Capítulo 2

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—Nieta! Nieta! Dessa logo! Deça imbecil! —Era tia Ana, como imaginava.

—Não sou imbecil! E quem é  você para mim chamar assim!?

Sentir que tia Ana iria subir pra me dar uma surra da quelas — mesmo do andar de cima, eu podia sentir o olhar de demônio que Ana tinha… só em pensar em mim aquela mulher se transformava em um diabo—, por isso decidi descer logo. Quando cheguei no andar de baixo (admito era uma bela casa: possuía um sofá branco— não podia nem chegar perto—, um tapete preto, com uma TV maravilhosamente grande, e oh! era um belo sonho, pena que a única coisa que eu poderia me servir naquela casa— na verdade esta, que deveria ser somente minha – era o meu sótão, e toda ela nas épocas que papai e meus outros tios estavam em casa ),vi que haveria uma grande festa e deparei-me com as reclamações da tia Ana:  

— Minha amada Flora irá dar uma festa magnífica, e não queremos indigentes aqui em casa.

— Sim não sairei do meu quarto ( um sótão )

— Não!, você deve dormir em outro lugar aqui não !

— Mas por que isso ?

— Você acha mesmo que quero que os amigos de minha filha— bem… eu e Flora éramos da mesma escola—, vejam a "esquisita" — fala sério! Você só queria me humilhar!— em sua casa? Lógico que não, por favor, poupe-me de sua presença, você sabe que é somente um certo… pretexto.  

Não consegui dizer uma palavra, porque eu não sabia se ria ou chorava, porque  primeiro: uma mulher na faixa de seus quarenta anos fala feito uma menininha de quinze,e segundo: eu me senti um lixo...Sem hesitar corri para meu quarto, minha raiva e dor (e risadas) estavam sendo transformadas em lágrimas que passeavam por toda minha bochecha. Eu chorei. Conflitos internos, muitas emoções, uma tia chata… eu nunca fui ousada a ponto de rir na cara de tia Ana, mas eu nunca consegui rir por trás… tudo que sentia, de feliz ou triste, saía como lágrimas. Na verdade, na verdade, eu só tinha a esperança que mamãe vinhesse me socorrer, enxugar minhas lágrimas, compartilhar  das minhas risadas

Eu não sabia como mamãe era, eu imaginava como ela era… então, nunca tenho certeza do que eu quero, mas eu sempre quero alguma coisa.

***

Quando cheguei ao meu quarto olhei para o espelho, palavras surgiram em minha boca

—Do que adianta ser boa se o mundo é mau? Do que você me serve? mamãe se foi por minha causa!, MINHA CAUSA!!  você me traz péssimas lembranças, o tiroteio (contarei depois essa história), a sua morte dolorosa .

Então coloquei ( tecnicamente eu o joguei) o espelho na cama e não suportei, sentei junto a ele e chorei até ( pelo que parece ) meus olhos ficarem roxos. Quando dei em mim, percebi que meus olhos não conseguiam enxergar mais nada a não ser , somente, uma luz muito forte que me deixava mais aliviada diante da situação passada  . Ouvia várias vozes e meus pensamentos ficaram leves. o que senti, acalmava rápido como um suspiro, mas passou rápido demais, como um piscar de olhos.  

O Medalhão de Zeit - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora