Capítulo 4

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Acordei com o rosto inchado, provavelmente devido às lágrimas de ontem. Lembrei-me de minha mãe, e tentei segurar o choro. Eu não podia sofrer mais. Percebi que desta vez estávamos em um lugar diferente, algo como um porão, não sei como conseguiu sobreviver à guerra. Era até confortável. Vi que não tinha mais ninguém no local; Matthew e Bob devem ter ido procurar mais comida. Encontrei um copo de água e biscoitos encima da mesa. Pelo menos me deixaram sozinha por aqui.

Após comer, saí do lugar, vendo Matthew e Bob tirando alguns restos do caminho para aquele porão. Perceberam minha presença assim que cheguei.

— Bom dia. — Disse Matt, esperando minha resposta para ver se eu ainda estava ignorando ele.

Não vou perdoá-lo tão fácil.

— Bom dia, Bob. — Eu disse. Isso com certeza irritou Matt, já que ele odeia não ter a "atenção que merece".

— Bom dia, pequena. — Ele me cumprimentou de volta. Bob era bem educado, eu gostava dele, era como um... Pai, para mim. — Dormiu bem?

De acordo com as expressões que Matt fazia, e que eu secretamente estudava nele, ele estava com ciúme. Aquela frase era dele, apenas dele.

— Nem um pouco, e você? — Perguntei, ajudando-o a recolher as coisas da frente daquele lugar.

— Acho que não, também.

— Escuta, Hayl, nós vamos morar aqui por enquanto. Eu só queria te avisar isso mesmo, já que você está me ignorando feito uma criança.

Ele só pode estar brincando... O que diabos nós vamos ficar fazendo aqui? Até agora combinamos que nossa missão seria viajar o mundo até encontrarmos nosso Objetivo de Vida! Ele não me perguntou se podia fazer isso!

Urgh, é claro! Ele está fazendo isso para me passar raiva. Só quer chamar minha atenção.

Como eu te odeio, Matt! Como te odeio!

Ah, a quem eu quero enganar?! Eu te amo tanto... Só não posso te dizer. Ainda.

Entrei para a nossa suposta "casa", marchando com raiva. Percebi um sorriso de canto no rosto de Matthew, com certeza ele deve estar se divertindo com isso.

***

A tarde foi tranquila. Nós ficamos deitados, sem fazer nada. O tempo foi passando, até que escutamos algo estranho...

Toc, toc, toc

Três batidas na porta. Mas, o que diabos está acontecendo? Como isso é possível? Era quase impossível encontrar mais um humano por ali! E os Outros não batem na porta, mas sim as quebram sem nenhuma sensibilidade.

Nos entreolhamos. Eu, Bob e Matthew estávamos com os olhos arregalados, totalmente sem reação. Esperamos para que outra coisa acontecesse. Durou alguns longos segundos, que pareciam horas para a nossa ansiedade, mas aconteceu...

Toc, toc, toc

Desta vez mais fortes e frenéticas. Matt pegou sua faca, ao lado de seu travesseiro; se levantou e foi devagar até a porta. Encostou na maçaneta e a girou, abrindo rapidamente. Nós conseguimos visualizar uma criança e uma mulher, chorando. Eu não estava acreditando... Será que todos os humanos restantes no mundo estavam concentrados na Europa? Matt abriu espaço para eles entrarem. Ele e Bob se entreolharam, estranhando, assim como eu. Eles se sentaram em qualquer lugar dali, esperando para que o "chefe" perguntasse ou dissesse algo contra os dois, ameaçando-os.

— De onde vocês vêm? — Começou Matt.

— Nós morávamos no Canadá. — Respondeu a mulher, tremendo.

— E como chegaram até a Europa? Vocês precisariam atravessar um enorme oceano! — Havia dúvida no olhar dele.

— Estávamos navegando para cá, com meu marido, antes da guerra. Conseguimos chegar até aqui, mas John não aguentou e faleceu. — Desespero era nítido em sua voz. Mais uma vez, Matthew intimidando humanos.

— Qual é o seu objetivo de vida?

- Proteger o meu filho. — Respondeu, abraçando o garotinho ao seu lado. Parecia ter uns 7 anos.

— Como pode me convencer de que não irá nos matar?

— Senhor, nós nem temos armas. Por favor, nos deixe ficar! — Uma das ótimas respostas para o "chefe".

— Ficarei a sua vigia. — Disse, por fim.

Seria mais uma noite longa para mim e para Matt. Ele vigiando o garoto e a mulher, e eu vigiando ele.

2070 - O Recomeço. #Wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora