Capítulo 9 - Conselhos e Confissões

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   Hudson estava sentado na cama de Ana, que logo sentou-se ao seu lado. Ana perguntou-se se a quietude do segundo andar era habitual e ela não reparara, ou se a tensão estampada na face do menino era o que alterava o clima dali.

   — E então — começou ela. — O que você precisava falar comigo?

   Hudson suspirou.

   — É que eu tive um sonho muito estranho, Ana...

   — Sobre o que era o sonho?

   — Bem... eu não lembro direito... eu me lembro que eu me vi deitado no meio da noite, como se eu fosse outra pessoa que me olhava, mas eu sei que era eu quem me observava. E aí eu só me lembro que estava num quarto com um armário grande, uma cama vazia e uma cadeira de balanço. Depois, eu estava num corredor com velas brancas, e depois um corredor com velas vermelhas, e depois eu vi umas mulheres discutindo...

   — Quem eram essas mulheres?

   — Ahn... eu não me lembro muito bem, mas me lembro que uma delas se chamava Martine e era bem jovem, e também lembro que Sônia estava lá. E o clima era ruim naquela sala. Pareciam que estavam fazendo alguma coisa secreta e bem ruim, entende?

   — Entendo.

   — E depois, elas começaram a reproduzir uma cantiga e a sussurrar coisas que eu não me lembro muito bem o que era dito...

   — E depois? — perguntou Ana após um momento de silêncio.

   — Não me lembro.

   — Mas por que é que esse sonho mexeu tanto assim com você?

   — Não sei. Mas parecia tudo tão real, como se eu estivesse mesmo lá...

   — E onde ficava esse lugar?

   — Isso eu também não me lembro. Só sei que o chamavam de Covil.

   — Credo! Devia mesmo ser algo ruim. 

   — É. Parecia que eu estava mesmo lá, Ana... — Hudson se aproximou da amiga. — Você tinha que ver. Às vezes, chego a duvidar que tenha sido um sonho.

   — Eu sei como é isso, Hudson. Já tive vários pesadelos que pareciam reais, até mesmo os sons pareciam audíveis dentro do meu quarto. Mas isso é o cérebro te pregando peças. Não deixe o medo tomar conta de você. E preocupação só serve para deixar os cabelos brancos. — disse Ana. Hudson riu.

   — Tem razão. Obrigada por me ouvir, Ana. Sei que às vezes eu sou um idiota e falo coisas completamente imbecis, mas não é para ferir ninguém. No fim, eu sou só uma pessoa sensível como todos são.

   — Um coração mole que reveste-se de gelo para se parecer duro. O problema é que esse congelador não é muito potente, não é? — os dois riram.

   — É. — disse ele, sorrindo.

   Após uns segundos de silêncio, Hudson quebrou o clima tenso.

   — Ana?

   — Eu?

   — Desculpa parecer indelicado, mas... posso te fazer uma pergunta?

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