário, e também não encontrou nada. Nem roupas, nem sapatos. Nada.
- Não tem nada da Sônia aqui, Raquel. Acho que estamos no lugar errado.
Após a amiga não responder nada, Kiara virou-se para certificar-se de que não estava falando sozinha. Mas Raquel estava, sim, ali, observando algumas fotos na parede do móvel em que estava o lampião.
- O que está vendo, Raquel? - perguntou Kiara.
- Fotos da Sônia. Olha.
As fotos eram um misto de estranhas e curiosas. Havia quatro: na primeira, uma criança - que provavelmente era Sônia - estava ao lado de um homem sério e alto, que vestia uma longa túnica e um chapéu pontudo. Não era possível identificar a cor, já que a foto era em preto e branco. Ao fundo, viam-se árvores e o que pareciam ser dois corpos no chão, mas era impossível ver o rosto de cada um.
Na segunda, uma fila de quatro pessoas sendo puxadas por um homem como o da primeira foto - ou poderia ser o mesmo homem - assistindo a uma pessoa ser comida viva por urubus. Raquel notou que a pessoa estava viva por seus movimentos desesperados para escapar, apesar de estar acorrentada a uma árvore.
Na terceira, ainda em preto e branco, estava Sônia mais crescida - parecia ter de dez a doze anos - com uma das vestimentas dos homens das fotos anteriores, segurando um coelho morto nas mãos.
E ela sorria.
A quarta foto já era colorida. Era Sônia aproximadamente dez anos mais jovem do que é agora, no meio de duas mulheres vestindo a túnica e chapéus pontudos. A cor das vestes era roxo, num tom bem escuro, como a noite chegando a seu ápice de escuridão. As três da foto sorriam e era possível ver que estavam num velho barco, apontando para algum lugar ao fundo da imagem. Raquel acompanhou a ponta do dedo de uma das mulheres, e viu que elas apontavam para uma ilha. Uma ilha que Raquel reconheceu logo de cara.
A Ilha da Lua.
Próximo capítulo: Capítulo 4 - Cada Um Por Si
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Ilha da Lua
Misterio / SuspensoATENÇÃO: PLÁGIO É CRIME! Gosta de mistério? Bem, se eu fosse você, adicionaria este livro à biblioteca. Raquel Cruz é uma menina gentil, apaixonada por natureza e está prestes a fazer quinze anos. Ao pedir permissão aos pais - Pedro e Vitória Cruz...