Eu estava deitado no sofá pensando na minha apresentação do TCC, Alexandre tinha saído pra ir no mercado e estava demorando muito.
Liguei a TV e comecei a assistir Harry Potter e o Enigma do Príncipe, estava chorando horrores com a morte do Dumbledore quando a porta é aberta num estrondo, me fazendo levantar assustado.
—MAAAAATH! – gritou um Alexandre desesperado – VOCÊ NÃO VAI…
—ISSO É UM BEBÊ CRIATURA? – falei vendo ele que carregava uma criança que tinha no máximo 1 ano que me olhava assustada, e quando nossos olhos se encontraram em senti como se tivesse tomado um choque, uma corrente elétrica passou por mim – PELO AMOR DE DEUS, ME DIZ QUE TU NÃO ROUBOU ESSA CRIANÇA!
—O QUE?! Tá maluco? – perguntou me dando a criança e se deitando no sofá massageando as têmporas – Eu estava voltando, quando no estacionamento apareceu uma mulher, ela pediu pra eu segurar, eu demorei procurando essa desnaturada, ela sumiu, eu não sabia o que fazer e trouxe ele pra casa!
—Minha santa Lady Gaga, eu to seca! – disse me sentando na poltrona em frente ao Alexandre – E se a mãe dessa criança voltar, Alexandre?
—Ela não vai voltar, viu a hora que eu saí? Olha a hora que cheguei, fiquei esperando por mais de 2 horas!
O menino acabou dormindo no meu colo, ele era a coisa mais fofa do mundo, era negro, com cabelos pretos e enrolados, os olhos eram castanho escuro, e se eu não conhecesse diria que era filho do Murilo, ele era a cara do meu irmão.
—Tem certeza que não foi o Murilo que engravidou uma mulher e te deu a criança? – perguntei fazendo o Alexandre rir – Ele é a cara daquela bicha enrustida!
—Só você pra me fazer rir!
—Ele é tão fofo, pequeno e frágil… – disse sentindo meus olhos encherem de lágrimas – Como uma mãe pode abandonar o filho assim?
—Eu não sei Leãozinho, mas não quero entregar ele pro orfanato. – disse se levantando e pegando a criança do meu colo – A gente podia ficar com ele!
—HAHAHA! E você acha que é assim? Alguém te entrega uma criança e você fica? Não sei o que vamos fazer, mas uma hora vamos ter que ir na delegacia, isso é abandono de incapaz! Essa mulher deveria ser presa!
—Eu sei, já pensou se eu fosse um louco?
—E quem disse que você não é?! – tinha uma bolsa azul no chão, na porta, e eu fui remexer – E essa bolsa aqui?
—A maldita deixou comigo. – disse indo pro quarto com o menino no colo.
Dentro da bolsa tinha apenas umas três peças de roupa, uma chupeta, duas fraldas, uma mamadeira vazia, e um papel amassado.
Quando desdobrei o papel descobri duas coisas: a primeira é que a letra da mãe é horrorosa, e a segunda o nome do menino, Pedro Luís, péssimo gosto, eu sei.“Cuide do meu filho, infelizmente não posso ficar com ele, tenho mais outras 4 crianças pra cuidar e não tenho condições, não me julguem, era isso ou morrer de fome. O nome dele é Pedro Luís e tem 1 ano, faz dois no dia 2 de junho.”
Eu quase chorei, juro, na verdade o papel não dizia mais nada, parecia ter sido escrito as pressas, quando Alexandre voltou mostrei a ele o bilhete, ele leu, dobrou e guardou com todo cuidado numa gaveta da estante.
—Ele faz aniversário no mesmo dia que eu, muita coincidência não?
—Esse é apenas mais um sinal pra ficarmos com ele. – disse ele aflito – Eu não quero mesmo dar ele pra adoção!
—A gente não pode esconder a criança Alexandre, talvez pudéssemos tentar a adoção, mas não somos casados, e você tem HIV… – na mesma hora eu parei e olhei pra ele que tinha os olhos cheios de lágrimas – Desculpa, eu não quis…
—Você ta certo, quem iria querer dar uma criança pra um aidético?! – disse se afastando e me dando as costas – Amanhã levaremos ele na delegacia.
Eu apenas me joguei no sofá, não sabia o que fazer, na verdade…
Levantei correndo pra pegar meu celular.
—Alô seu Valdomiro, boa noite é o Math!
—Oi Math, você sumiu, tá bem? – perguntou o pai do Allan do outro lado, ele era minha única opção, ser promotor público deve me servir de alguma coisa.
—Estou sim, mas eu preciso de uma ajuda do senhor!
—Claro, em que posso ajudar? – O pai do Allan sempre teve um ótimo humor, e quase sempre livrou a gente de ser preso por “perturbar a paz”.
—Só posso falar pessoalmente, posso passar aí pra gente conversar? – perguntei esperançoso.
—Olha, estou na rua. – disse – Me diz onde você está, que vou ai!
Com muita esperança, passei o endereço pro Valdomiro, Alexandre estava trancado no quarto, e eu sabia que ele estava chorando, então deixei ele lá. Quarenta minutos depois, o Valdomiro chegou, e depois de explicar toda a situação pra ele, esperei por uma luz, uma luz que me dissesse que eu poderia ficar com o Pedro.
—Olha Math, a situação é bastante complicada, poucos juízes dariam a guarda a um casal gay, e ainda mais sendo que um dos cônjuges tem HIV. – disse me fazendo perder todas as esperanças, o Valdomiro era um Allan mais velho, só que com uma barriga saliente de chopp – Mas, eu tenho um amigo de confiança que poderia resolver isso pra mim. – disse com um sorriso – Mas, preciso de uma certidão de casamento de vocês e uma xerox de todos os documentos, comprovante de residência e toda essa papelada, mas eu preciso pra ontem. No momento, o que vocês tem que fazer é ir numa delegacia prestar queixa, e se eu tiver esses documentos o mais rápido possível, garanto que em menos de 1 semana o moleque é de vocês!
—MEU DEUS, SOS! – gritei pulando pela casa e abraçando o Valdomiro – 1 SEMANA? HAHAHAHA! ISSO É MARAVILHOSO!
—Nada que uns contatos não resolvam! – disse me abraçando e dando palmadinhas nas minhas costas – Agora, eu tenho que ir!
—Ok, obrigado por tudo, ainda essa semana entro em contato com o senhor!
Me joguei no sofá depois de levar o Valdomiro até a porta, eu com apenas 23 anos me tornaria pai, e pra ser sincero, eu estava mais alegre do que conseguia expressar.
VOCÊ ESTÁ LENDO
O Salva Vidas (Romance Gay)
Storie d'amoreUm conto sobre o amor, redenção, perdão, aceitação e acima de tudo sobre a paz depois da dor. Embarque na história de Alexandre e Math. ATENÇÃO, OBRA REGISTRADA, TODOS OS DIREITOS RESERVADOS, PLÁGIO É CRIME. REVISÃO : Yasmin Barradas CAPA POR : @H...