capítulo 3

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_ Bom dia, Quilly.
_ Bom dia, Natália. Um café?
_ Por favor.
_ É pra já.

Coloquei a xícara diante dela.

_ Apesar de tudo, gostei da sua resposta ontem.
_ Não me diga.
_ Sim. Você mostrou que tem um caráter inabalável. Isso é muito difícil nas pessoas hoje em dia. Qualquer outra em seu lugar ia querer fazer bonito para a filha do chefe.
_ Não sou melhor que ninguém Natália. Apenas costumo agir de acordo com minha consciência.
_ Isso é ótimo. Quer almoçar comigo? Tenho que ir ao shopping comprar um presente para uma amiga e não gosto de comer sozinha.
_ Okay, combinando.

Fomos ao shopping e nos divertimos muito. Minha futura enteada é inteligente e muito engraçada. Seu único problema é dirigir igual louca, mas conseguimos chegar inteiras no estacionamento.

Ela comprou uma bolsa Louis Vuitton para a tal amiga, que custaria mais de três salários meus.

_ Vamos ao América? A comida de lá é maravilhosa. E não se preocupe, eu convidei, eu pago.
_ É muito gentil de sua parte.

Natália, muito chique, optou por um prato minúsculo. Eu, boa de garfo como sempre, pedi um sanduíche gigantesco e um milk-shake duplo.

_ Quero que você me desculpe por ter feito aquele pedido ontem, Quilly. É que eu perco a cabeça quando vejo aquela vaca naquele escritório, toda cheia de si, como se fosse a rainha da cocada preta. Já conversei com meu pai sobre isso, ele nega, mais é tão óbvio! Segui os dois uma vez e os vi entrando num motel. Eles saíram quatro horas depois, de cabelo molhado, e foram direito pro escritório. Dá pra acreditar?
_ Natália, eu realmente...
_ Sossegue, isso é só um desabafo. Justamente porque você me deixou muito segura de seu modo de ser é que tenho confiança em me abrir. Minha irmã não sabe de nada. Por favor, não me negue isso. Não tenho com quem conversar sobre isso.

Respirei fundo. Era hora do segundo passo.

_ Certo, se você confia em mim, pode se abrir. Mas nunca se esqueça de que eu jamais me meterei nesse história. Não adianta ficar achando que logo, logo estarei fazendo o que você quer.
_ Juro que só estou querendo um ombro.
_ Nesse caso, fique à vontade. Faço idéia do quanto você deve estar sofrendo com tudo isso.
_ Ela ficou amiga da minha mãe! As duas saem para fazer compras quase toda semana, são confidentes! Como posso dizer pra minha mãe que a sua melhor amiga é amante do marido dela?! O que meu pai tá fazendo e uma puta sacanagem com todos nós!
_ Que atitude pretende tomar?
_ Nem imagino. Acho que a raiva não me deixa racionar direito. O que você faria se estivesse no meu lugar?

Fingi que pensei bastante antes de responder

_ Sei lá... Talvez dar um jeito de sua mãe flagrar os dois juntos.
_ Como?

Ela se inclinou na cadeira, com os olhos bem abertos.

_ Contrate um detetive e descubra os horários deles, a onde eles vão... Coisas assim. Aí, convide sua mãe para um almoço, por exemplo, e passe diante do motel no exato momento em que eles estiverem saindo. Um simples "Aquele não é o carro do papai?" resolverá tudo.
_ Quilly, que ótima idéia! Ah, mas eu tenho um medo danado da reação da minha mãe... Ela tem o coração meio fraco, sabe? Já imaginou se passa mal?
_ De fato, talvez fazer algo assim não seja bom. Quer saber? Deixe tudo de lado. Vai ver seu pai é do tipo que não consegue viver sem ter amante, já conheci homens assim. Se for, ele termina com Joyce e arranja outra, e sua vida vai ser correr atrás de acabar com os casos dele.
_ Que nada. Sou a mais ciumenta das duas, estive no pé do meu pai desde menina. Ele sempre foi louco pela minha mãe, nunca teve olhos para outra mulher. Essa piranha é que conseguiu seduzir o pobrezinho...
_ Natália! Pobrezinho é um exagero, não acha?

Ela dá uma risada.

_ Viu só como estou descompensada?
_ Deixe isso tudo pra lá, minha amiga. Duvido que seu pai largue sua mãe por causa de Joyce.
_ Por que não? Ela é mais nova e bonita. Cretina, só quer saber do dinheiro dele!
_ Homens como seu pai não abandonam a família por causa de uma aventura.
_ Se ele estiver apaixonado, a possibilidade de pedir o divórcio é de cem por cento. Papai nunca faz nada pela metade Quilly. Se ele ama aquela puta, ele vai deixar minha mãe.

Hum... Essa sim era uma boa informação.

Terminamos o nosso almoço e voltamos ao escritório. Além de namorar bastante, eu teria muito em que pensar no meu fim de semana.

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