Tudo aconteceu muito rapidamente. Se no segundo anterior ela estava desmaiada e inerte no chão, no segundo seguinte ela estava sentada no sofá, com a expressão normal, a que estava antes da provável possessão, e a coisa mais estranha foi ela ter continuado nossa discussão no exato ponto em que a mesma parou.- Você esta cansado de ouvir, mas Tupã sempre vai falar, pois isso é muito importante, talvez seja a regra mais importante. - Eu não estava entendendo nada, primeiro estamos discutindo, depois ela para, tem uma possessão, fala um monte de coisas sem sentido e depois volta, como se nada tivesse acontecido. Assim como Mayara, minha mãe estava com uma expressão normal no rosto, aliás, ela já estava com aquela expressão desde quando tudo aconteceu.
- O que aconteceu aqui ? Que tipo de pegadinha é essa ? por que querem brincar comigo ? - Eu perguntei ainda assustado.
- Como assim filho ? Não aconteceu nada. - Respondeu minha mãe, visivelmente não entendendo o porquê da minha pergunta.
- Como assim mãe ? A senhora está fazendo parte disso ... só pode. A pouco tempo atrás ... você - Apontei pra Mayara - Ficou ... completamente estranha ... e ... - eu não conseguia completar, pois quanto mais eu falava, mais as imagens do acontecido voltava a minha mente. A pele enrugada, os olhos completamente rosas ... aquela voz horripilante ... eu teria pesadelos com aquilo até eu morrer, provavelmente.
-Heitor, eu não estou entendendo absolutamente nada, o que aconteceu ? Por que esta ficando pálido ? - Minha mãe estava começando a ficar preocupada, talvez achasse que eu estava ficando maluco, mas como ela pode não ter visto algo que aconteceu na frente dela ?
- Não ... pode ser, finalmente ... aconteceu. - Disse Mayara cabisbaixa. Ela havia ficado quieta desde que comecei a tentar explicar sobre o que aconteceu.
- O que aconteceu ? - Perguntei.
- Celina, você poderia recolher as coisas e levar para a cozinha pra mim ? Não estou me sentindo muito bem. - Ela parecia ótima, senti que aquilo era só uma desculpa, para deixar minha mãe afastada por um tempo.
- Eu ajudo a senhora, mãe. - Já ia me levantando, depois do motorista monstro, eu aprendi a não ficar sozinho com estranhos, ainda mais com uma curandeira com aparência de dez anos, mas com cento e vinte anos, que passou por uma possessão a minutos atrás.
- Você fica. - Ela falou com um olhar intimador, foi ai que tive mais medo ainda.
- Tudo bem Heitor, posso fazer tudo sozinha, vou lavar também a louça se não se importa Mayara. - Disse minha mãe. As vezes eu queria que ela fosse menos gentil.
- Muito obrigada dona Celina, estou muito mal mesmo.
Minha mãe recolheu todas as louças da mesinha e foi para a cozinha.
Assim que ela saiu, Mayara focou em mim.- Fale-me Heitor, o que você viu ? O que eu falei ? Fale-me ! - Eu ainda não conseguia falar o que tinha acontecido, mas tentei.
- Não sei muito bem, estávamos conversando normalmente, até que você ... mudou ... completamente de forma ... e ...
- Eu sei garoto, mas o que eu falei !? O que eu falei na profecia ? - Ela falou num tom de muita urgência.
- Profecia ? Não lembro direito - Menti, eu tinha guardado cada palavra que ela tinha dito - Lembro ... mais ou menos ... Filho da floresta, o fim está se aproximando, as únicas armas capaz de detê-los estão bem longe daqui. O caminho mais sombrio é o que você deve ir. Ao todo, cinco irão com você. Um morrerá, e um, no escurecer, te trairá. No fim, somente dois chegarão ao destino. A menina você deve salvar, para então, no fim de tudo, fracassar.
Eu não havia entendido nada, eu nem tinha amigos para ser traído por um, nem tinha namorada para salvá-la. Mas Mayara pareceu ter entendido, fez uma expressão de espanto e surpresa no rosto.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Floresta Sombria
Fantasy"Eu estava num lugar muito escuro, com árvores imensas e muito densas, de forma que eu mal conseguia ver seu fim. Provavelmente era uma floresta, as árvores eram completamente negras, desde a raiz até as copas. Aparentemente eu estava sozinho, mas d...