Capítulo 3

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Acordamos todos tensos, pois havia algo de errado por ali. Escutamos barulhos a noite toda, barulhos de tiros. Tínhamos certeza de que eram os Outros, mas ficamos um pouco preocupados por ali não ser uma área onde eles ficam vigiando. Talvez tenham seguido humanos até aqui. Mas... É tão difícil encontrar mais humanos.

Virei-me para ver como minha mãe estava, mas levei um susto.

Onde diabos está minha mãe?

Ela simplesmente sumiu. Não estava mais deitada ali, nem em qualquer lugar naquela pequena caverna. Comecei a ficar nervosa.

— Matt, minha mãe! — Chamei-o, vendo que ele ainda estava meio tonto e sonolento. — Ela não está aqui!

— Procure-a lá fora. — Ele disse, começando a se assustar. Olhou para o lado e viu Bob deitado, tentando se despertar. Matthew com certeza estava pensando que era ele.

Levantei-me e saí da caverna, escutei um barulho muito alto vindo do meu lado.

— HAYL!

Depois disso, não vi e nem escutei mais nada.

***

Estava tudo escuro. Minha cabeça doía e eu estava tonta. Escutava uma voz um pouco desesperada, na qual não tive cabeça para reconhecer. Tentava abrir meus olhos, mas ele pesavam como uma pedra. Até que comecei a sentir uma dor insuportável no braço, e como reação, gritei e coloquei a mão no mesmo lugar, pressionando minhas têmporas superior e inferior. Sentia um líquido sendo derramando no mesmo, acima de uma faixa de material indecifrável.

— Hayl! Você está bem? — Abri os olhos levemente e enxerguei Matt me olhando. Eu nunca havia visto aquela expressão no rosto dele. Era irreconhecido por mim. As sobrancelhas levantadas, suor pela testa e algo abaixo de seus olhos que se assemelhava à água, ainda escorrendo. Algo como se ele estivesse... Preocupado?

— Eu... Eu não sei. O que aconteceu? — Perguntei, confusa. Ouvi um suspiro de alívio saindo de sua boca.

— Você levou um tiro no braço, depois desmaiou. — Escutei com atenção sua narração. Ao dizer sobre o tiro no braço, automaticamente senti de novo a dor insuportável no mesmo. Percebi que Bob estava do meu lado, colocando algum líquido encima do machucado. — Na verdade, um raspão. Mas o suficiente para tirar muito sangue seu.

— Vocês descobriram quem fez isso? - Perguntei. Bob só dava atenção ao machucado, provavelmente são ordens do Matt.

— Foram um dos Outros, eu acho. Não deu tempo para muita coisa, antes de corrermos de volta para a floresta. — Matthew ainda não desviava a atenção de meus olhos.

— E minha mãe? — Falei assim que lembrei. Estava mais preocupada com ela do que comigo mesma.

Vi Matt trocar olhares com Bob. Estranhei.

— Matthew, você está me escutando? — Perguntei.

— Hayl, relaxe um pouco, descanse. Nós vamos conversar depois. — Sua expressão agora mudou para assustado, triste. Às vezes era divertido brincar de decifrar pensamentos do Matt, mas não agora.

— Eu quero saber agora!

— Eu não posso te contar agora. — Ele disse, quase perdendo a paciência.

— Por que? — Insisti.

— Merda, Hayl! Não posso contar à você que sua mãe está morta quando você está machucada! — Soltou, gritando. Assim que percebeu o que fez, colocou a mão na boca.

Eu não sabia qual reação fazer. Não sabia se estava chorando pela dor no braço, ou por esta notícia. De repente tudo ficou tão... Insignificante. Como se eu dependesse exclusivamente de minha mãe, quando ela nem conseguia sobreviver sem mim, com aquela doença. Eu estava perdida, sem chão. O meu mundo havia acabado, junto com a Terra.

— Me desculpe, Hayl. — Ele estava chorando. Ignorei o seu pedido e fiquei olhando para o céu, até Bob terminar seu serviço com meu braço, e as lágrimas frequentes me fazerem adormecer.

2070 - O Recomeço. #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora