Capítulo 8

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E foi desse modo "teatral" que meu aniversário acabou. Machucado, sangrando e sendo levado para casa carregado por Moacir e Raoni. por que os urubus me queriam se a morta era Mayara e não eu ? Que eu saiba, urubus gostam de carne podre, carne morta. Não entendi porque me queriam. No meio do caminho, resolvi indagá-los.

- Moacir ... por que ... você disse que os urubus me queriam ? - Perguntei, ainda com a voz meia fraca.

- Não sei garoto, ainda precisamos conversar com Tupã sobre isso, mas ficou claro e óbvio que eles estavam atrás de você. - Ele estava ocultando coisas, resolvi perguntar a Raoni.

- Raoni é normal esses ataques de urubus por aqui ? sempre acontece ?

- Não é normal. Na verdade, esses animais nunca apareceram por aqui, eles sempre ... sempre ficam isolados na flo...

- No seu habitat natural ! - Interveio Moacir. Eu podia jurar que Raoni ia falar floresta. Só não entendi porque Moacir o interrompeu, como se eu não pudesse ouvir aquela palavra. Como se eu já não conhecesse a floresta.

Seguimos o resto do caminho em silêncio. Como era bem tarde, as luzes da vila ja estavam apagadas e não havia uma pessoa se quer na rua, todos deviam estar nas suas casas apavorados com o que aconteceu, também não era pra menos, ninguém iria esperar que acontecesse uma coisa daquelas, bem no dia do enterro de Mayara, foi algo meio estranho, meio macabro. Fiquei me lembrando de tudo que aconteceu e eu ainda não sabia como todos os urubus tinham sumido em questão de segundos, mesmo que Moacir, Raoni e Tupã fossem super habilidosos, haviam muito, sem contar nas dezenas deles que me atacavam, fora algo realmente estranho.
Assim que cheguei em casa, Moacir bateu na porta e minha mãe atendeu com uma expressão assustada.

- Ah meu filho ! Graças a Deus ! - Ela me abraçou e começou a me carregar para dentro de casa - Muito obrigado Moacir e Raoni. - Ela agradeceu e os dois foram embora.
Contei para ela tudo que aconteceu depois que ela conseguiu sair,dos urubus atacando, deles me seguindo, me encurralando, do Moacir, Raoni e Tupã lutando como verdadeiros guerreiros etc, só ocultei a parte deles terem sumido de repente, e de eu de uma hora pra outra ter ficado inexplicavelmente quente. Ela ficou tão espantada quanto eu, ainda mais quando eu disse que os urubus me queriam.
Ficamos ali sentados conversando por um tempo somente eu e minha mãe, até eu começar a me perguntar aonde estava meus tios.

- Heitor. - Minha tia chamou atrás de mim - tínhamos preparados uma festinha surpresa pra você, mas mediante a tudo que aconteceu, não tem nem motivos para comemorar, infelizmente. - Eles vieram com um bolinho na mão, iguais os bolinhos que minha mãe comprava pra mim quando eu era pequeno, um bem pequeninho com a vela do número um e do número oito.

- Tem fósforo ? - Perguntei. Ela me deu, então acendi a vela e fiquei vendo por alguns segundos ela queimar.

- Faz um pedido. - Falou minha mãe. Eu fiz, desejei que tudo ficasse em paz, desejei que aquela profecia não fosse real, desejei que tudo não passasse do acaso, desejei que tudo ficasse bem e então, assoprei a vela.

- Feliz aniversário Heitor. - Os três falaram em uníssono. Mesmo depois de tudo, eu me permiti um sorriso, estava perto das pessoas que realmente me amavam e queriam meu bem, enquanto eu estava ali eu me sentiria protegido, ali eu sentia que nenhum mal ia abater, então eu nem precisava ligar para nada de profecia, eu ficaria ali, junto com meus tios e minha mãe, nada de mau me aconteceria.

Depois de comermos o bolo, o que nem demorou muito tempo, a julgar pelo tamanho do mesmo, me senti cansado e com sono, mais do que eu ja estava antes.

- Tios, mãe ... vou dormir se não se importam ... ainda me sinto fraco e cansado, mas nada como um bom sono para eu ficar bem melhor e pronto para outro ataque. - ri sarcasticamente e como ninguém me acompanhou, eu parei de rir.

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