Capítulo 3

89 19 6
                                    


- Viu como ele me ignorou ? - falei irritado

- Heitor, já foi uma surpresa para todos ele te responder uma vez. Ninguém nunca pergunta nada a ele. - Explicou meu tio quando estávamos voltando para casa.

- Mas ele podia ter ao menos me respondido. Educação, não é, sei lá. - Respondi ainda visivelmente irritado com o tal Tupã.

Quando finalmente chegamos em casa já estava bem tarde, e como minha tia já tinha deixado a janta adiantada foi só esquentar e logo estávamos jantando.

Todos comemos em silêncio, enquanto eu fui pensando sobre a reunião. Ainda não tinha chegado a uma certa conclusão do que seriam os perigos que haviam lá fora. Afinal, o que poderia ser pior do que ladrões e sequestradores ? Ele falando assim parecia até que tinha coisas sobrenaturais lá fora, como monstros ou coisas do tipo. Mas isso era relativamente impossível. Fiquei absorto em meus pensamentos até minha mãe puxar assunto comigo.

- O que achou das regras Heitor ? - Que droga ela parecia saber que eu não prestei atenção na maioria das regras. Na verdade, só prestei atenção em uma.

- Nada de mais, fáceis de seguir. - Menti. - Só ainda não entendi a última sobre os perigos lá fora etc.

- Essa regra sempre existiu, mas ninguém nunca entendeu de fato. Nunca ousamos desobedecer nenhuma regra. - disse minha tia. Eu lembrei dos dois guerreiros gêmeos que estavam guardando o Tupã.

- E aqueles gêmeos que estavam guardando o Tupã ? O que eles são ? Guardiões da realeza suprema ? - Perguntei ironizando a ninguém especificamente.

- Espero que você não esteja debochando de Tupã, Heitor. - Falou meu tio em tom de advertência. - Respondendo sua pergunta, são Moacir e Raoni. São orfãos de pai e mãe. Tupã criou eles, treinou, e nomeou guardiões da tribo. por isso você sempre verá eles com aquelas roupas e armas. São os únicos que podem portar elas por aqui. - Entendi, respondi mentalmente.

- A comida estava muito boa, o papo estava muito bom, mas preciso realmente ir dormir. Benção a todos. - Como de costume ouvi aquele sonoro e uníssono Deus te abençoe, que me fazia sempre dormi bem e protegido.

Depois de fazer minha higiene fui para o meu quarto. Antes de dormir dei uma olhada pela janela que dava uma boa visão da entrada da tribo. E lá estavam eles, os guardiões do supremo rei, postados em pé, como duas estátuas bem na frente da tribo. Fiquei olhando-os por um tempo e pensando o que apenas dois homens seriam capazes de fazer contra dez ladrões por exemplo. Ainda mais com aquelas armas. Espadas, lanças, aquilo eram armas antigas, uma arma de fogo combateria rápido aquilo. Não me senti muito protegido depois desses pensamentos. Meus olhos começaram a pesar, então deitei para dormi.

Pior do que você ter um sonho estranho é você ter esse sonho duas vezes. Naquela noite sonhei denovo com a floresta deserta, a menina ruiva e o objeto voador não identificado fincando suas garras em mim e me alçando ao ar. Eu nunca tinha tido um sonho estranho como aquele, e em 3 dias ja tinha sonhado duas vezes.
Quando acordei percebi que estava sozinho em casa pois todos tinham ido trabalhar. Fiquei dez minutos pensando o que eu ia fazer, quando finalmente decidi ir ver tevê. Botei no canal de séries e fiquei assistindo até cansar. Depois que eu cansei de ver tevê, eu ouvi música, toquei violão, li, e nem 2 horas tinham se passado quando olhei no relógio. Já não tinha mais nada para fazer, ja estava entediado.

Estava vindo um vento bem gelado lá de fora, mesmo estando fazendo sol. Percebi que a janela estava aberta e fui fechá-la. Foi quando vi algo no mínimo curioso.

Na entrada da vila havia uma família de aparência incomum, pelo menos ali na tribo.
Tanto os pais quanto o filho eram loiros da cabeças aos pés. Tinha mais cara de alemães do que outra coisa. Ta certo que a miscigenação já ocorreu a tempos em todo o brasil, inclusive na amazônia, mas ainda era raro ver pessoas com aquele tipo de loiro. Não era aquele loiro forte que chega a doer os olhos, mas aquele loiro tipo areia da praia, bem leve. O garoto, que supus que devia ser filho do casal, aparentava ser um pouco mais novo do que eu. porém, ele era um pouco maior e era bem mais forte. E o mais estranho disso tudo é que eles estavam cheios de malas, será que morariam ali ? Ou será que pararam para pedir informação ? O pai estava tendo um longo papo com um dos gêmeos, que por acaso, eu não sabia se era Moacir ou Raoni. Fiquei ali observando aquela cena por uns dez minutos. Entenda, eu não sou fofoqueiro, mas aquela era uma cena que merecia minha atenção. E tudo ficou mais interessante quando Raoni, ou Moacir, saiu apressado. Teria ido chamar Tupã ? Dito e feito, lá vinha o chefão ignorador de pessoas com sua habitual roupa de chefe indígena.

Floresta SombriaOnde histórias criam vida. Descubra agora