Capítulo 7

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Tempo quente no escritório na sexta-feira! A dra. Joyce e o dr. Azevedo tinham saído na hora do almoço e me avisaram que iriam direto para o fórum, portanto só voltariam lá pelas cinco. Eu e Natália vimos quando os dois se foram. E quando voltaram...
Para encurtar, a dra. Joyce estava toda de verde. Verde era também a meia de seda... que foi, mas não voltou. A pergunta que não quer calar é: por que uma advogada sai para ir ao fórum com meia e volta sem ela?

Deixe ver...

Pois é, a conclusão de Natália, que, para falta de sorte da doutora, deu de cara com ela no corredor, foi a mesma que a minha. Incrível como nós, mulheres, somos detalhistas. Natália notou a falta da meia e deu o maior escândalo. Chamou-a de tudo quanto era palavrão, avançou para cima dela. Sobrou até para o dr. Azevedo, que, ao tentar acalmá-la, levou no rosto o tapa que devia ter acertado a doutora. Foi uma coisa de louco. A gente às vezes tem a ilusão de que os ricos não dão baixaria, mas aquilo foi de encher os olhos!

Mas não acabou por aí. Natália, que é uma mulher alta e forte, que pratica esportes desde menina, não dava trégua. Queria porque queria dar uma surra na doutora, e estava quase conseguindo quando um grito enregelou o sangue de todos:

  _ O que está acontecendo aqui?!

E ali estava a linda e chique Isaura Azevedo, em carne e osso. Eu nunca a tinha visto pessoalmente, mas na hora em que a vi soube que era ela. Seus olhos verdes chispavam e iam da filha para Joyce e para o marido, que tinha a marca de cinco dedos na face esquerda.

Fora de si, Natália ordenou:

  _ Vamos, papai, diga para a mamãe o que está havendo!

Se eu fosse homem, estaria ouvindo minha barba crescer, tão absoluto foi o silêncio.

  _ Muito bem, então, deixe que eu diga. Mamãe, me perdoe, mas não aguento mais!
  _ Natália...
  _ Você está bancando a trouxa!
  _ Filha...
  _ Não adianta, papai, mamãe tem que saber! Está vagabunda aqui, que se faz de sua amiga, é amante do seu marido! Eles acabaram de vir do motel. Todos viram que ela saiu com meia e voltou sem!

Dona Isaura empalideceu. Respirou fundo, aproximou-se de Joyce e ficou bem na frente dela, encarando-a.

  _ É verdade o que minha filha acabou de dizer? Você está tendo um caso com meu marido? - perguntou, com toda a calma do mundo.
Joyce tremia, descabelada. Não teve coragem de encarar dona Isaura. Não disse nada, também.

  _ Responda, Joyce! Vou acreditar naquilo que me disse. Você é amante de Jorge?
  _ Isaura... eu não pretendia...

O tapa que Natália tanto quis dar na cara de Joyce foi dado pela sua mãe. A cabeça de Joyce girou cento e oitenta graus sobre o pescoço, e ela despencou em cima da minha mesa, atirando todos os documentos no chão.

  _ Perdão, Joyce, talvez eu tenha me precipitado. Termine a frase. Você não pretendia...
  _ ... que as coisas chegassem a esse ponto. Tudo era só uma brincadeira para mim, mas Jorge começou a me perseguir, não me dava paz! Devia estar meio enjoado de vinte e dois anos de casamento, e então gostou da novidade. Mas eu não sou uma ameaça para você, não precisa se preocupar. Só queria um caminho mais curto para o sucesso profissional.

Ora, ora, alguém a quem devo admirar!

  _ Entendo. Nunca reparou que eu tinha você como uma verdadeira amiga?
  _ Isaura, eu te amo! Não foi nada pessoal, eu não queria roubar o Jorge de você. Eu...
  _ Cale a boca! Junte suas coisas e saia já deste escritório.
  _ Você não pode me demitir! Não sou sua funcionária!
  _ De fato. Mas você tem duas opções: sair andando ou sair de maca. Qual prefere?
  _ Se encostar a mão em mim, eu a processo!
  _ E eu acabo com a sua carreira. Desapareça daqui!

Olhei para o dr. Azevedo. Quase senti pena dele.

Fechei os olhos por um instante e agradeci a todos os deuses. Em algum momento de minha vida devo ter feito algo de muito bom. Nenhum plano que eu tivesse arquitetado poderia ter sido tão perfeito quanto aquilo. Era uma maravilha ver que meu desejo começava a se realizar, e eu nem sujara as mãos!

Humilhadíssima, Joyce pegou apenas a bolsa e correu para fora do escritório. Prestativa, fui buscar várias xícaras de chá de camomila. Quando voltei da cozinha, levei um susto; dona Isaura havia desmaiado. O dr. Jorge, desesperado, dava tapinhas na mão dela, com os olhos cheios de lágrimas. Natália chorava.

  _ Devemos chamar uma ambulância! - falei.

Ninguém me deu atenção, então liguei para a emergência.

Em quinze minutos, o socorro chegou e levou dona Isaura, o dr. Azevedo e Natália para o hospital.

Fomos dispensados mais cedo do escritório. Não havia clima para continuarmos trabalhando.
Como não tinha aula, viera do metrô para o trabalho. Assim, decidi ir caminhando para casa.

Que noite deliciosa! Tem muita gente que não gosta do Rio de Janeiro. Eu amo de paixão. Mesmo com todos os problemas da cidade grande que tão bem conhecemos, esta é minha terra, onde tem de tudo. Adoro praia, campo, cidade do interior. Mas é aqui que estou em casa.

Fui ao shopping, bem pertinho de onde moro. Aquele era um dia de triunfo, e eu merecia me dar um presente.

Não sem antes comer alguma coisa. E ataquei um tempurá de camarão. A pessoa que inventou o tempurá de camarão foi direto para o céu. Esse prato é minha versão perfeita do paraíso.

Comprei um CD da Pink, uma roupa linda de festa e, por via das dúvidas um vestido preto sóbrio. Nunca se sabe quando vamos precisar de um, não é verdade?

Uma AmbiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora