Capítulo 8

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Minha mãe estranhou quando me viu chegar em casa.

  _ Ué! Não tem aula?
  _ Não. É aniversário da universidade.
  _ Mas você vai sair, não é?
  _ Acredite se quiser; hoje resolvi ficar aqui.
  _ Não brinca! Algum problema, filha?
  _ Nenhum. É que meu sexto sentido me diz que devo economizar energia. Algo de muito bom está para acontecer comigo, mas dará trabalho. Por isso, vou dormir mais cedo. De quebra, acordarei com a pele perfeita amanhã. E fico um pouquinho com a senhora. Estou com saudade de sua companhia, mãe.
  _ Eu também, meu amor. A mamãe fica muito feliz, viu?
  _ Que bom! Vou tomar banho. Já, já começa o nosso filme preferido. 

Sábado pela manhã liguei no celular de Natália. Caiu na caixa postal.

  _ Natália, é Quilly. Quero saber como vão as coisas com sua mãe. Não deixe de me ligar, estou preocupada. Um beijo.

Meia hora depois, o telefone toca. Era ela...

  _ Oi Quilly, recebi seu recado. Estou arrasada...
  _ O que houve? Como está a dona Isaura?
  _ Minha mãe teve parada cardíaca e até agora não voltou à consciência. O médico disse que ela deve ter sofrido um trauma muito grande, e o coração não aguentou. Ele a internou na U.T.I!
  _ Nossa!
  _ E tudo por causa daquela mulherzinha. Se minha mãe morrer, eu acabo com ela!
  _ Calma. A dona Isaura é forte e moça ainda.
  _ Forte nada. Lembra que falei que mamãe tem problemas no coração? Ela toma remédio desde criança, todos sabíamos que uma emoção intensa demais poderia ser muito prejudicial. Sempre tomamos tanto cuidado para que nada desse errado...

  E começou a chorar.

  _ Natália, você precisa de algo? Sei lá, um ombro, talvez...
  _ Estou aqui no hospital. Mais tarde vou para casa descansar um pouco. Se eu sentir necessidade de conversar, posso ligar?
  _ Claro! Você tem o número do meu celular?
  _ Tenho.
  _ Ótimo. Assim, se eu tiver saído, você conseguirá me encontrar.
  _ Um beijo meu bem. E obrigada por tudo.
  _ Não há de quê. Até mais.

Peguei minha agenda de contatos.

  _ Alô?
  _ Por favor, posso falar com a dra. Joyce?
  _ Quem gostaria?
  _ Quilly, do escritório do dr. Azevedo.
  _ Um momento.
  _ Alô, Quilly? Que surpresa...
  _ Como vai, doutora?
  _ Não entendo o motivo do seu telefonema. Foi o Jorge quem mandou que me ligasse?
  _ Não, liguei para saber de você. Sou funcionária dele, mas antes de tudo sou mulher. Aquela situação toda mexeu muito comigo. Foi tudo tão de repente... Enfim, sempre gostei muito de você e não a vejo como a vilã da história. Só queria que soubesse disso.

Silêncio.

  _ Sério?
  _ Sério.

Um suspiro.

  _ É muito bom ouvir isso, Quilly, eu agradeço. Imagino que todo mundo me odeie por lá.
  _ Não posso falar pelos outros, mas sinceramente não vejo motivos para isso. Você trata todos com gentileza, é excelente profissional, já ganhou várias causas importantes para o escritório. Se fez algo ou deixou de fazer, não é problema de ninguém.
  _ Acha mesmo?
  _ Sem dúvida. Não sou eu quem irei julgá-la. Não sou moralista. Cada um sabe onde lhe aperta o sapato.
  _ Você é uma boa moça, Quilly. Tudo que eu precisava era ouvir uma palavra de simpatia. Jamais me esquecerei do que está fazendo por mim.
  _ O que vai fazer?
  _ Não tive tempo para pensar. Mas meu caso com Jorge acabou. Falei a verdade a Isaura, eu não pretendia tirá-lo de casa ou algo assim. Ele se apaixonou, fazer o quê? Só espero não sair prejudicada nessa história toda. Afinal, perdi um emprego excelente. Além das regalias que ele me proporcionava, se é que me entende.
  _ Faço idéia. Mas eu não sabia que vocês tinham um caso.
  _ Natália não tinha lhe contado? Ela espalhou para todos quando descobriu.
  _ Sim ela me falou, mas não dei crédito. Achei que era coisa de filha ciumenta.
  _ Não, nós começamos a namorar assim que fui trabalhar lá. Depois me tornei amiga de Isaura, mas nem me passou pela cabeça terminar com Jorge por causa disso. Eu não estava a prejudicando em nada.
  _ Pois é...
  _ Como terminou tudo aquilo?
  _ A dona Isaura está internada na U.T.I.
  _ O quê?! Meu Deus, a culpa é minha! o Jorge nunca vai me perdoar!
  _ Não é culpa sua, ela tem problema cardíaco há anos.
  _ Mas foi aquela loucura toda que a mandou para o hospital! Pobre Isaura... Ela é uma pessoa incrível sabia? O que eu faço? Natália e júlia vão querer me processar!
  _ Era só o que faltava! Parece até que você fez tudo isso sozinha! E o dr. Azevedo? Foi alguma vítima, por acaso? Um homem simples e inexperiente que foi levado a dar um mau passo? Ora, tenha dó!
  _ É assim que as pessoas vêem.
  _ Eu não. Você é solteira. Ele é casado. Cabe a ele ser fiel, não a você. Eu me divirto quando vejo esse tipo de coisa. O marido pula a cerca, faz o que bem entende, e todo mundo vai pra cima da amante. Pelo amor de Deus, quem traiu foi ele!
  _ Você é sensacional, Quilly. Pena que não pudemos estreitar laços antes. Mas ainda da tempo, não é?
  _ Lógico!

  _ Se não tiver nenhum compromisso, poderíamos dar um passeio no shopping.
  _ Tenho outra sugestão. Ainda é cedo. Poderíamos ir até Cabo Frio. Almoçamos lá e voltamos no final da tarde. Vai ser muito bom pra você. Quando preciso recarregar minhas energias, faço isso. Dou uma bela caminhada na beira da praia, depois sento e fico olhando o mar. Só aquele cheiro maravilhoso para me revigorar, me recolocar nos trilhos.
  _ Ótimo! Vou me arrumar agora mesmo. Vamos no meu carro ou no seu?
  _ No meu. Passo aí em quarenta minutos. Tudo bem?
  _ Okay. Estarei esperando.

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