Uma Ambição

Capítulo 4

Á noite, na faculdade, encontrei Anúbis. Nós nos conhecemos desde o colegial, mas não faço a menor idéia de qual seja seu nome verdadeiro. Ele ganhou esse nome porque tinha mania de bancar o justiceiro, e era implacável. Sendo enorme e forte como um touro, sempre que alguém se metia a valente com algum garoto mais fraco lá vinha ele tomar as dores. Eu gostava do cara. Seu sorriso franco e as palavras diretas tinham tudo a ver comigo. Agora ele estuda direito e trabalha na polícia.

  _ Ei meu bem! Nossa, é incrível, mas você fica mais gostosa a cada dia, sabia?
  _ Sabia sim. - Dei-lhe um beijo no rosto. - Te digo o mesmo, meu amigo.  belos bíceps, hein?
  _ Gostou? Estão à disposição. Aliás, tudo em mim lhe pertence, minha princesa.

Anúbis sempre foi a fim de me comer. Mas algo me dizia que eu devia guardar esse gostosão ai para o momento certo. Por isso jogava charme, dava uns beijos escandalosos de vez em quando, uma passadinha de mão básica e pronto. Deixava ele no céu.

  _ O que tem feito de bom, Quilly?
  _ O de sempre. Trabalho, faculdade, uma balada no fim de semana... E você?
  _ Escolhi a profissão certa, sabia? Como polícial posso proteger melhor as pessoas.
  _ Credo Anúbis, até parece que os policiais são tão dedicados assim.
  _ Vem cá, quero te contar uma coisa.

Ele me levou até uma mesa no fundo da lanchonete. Não havia ninguém ao nosso redor.

  _ Quilly, vou te contar uma coisa, mais é um segredo tenso. Posso confiar?
  _ Você sabe que sim.
  _ Muito bem. Fui convidado para entrar para um grupo muito exclusivo de uns amigos meus.
  _ Que ótimo! O salário compensa?
  _ É um trabalho paralelo. E não remunerado.

Eu ia fazer um comentário ridículo, mas de repente entendi a que ele se referia.

  _ Você fará parte de um grupo de extermínio?!
  _ Quieta!

Olhamos ao redor. Continuávamos sozinhos ali.

  _ Nosso trabalho é punir os que devem ser punidos mas não são.
  _ Ou seja, um grupo de extermínio.
  _ Alguma coisa contra?

Eu não soube o que responder. De fato quase enlouquecia de raiva toda vez que algum grande desgraçado ficava poucos anos, ou até meses, na cadeia, depois de ter cometido barbaridades. Nossas leis são tão brandas! Não existe nem prisão perpétua nessa terra!

  _ Você não tem medo de acabar com a vida de algum inocente?
  _ A gente se preocupa em só detonar os que merecem. Mas, se algum acidente ocorrer, encaramos como baixa de guerra.
  _ Por que resolveu me contar isso?
  _ Quilly, sou louco por você desde que nos conhecemos. E não é só essa coisa de querer te levar pra cama. Nós falamos a mesma língua, você é forte, determinada... mas sozinha. Não falo por você ser mulher. Tem muito marmanjo molenga por aí. Falo por você ser sozinha mesmo. Conheço toda a sua história, você me contou.
  _ E?
  _ E quero dizer que, se algum dia, não importa quando, não importa seus motivos, alguém lhe fizer algo de muito ruim, me chame. "Mesmo que seja às quatro horas da manhã, chovendo, fazendo frio", com diz aquela música do Jorge Benjor.

Aquilo me comoveu. Então meu garanhão de plantão queria cuidar de mim.

  _ Obrigada, Anúbis. Não vou me esquecer disso. Agora vamos comer alguma coisa, a aula começa em quinze minutos.

Sexta-feira! Depois das aulas fui beber uma cerveja com uns amigos. Anúbis foi também.

  _ Existe uma coisa de que eu tenho muita curiosidade, Quilly.
  _ O que é?
- Você é uma mulher liberal, já teve mil namorados. Nós somos amigos há anos e nunca transamos. Por que você nunca quis?
  _ Não surgiu oportunidade.
  _ Até parece!

Sorri maliciosamente.

  _ Um dia vai acontecer, Anúbis. Enquanto isso se contente com a paquera.
  _ Jura que um dia vai acontecer? Vou cobrar, hein?
  _ Não será preciso. Tudo tem hora certa.
  _ Menina misteriosa... Menina má!

Então, olhei pra entrada do bar e vi um homem maravilhoso caminhando em nossa direção. Todos os meus hormônios entraram em ebulição na hora. Ele veio direto até Anúbis e estendeu-lhe a mão.

  _ Ei, cara!
  _ Celso! Como me encontrou aqui?
  _ Segui seu cheiro.

E trocaram um cumprimento normal.

  _ Pessoal, este é Celso, meu colega da polícia.

Todos sorriram pra ele, e eu precisei enxugar os lábios, pois estava quase babando.

  _ Senta ai Celso, toma uma ai com a gente.
  _ Depois, agora preciso que você venha comigo.

Eles se encararam, numa comunicação muda.

  _ Tudo bem. Até mais doçura. - E Anúbis me deu um beijo na boca.
  _ Que pena vocês terem que ir...
  _ Eu que o diga, boneca.

"Boneca?" Que jeito antiguinho de elogiar uma garota... Mas vindo daquele Celso, ganhava um novo colorido.

  _ Anúbis, por que não convida sua amiga bonita para ir ao churrasco amanhã?
  _ Boa idéia! Que tal?
  _ Sem dúvida! Você me liga, Anúbis?
  _ Não. Passo pra te pegar uma hora da tarde.
  _ Okay. Combinado.

Não perderia a chance de chegar perto de Celso por nada nesse mundo. Aquele fim de semana ia ser quente sem dúvidas.