Já se passaram duas semanas desde que briguei com Matthew, e até hoje não falo com ele. Ele anda mais fechado, e não liga para a opinião dos outros, só quer mandar em tudo, está mais agressivo do que nunca. Eu o vejo tratando as pessoas do Acampamento - Como adotamos nosso pequeno grupo de sobreviventes, entre eu, Matt, Bob, e aquela mulher e seu filho que nos encontraram (Jeena e Mike) - como se estivesse falando com escravos. Ninguém sabe o que fazer. Admiro a paciência deles todos, aguentando cada chilique de Matt, apesar de que eles não tem onde ficar mesmo.
Jeena e Mike reagiram bem durante seu tempo conosco. Eles nos respeitaram, principalmente o espaço de Matt, e nos ajudaram a caçar comida. É um bom resultado.
Não tivemos mais ataques com os Outros depois do último, aliás, nunca mais encontramos nenhum deles. Eu achei bastante estranho isso, mas pelo menos estávamos bem.
Nós havíamos abandonado o porão, pois Matt finalmente se lembrou que nossa missão por ali era achar um Objetivo de Vida, e não fazer pequenas pausas para descansar.
Eu estava deitada em minha barraca, quando escutei Matthew gritar que era hora da "reunião". Ele fazia isso para controlar o horário de suas ordens e nos manter cientes do que ele quer fazer. Eu odiava aquilo, me sentia uma escrava por estar fazendo o que ele manda sempre, sem expressar minha opinião. Resolvi ficar quieta dentro da barraca. Eu sei, estava comprando briga, mas eu juro que não aguento mais passar um segundo recebendo ordens daquele garoto insensível e imaturo. É bom se ele vier falar comigo, porque tenho poucas e boas para lhe confessar. Foi necessário apenas alguns minutos até ele invadir a barraca e começar a brigar comigo.
- O que ainda está fazendo aqui? Eu chamei todos para a reunião!
Ignorei.
- Escute aqui, quem você pensa que é para me desafiar dessa forma? - Disse ele, grosso.
- Não, Matthew. Escute aqui você! Ninguém aqui está sendo obrigado a fazer nada, todos estão fazendo favores à você, por isso, indico que você pare de ser o idiota e infantil que está sendo e aceite nossas opiniões! Nós não somos escravos, e não trabalhamos para você. - Quando percebi, eu estava de pé, cuspindo todas estas palavras na cara dele e na frente de todos do Acampamento. Nossa! Há quanto tempo não falo com ele...
- Vocês me devem respeito sim, porque sem mim vocês não seriam nada! Nem sobreviveriam aqui. Devem apenas me respeitar e fazer o que mando!
- Você que não iria sobreviver sem nós. Não consegue fazer nada sem nossa ajuda!
- Sabe, Hayl, você não é nada mais do que uma vadia...
Ouch...
- Sempre dependeu de sua mãe, e quando ela morreu, correu para os meus braços. Mas eu te digo uma coisa: se você acha que não fica parecendo uma idiota iludida quando fala comigo, está enganada. Acha que eu sou estúpido ao ponto de não perceber que está totalmente apaixonada por mim? Eu até teria algo com você, se você não fosse tão sensível, chorona, dramática e entre outros mil defeitos.
Por que? Por que comigo, Matthew? Tão fraca, inexperiente, não deveria ter feito isso...
- Quer saber? - Eu disse.
Fiz uma longa pausa, avaliando a reação de cada um que ali se encontrava.
Não, Hayl, não diga isso, por favor... Não haja por seus instintos! Hayl, aguente! Segure! Vai ficar tudo bem, não diga isso. Não, não!
- Eu te odeio.
***
Há 5 anos atrás...
- Ah, qual é! Não pode dizer isso. - Disse Matt, descendo da árvore ao escutar as três palavras que eu tinha lhe dito. Ele estava um pouco chateado. Mas por que? Foi só uma brincadeira! - Eu sei que não me odeia.
- Eu estava apenas brincando, seu idiota! - O respondi.
- "Odiar" é uma palavra muito forte. Não brinque com isso! - Ele estava falando sério
Por um momento, fiquei curiosa. O que Matthew tinha contra essa palavra?
- Por que não gosta dessa palavra? - Perguntei, direta.
- É uma longa história. - Havia medo em seu rosto.
- Vamos, eu tenho todo o tempo do mundo! - Me sentei novamente naquela árvore e o esperei, para que me contasse o que houve.
- É que meu pai... - O vi gaguejar.
- Vamos, confie em mim. - Eu disse.
- Você tem que me prometer que nunca mais dirá esta palavra... Nem de brincadeira!
- Tudo bem, anda logo.
- De dedinho?
- De dedinho.
- Antes de meu pai... Falecer, ele me disse essa frase. - Disse, finalmente.
- Eu te odeio?
- Sim.
- Mas ele não foi baleado? - Insisti em sua explicação.
- Sim. E... Fui eu quem atirei.
O quê? O que ele quer dizer com isso?
- Por que? - Tentei dar apoio a ele, não reagindo à sua frase.
- Minha mãe que pediu. Ela disse que ele estava ficando louco devido o fim do mundo, então pediu para que eu o matasse, antes que ele fizesse comigo. - Lágrimas saíam de seus olhos frequentemente. Algumas saíam dos meus.
- E ele realmente estava louco?
- Não. Minha mãe quem estava louca.
- Wow! Mas o que aconteceu com ela?
- Ela se matou, depois disso.
- Eu sinto muito, Matt. - Disse e limpei meu rosto. O vi fazer o mesmo.
Eu realmente sentia. Sempre senti, só não posso lhe dizer, não agora.
***
Atualmente...
Por que fez isso, Hayl? Por que? Esse será o seu maior arrependimento...
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2070 - O Recomeço. #Wattys2016
Ciencia Ficción(Livro 1) Onde Hayl tenta achar uma forma de reconstruir o mundo, e fugir dos "Outros". 2070 envolve ação, romance, drama, tragédias e tudo o que um livro pode conter.