Capítulo 5

27 2 0
                                    

  _ Filha, vou fazer os pastéis que você gosta.
  _ Não vou almoçar em casa, mãe. Anúbis me convidou para um churrasco.
  _ Ah, eu odeio aquele rapaz!
  _ Você odeia todos os meus amigos.
  _ É porque você não sabe escolher.

Me recusei a repetir, pela milésima vez, aquele diálogo sem fim. Depois que Francisco morreu, há cinco anos atrás, minha mãe, que já era um grude comigo, ficou ainda pior. Eu iria adorar se ela arrumasse um namorado ou um bando de amigas que fossem curtir a vida pela madrugada a fora. Mas a alegria dela era preparar os pratos que eu adorava. Lógico que gosto se um paparico, mas isso tinha um preço. Só que eu não pagava. Ela resolveu optar por ficar sozinha e se dedicar a mim; portanto, que arcasse com as consequências. Não podia inferir que eu faria a mesma coisa. Eu sou muito jovem, estou a penas começando a minha vida, e não vou abrir mão de sair pra me divertir pra ficar enfiada em casa, fazendo companhia á ela. Não era justo! Minha mãe aproveitou sua juventude da maneira que quis. Agora é a minha vez. Eu cuido dela, sustento a casa, sou amorosa... Mas nem pensar em ceder a chantagem emocional. Isso nunca!

  _ Quando você volta?
  _ Acho que só amanhã.
  _ Como assim? Vai dormir aonde?
  _ Se tudo der certo, no motel.
  _ O quê? E me diz isso com a cara mais lavada desse mundo?!
  _ Mãezinha, deixe de drama. Sou maior de idade, sustento nós duas, a casa, pago minha faculdade. Sou dona do meu próprio nariz desde os dezoito anos. Acha mesmo que só tenho obrigações? O ideal, para você, era que eu fizesse tudo o que faço e passasse todo o meu tempo livre com você, mas isso não vai rolar. Gosto de ficar com você, mas de vez em quando. Preciso de gente da minha idade. Preciso de homem! E não faça essa carinha de "O que deu nessa menina?!", porque você, quando era moça, fez tudo o que quis.
  _ Não se compare a mim! Que atrevimento!
  _ Por quê? Somos só nós duas neste mundo, meu amor. Se eu não for franca com você, quem será? Mãe, jamais vou te deixar, vou cuidar de você até o fim da vida. Mais nunca abrirei mão de fazer o que quero, nem por você, nem ninguém. Assim, como ia dizendo, aproveite seu sábado, porque vou aproveitar o meu.

Anúbis buzinou lá embaixo. Dei um beijo em minha mãe e saí.

  _ Durmiu bem?
  _ Dormi. E você?
  _ Como um anjo.
  _ Pelo jeito, cumpriu sua missão ontem, seja lá qual tenha sido.
  _ Quilly, eu me abri daquele jeito só pra que você soubesse que pode contar comigo. Mas não fique fazendo gracinha, okay?
  _ Okay, desculpe.

Ele deu partida no motor.

  _ Como vai sua mãe?
  _ Como sempre.
  _ Pegando no seu pé?
  _ Ela tenta.
  _ Mas você é dura na queda.
  _ Sem descanso.

Anúbis deu risada.

  _ Seu amigo Celso é casado?
  _ Não. Por quê? Interessada?
  _Claro! Um gostosão daqueles!

Ele fechou a cara.

  _ Anúbis, não fique com ciúmes. Já falei que seu dia chegará.
  _ Até lá você vai se divertir com todos os meus amigos e colegas, certo?
  _ Mais ou menos isso.
  _ Me Deus, o que eu vi nessa mulher?!
  _ Você sabe...

Que delícia poder brincar assim com ele! Eu faria qualquer coisa por Anúbis, ele é o meu melhor amigo, irmão que eu nunca tive. Anúbis sabia tudo sobre mim e minha vida, e ainda assim me adorava! Como não amar esse sujeito?

  _ Para quê você quer saber se Celso é casado? Até parece que dá importância a isso.
  _ Dou importância, sim. Os casados são os melhores.
  _ Por quê?
  _ Porque não podem pegar no meu pé. Se o sujeito é solteiro, logo vem querendo namorar, mandando mensagem toda hora. Não quero nada disso. Pra mim, é diversão e chega.
  _ Alguém já lhe disse que você pensa como um homem?
  _ Muitos me disseram, mas acho isso bobagem. Já tive de despachar muito camarada chato, que achou que, só porque tinha ido pra cama comigo, tínhamos um compromisso. Nesse caso, eram homens que pensavam como mulher?
  _ É... Faz sentido.
  _ É muito simplismo esse negócio de "homem é assim, mulher é assado". Cada um de nós se faz por sua história de vida, pela maneira como reage as coisas que lhe acontecem. A sociedade tem mania de tentar enquadrar todo mundo em seus padrões, como se fôssemos feitos em série. Eu sou como sou, e quem não gostar que se foda!

Chegamos ao lugar onde estava sendo dado o churrasco, o estacionamento - enorme - de um armazém maior ainda. Aliás, toda aquela região era só de armazéns e fábricas antigas. Devia ser bem sinistro à noite.

Havia poucas mulheres presentes. Eu e mais cinco, todas policiais também.

  _ Acho que eu não devia ter vindo, Anúbis. Isto aqui é mais uma confraternização entre colegas, não é?
  _ Deixe de bobagem. Se não fosse pra você vir, não teríamos convidado. Olhe, ali está Celso. - E acenou para o gostosão.

Celso veio até nós, trazendo duas canecas cheias de cerveja.

  _ Olá! Que bom que você veio. A propósito, ainda não sei o seu nome.
  _ Quilônia.

Celso soltou uma gargalhada estrondosa.

  _ Nossa, além de ser linda, é bem-humorada! Quilônia é ótimo! De onde você tirou isso?

Fiquei olhando para ele séria, esperando que Celso notasse a merda que acabou de fazer. Aos poucos o riso dele foi murchando, e uma vermelhidão intensa coloriu seu rosto.

  _ Ah, meu Deus! Não acredito que fiz isso! Por favor, me perdoe!

Sorri, delicadamente.

  _ Não se preocupe. Todos me chamam de Quilly. Mas costumo me apresentar como Quilônia justamente para ver o efeito que isso causa. Uns mordem o lábio para se conter. Outros fingem que é um nome como outro qualquer. Você foi autêntico. Achou graça e riu. Eu morria de vergonha antes, quando menina, mas agora não mais.
  _ Bem, você tinha de ter algum defeito, né? Quero dizer, linda como é...

Certo ele se redimiu.

  _ Venha Quilly, vou apresentá-la ao pessoal.

E depois de eu desafiar todo o carretel de piadas acerca de meu próprio nome, o que invariavelmente faz com que todos se apaixonem por minha irreverência, comemos um delicioso churrasco, um dos melhores que já havia comido.

Celso se mostrou um sujeito muito agradável, embora fosse pouco inteligente e falasse errado a beça. Eu, que sempre li muito a respeito de tudo, tenho certa dificuldade em encontrar rapazes com o mesmo nível cultural que eu. Ainda bem que não dou muita importância a isso.

Lá pelas 22:00 horas, após muita cerveja, Celso me convidou para dar uma volta. E claro, fomos direto para o motel.

Tive muitos amantes desde os quinze anos, quando perdi a virgindade com meu primeiro namorado. Creio mesmo que por uma questão de hormônios, porque sexo bom eu só tenho comigo mesma. Os homens, em geral, não sabem trepar. Além de não ter muita imaginação, entendem tão pouco da anatomia feminina! Uns acham que beliscar nossos mamilos nos causam tesão, e não dor. Outros espalmam a mão em nossos seios e fazem movimentos circulares com força e pensam que nossos suspiros são de puro desejo. E nenhum sabe o que fazer com o clitóris. Ou apertam com força ou friccionam como se ele fosse de borracha. Assim, aprendi a fazer todos os malabarismos necessários para tirar proveito de um belo corpo de homem. Adoro o cheiro que vem da pele deles, a barba roçando na nuca. Mas sou eu que vou fazendo isto e aquilo, com todo o jeitinho, para pelo menos não sentir dor. Se não sinto prazer? Claro que sim! Porém, não orgasmo. Os orgasmos são só comigo mesma.
Entretanto, justiça seja feita a Celso. Céus, ele poderia - e deveria - dar aulas a todos os homens que conheci! Celso é praticamente um deus do sexo, sabe como tocar, como beijar, o que fazer em cada pedacinho da gente. Vai ver que foi por isso que me apaixonei pela primeira vez na minha vida, e com uma intensidade espantosa.

******

A mulher da foto é a Quilly! Não havia colocado nenhuma foto dela antes porque estava procurando alguém que se encaixasse no perfil dela.

Uma AmbiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora