Capítulo 4

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Já faziam catorze dias que eu estava naquela tribo e sinceramente eu ja queira ir embora. Não aguentava mais tudo tão monótono e tão clichê. Todos os dias eram as mesmas coisas. Livro, violão, tevê, reuniões, roda de histórias e lendas etc. Essa rotina ja estava me cansando. ja não tinha mais livros para ler, ja tinha tocado todas as músicas que eu sabia no violão, e ja tinha me enjoado das reuniões de Tupã. Tudo aquilo que eu adorava fazer ja estava começando a ficar chato. Eu ja estava começando a pensar na escola, em quando eu voltaria a estudar. Eu não gostava muito de ir para a escola mas pelo menos seria uma ocupação e de repente eu poderia arrumar um amigo, quem sabe dois.

Naquela décima quinta manhã ali na tribo tudo amanheceu como sempre, eu ja estava preparando meu psicológico para mais um dia tedioso e chato demais. Levantei e fui para a frente da tevê, porém nem prestei atenção nela, fiquei mais pensando no que eu faria ao longo do dia. Pensando e refletindo eu percebi que eu ficava muito dentro de casa, tinha que explorar mais, e desde aquele dia que os gêmeos me chamaram eu nunca mais falei com eles. Decidi ir para fora ver se eles estavam lá para bater um papo agradável e amistoso. Mentira, não tava afim de nada disso, só queria sair do tédio, e aliás era uma boa oportunidade para perguntas sobre as armas deles.

Quando sai reparei que por mais que fosse de manhã o sol ja estava bem quente, me senti sendo fritado numa frigideira a fogo alto. Estava muito calor. A rua estava bem movimentada de pessoas, crianças etc. E lá estavam eles postados a frente do portão virado para a rua. Não esperei me chamarem, fui lá falar com eles.

- Bom dia ! - cheguei falando.

- Bom dia. - respondeu, e pelo tom percebi ser Moacir.

- Ei garoto. Bom dia, na verdade é um ótimo dia. Ótimo dia para sair, andar, passear, olhar mulheres a beira do rio... realmente um ótimo dia.

- Eu ri, aquele Raoni era engraçado. - Falando nisso, ja foi lá da uma espiadinha ?

- É... não, não fui, ando muito ocupado ultimamente. - Menti pois não queria dizer que eu tinha vergonha de ir lá.

- Que isso. Ta vendo Moacir ? Por isso costumo dizer que o mundo é injusto, enquanto eu queria estar lá mas não posso, esse guri tem todo o tempo do mundo e desperdiça. - Enquanto Raoni falava, Moacir estava com uma cara de que estava em outro mundo muito distante do nosso.

- Pode deixar, qualquer dia vou lá...- Respondi timidamente. Ele ficou ficou quieto como se não quisesse mais conversar e como se estivesse ido para o mesmo mundo do irmão. Eu ja estava quase indo embora quando de repente ele me assustou.

- O quê ta esperando garoto ? Vai lá no rio agora ! Aproveite por mim ! - Ele disse num tom intimador, mas ao mesmo tempo amigável. Eu ri um pouco e decidi ir.

- Vou agora. - falei.

- É assim que se fala - Disse ele com um sorriso no rosto. Retribui o sorriso e fui em direção ao fundo da vila.

Chegando lá entendi porque Raoni gostava tanto dali. Só tinha mulheres lindas, e sinceramente eu não me lembro de ter reparado nisso no primeiro dia que passei por ali. Fiquei ali paralisado olhando elas lavarem roupas, parecia ter de todas as idades ali, de uns 16 anos para cima. E para melhorar tudo, elas estavam cantando. Tinha uma árvore bem grande na ali na beirada do rio, fazendo assim uma grande sombra. Deitei ali naquela sombra e fiquei ouvindo aquela bela canção entoada por belas mulheres.
Fiquei ali por um bom tempo, até que algo incomum aconteceu. Comecei a ouvir vozes bem longe, bem distante, não dava nem para entender o que estavam falando. Era quase impossível eu ouvir vozes com aquela cantoria que estava próxima a mim, por isso deixei para lá pois poderia ser simplesmente coisas da minha mente. porém as vozes foram aumentando e aumentando cada vez mais. Olhei em volta, as únicas pessoas mais próximas de mim eram as mulheres e elas não estavam conversando, nenhuma delas estava falando, apenas cantando. Aquilo era estranho, a não ser que de uma hora pra outra eu adquiri audição a longa distância ou tivesse ali perto uma porção de pessoas minúsculas conversando. Mas essas coisas eram impossíveis, e aliás não havia ninguém nem de longe para que eu ouvir.

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