Capítulo 10

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  UMA SEMANA DEPOIS

Depois de uma semana de grande espera, uma semana de ansiedade, finalmente tinha chegado o dia de ir pra escola. Eu havia passado alguns dias pesquisando na internet e em livros sobre a coisa estranha que tinha ocorrido no ônibus. A quentura no corpo se assemelhava muito a do dia dos urubus e eu achei que podia ter algo relacionado, porém, depois de muitas pesquisas, eu não achei nada. Certo dia eu até tentei reproduzir de propósito a luz azul que emiti no ônibus, mas foi sem sucesso. Decidi deixar para lá, provavelmente aquilo nunca mais aconteceria.
A semana demorou a passar pois incrivelmente não ocorreu nada de estranho e anormal na tribo. Foi tudo calmo e em ordem, algo que eu nunca tinha visto acontecer ali. Tudo correu muito bem, Tupã finalmente parou de me pressionar pela profecia, talvez ele tivesse achado que fosse mentira ou desistiu mesmo. De qualquer forma, eu adorei isso, pois eu não ia ceder.

Minha semana foi resumida em reuniões, como de costume; Animadas conversas com os gêmeos, que a cada dia eu tinha mais intimidade. Moacir já estava ficando bem mais sociável comigo, aliás; Animados encontros ( Será que eu podia chamar assim ? ) com Karina a beira da árvore, e até algumas conversas com Lucas, que pelo visto era um cara legal, diferente da primeira impressão que tive dele assim que ele chegou à vila. Até descobri que ele estudaria na mesma escola que eu, contudo ele era de série diferente da minha.
Porém nenhuma dessas coisas conseguiu tirar minha ansiedade e minha tensão pelo começo das aulas. Desde que fizemos a matricula, eu não paro de pensar em quando o dia ia chegar, o dia de conhecer novos horizontes, novas pessoas, fazer novos amigos e tudo o mais. Esse dia finalmente havia chegado.

Naquela manhã, eu acordei uma hora antes de ir pra escola, por motivos de ansiedade. A aula começava as sete horas da manhã, o que significaria que eu teria que sair de casa mais ou menos umas seis horas. Sim, uma hora antes, vai que o ônibus atrase ? Melhor prevenir do que remediar. Acordei as cinco horas e fui abrir a janela. Assim que abri veio uma correnteza de ar bem gelado e gostoso no meu rosto, logo abri um sorriso. O céu ainda estava escuro, com sinais de clareamento bem ao longe, sinais de que não tardaria para o sol aparecer e raiar. Tava tudo muito silencioso, provavelmente todos estavam dormindo, por isso, pude ouvir o cantar dos pássaros que voavam em bando pelo céu; pude ouvir o farfalhar das árvores, e algumas cigarras cantando, indicando que o dia seria de muito calor. Eu geralmente não gostava de calor, sempre fui mais amante do frio, mas nada roubaria minha alegria naquele dia.
Depois de observar um pouco o dia, fui arrumar todo meu material que eu havia comprado na semana passada com minha mãe. Compramos mochila, caderno, lápis, tesoura, os livros didáticos etc. O ponto alto desde dia foi o embate entre eu e minha mãe. Ela não queria por nada comprar o caderno do flamengo que eu queria. "Mas é muito caro, cadernos são tudo a mesma coisa". Coitada da minha mãe, não entende que caderno com a capa do flamengo é outro nível. No final das contas, depois de longa insistência, minha mãe cedeu e comprou o caderno, mas também, depois disso eu não tive direito de escolher mais nada, segundo ela, eu tinha excedido meu limite. Eu não me importei tanto pois já tinha conseguido o que eu queria.
Depois que eu acabei de arrumar a mochila, eu fui tomar banho e assim que sai do banheiro, reparei que minha mãe tava na cozinha preparando o café da manhã, que ela prometera, no dia anterior, fazer para mim.

- Bom dia filho. - Ela disse com seu, já de costume, sorriso no rosto. Minha mãe sempre estava alegre. Mesmo lá no Rio de janeiro, quando passávamos dificuldades, eu sempre a vi rindo. Nunca tinha visto minha mãe chorar, aliás. Era um exemplo a ser seguido. - Animado para o primeiro dia de aula ?
Percebi que ela havia comprado pão, queijo e presunto, provavelmente ela tinha saído sem eu perceber, enquanto eu estava observando o dia e arrumando meus materiais.
Na mesa tinha umas torradas, uns biscoitos, um pote de manteiga e uma jarra de suco, que a julgar pela cor, parecia ser de uva. Minha mãe estava a beira do fogão fazendo um ovo para eu acompanhar com pão. Ela já sabia que eu adorava pão com ovo. É simplesmente divino.

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