Capítulo 9

25 3 1
                                    

Quando cheguei, Joyce me aguardava na frente do prédio.

  _ Sorte nossa por o tempo estar tão bom, não é? Foi uma excelente idéia sua irmos até a praia. Mudar de ares me fará bem.
  _ E podemos comer um peixe grelhado delicioso num restaurante que conheço.

Coloquei um CD da Marília Mendonça, adoro sertanejo as vezes, uma sofrência caí bem de vez em quando.

  _ Nossa que voz linda ela tem, já havia ouvido essa música na rádio porém não sei quem canta, você sabe?
  _ Marília Mendonça, um dia estava fuxicando a televisão, e quando passei pelo Multishow, escutei aquela voz maravilhosa. Parei, vi o show até o fim e no dia seguinte saí à procura de um CD dela. Comprei dois, um mais antigo e um novo, o que está tocando.

A estrada estava livre.

Assim que passamos pelo pedágio, perguntei:

  _ Quer dar uma parada para comer ou beber alguma coisa?
  _ Quero. Não consegui engolir nada pela manhã, mas agora parece que meu apetite voltou.

Logo à direita havia um lugar que vendia muitos lanches rápidos. Tomei um iogurte e comi um italiano. Joyce também quis um iogurte, mas optou por um hambúrguer.

  _ Sem dúvida, seu apetite está de volta!
  _ Sou boa de garfo. Mas quando algo me aborrece não consigo comer direito.
  _ Eu era assim na adolescência.
  _ Mesmo? E como resolveu o problema, Quilly?
  _ Não deixando que nada me aborreça.
  _ Você é uma privilegiada.
  _ Pode ser...

Retomamos viagem.

Fazia um calor danado. Como detesto ar condicionado, escancarei minha janela. Joyce fez o mesmo, e logo nossos cabelos voavam, livres, dentro do automóvel. Adoro essa sensação.

  _ Foi horrível ontem.
  _ Nem me diga! Levei um susto danado quando vi a dona Isaura lá dentro. Pensei que ela fosse matar você.
  _ Cheguei a imaginar a Natália me segurando e a mãe me espancando. Sabe o que é pior? O Jorge não falou uma única palavra em minha defesa.
  _ Os homens são assim mesmo. Bancam os poderosos, dizem que fazem e acontecem, mas quando são pegos no flagrante parecem uns gatinhos molhados. Por isso é que temos que nos unir. As mulheres dão muito valor aos homens, um valor que eles não têm.
  _ Você me parece bem auto suficiente.
  _ E quem não é tem de engolir muito sapo. Não tenho o menor talento para isso. É por esse motivo que luto por minha independência. Não aceito imposição de ninguém.
  _ No entanto, mais dia, menos dia, a gente acaba tendo de fazer concessões. Não se iluda, Quilly.
  _ Mas eu faço. Contanto que exista um propósito bem definido.
  _ Hum... Uma mulher que sabe o que quer!
  _ Assim como você.
  _ Acha mesmo?
  _ Quando a ouvi dizer ontem que teve um caso com o dr. Azevedo para se desenvolver mais rápido em sua carreira tive o maior orgulho de você.
  _ Jura?!
  _ Sim. Pela atitude em si e por sua coragem de dizer. Você não viu, mas ele ficou puto da vida. Cá entre nós, não é muita pretensão imaginar que uma mulher tão mais nova e tão bonita como você iria se interessar por ele como homem? Tudo bem, o dr. Azevedo é bem apanhado, mas... é meio velho, não é?
  _ De fato. Mas aquela aura de poder dele é irresistível. Pelo menos pra mim.
  _ Poder emprestado...
  _ Como assim?
  _ Ora, você sabe que a fortuna dele vem toda da mulher, da dona Isaura.
  _ Não!
  _ Sim! Ela é rica. Sem dúvida ele é um advogado brilhante, que se deu muito bem na profissão. Mas num caso de divórcio, por exemplo, o dr. Azevedo sai só com o que tem no banco, que eu garanto que é quase nada se comparado ao que dona Isaura possui.
  _ Não me diga! Eu não sabia disso...
  _ Quem me contou foi a Natália.
  _ Vocês são amigas?
  _ Gosto dela, é uma boa garota. Mas não posso dizer que sejamos amigas. Ela é filha de meu patrão, afinal de contas. Decidiu se abrir comigo e fez algumas confidências. Mas essa não é uma delas, porque parece que muita gente sabe do que acabo de lhe dizer.
  _ O Jorge não me falou nada disso. Só o que fez foi desfiar as mil e uma vantagens de ter um amante milionário como ele.
  _ Mesmo? Não sabia que eles eram tão ricos assim.
  _ E como! Eles tem até uma mansão em Dubai que custou uma fortuna.
  _ Menina!
  _ A família da Isaura é de usineiros, lá do Nordeste. A origem da fortuna dela é essa, mas nem imagino como ficaram tão ricos assim.
  _ É uma coisa curiosa isso tudo, não é? O mundo dos milionários... Uma realidade tão distante da minha!
  _ E da minha também.
  _ Você nunca teve, mesmo, ambição de ficar com ele?
  _ Não. Eu queria é que Jorge abrisse meus caminhos em minha carreira. Tenho vinte e seis anos e não pretendia demorar mais uns dez para ter uma boa carteira de clientes. Sou do tipo que quer tudo para ontem.
  _ Ainda bem que você não ambicionou a fortuna dele. Já imaginou o dr. Azevedo largando a mulher para ficar com você, chegando de mala e cuia, velho e pobre?
  _ Não fale assim, Quilly, o Jorge é um ótimo sujeito.
  _ Não duvido. Mas teria sido terrível caso você tivesse querido se dar bem.
  _ Já imaginou?!

Chegamos em Cabo Frio. Deixei o carro no estacionamento do shopping e fomos ao banheiro para trocar de roupa e calçar sandálias. Em seguida, direto para a praia.

  _ Ai, o cheiro do mar! Não há perfume mais gostoso para mim na face da terra!
  _ Também gosto muito.
  _ Vamos caminhar na beira da água?
  _ Sim, é um exercício muito bom.

Colocamos nossos bonés, óculos e começamos a andar.

  _ Sabe, Joyce, eu estava aqui pensando... O Dr. Azevedo estava a fim de assumir você.
  _ Por que diz isso?
  _ Se ele não lhe falou que não tinha dinheiro era porque não queria perder você. Ou pretendia ficar com você ou que o caso durasse muito mais.
  _ Faz sentido. Tem certeza mesmo de que ele não tem muito dinheiro?
  _ Absoluta. Não haveria motivo para Natália mentir para mim. Sou uma simples secretária, não tenho interesse nenhum em saber nada sobre isso.

  Joyce suspirou.

  _ O que foi?
  _ Confesso que cheguei a me sentir tentada a ter uma vida com ele. É tudo tão difícil às vezes, não é? Ter de dar um passo depois do outro, enfrentar derrotas... Qualquer deslize é um bom profissional fica para trás.
  _ É para lá de compreensível. Ainda mais com mansões em Ibiza.
  _ Fora as contas no exterior.
  _ Os iates, as fazendas...
  _ Hu-hum...
  _ E pensar que nada disso é dele. Por que será que a Isaura se casou com um pobretão?
  _ Deve ter se apaixonado.
  _ E os pais não iriam interferir? Gente rica não costuma gostar de se misturar com gente pobre.
  _ Não sei a história deles.
  _ De qualquer modo, ainda bem que não me iludi.
  _ É.
  _ Ficou séria de repente. O que foi, Quilly?

  Se ela soubesse! Meu coração estava disparado. Meu futuro marido era muitíssimo mais rico do que eu havia imaginado. Evidente que era pura mentira essa conversa de a fortuna ser da mulher dele. O Dr. Azevedo nasceu em berço de ouro e aproveitou a influência da própria família para se dar bem nos negócios. Poucos sabem, mas, além de advogado de sucesso, era um empresário importantíssimo. Ele e seus dois irmãos eram donos de rede se supermercados e de lojas de eletrodomésticos. Isaura também era de família abastada, mas Azevedo era o tal.

  _ Bateu saudade do meu amor.
  _ Ah, então está apaixonada, Quilly?
  _ Sim, mas o idiota não quer nada comigo.
  _ Não acredito! Como algum homem pode resistir a você?

Sorri com meiguice.

  _ Conte me sobre esse cabeça dura, Quilly.

E narrei uma história cheia de flores e dores para Joyce.
Simpatizei bastante com ela. Era até possível que mais adiante, quando estivesse no posto que me era direito, eu a ajudasse profissionalmente. Afinal, com todas as informações que consegui, dei me conta de que Joyce não iria me causar dor de cabeça. Quem não é meu inimigo é meu amigo. Por que não?

Você leu todos os capítulos publicados.

⏰ Última atualização: Aug 01, 2018 ⏰

Adicione esta história à sua Biblioteca e seja notificado quando novos capítulos chegarem!

Uma AmbiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora