Caput VI - Part II

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- Outro corpo em o quê? Duas semanas? Só pode estar brincando com a minha cara – foram as palavras irritadas do também irritado Simon Huston.

Não era o mesmo que poderíamos dizer de Bernard, de facto. O rapaz suspirou, mas não era de medo ou angústia. Foi tão sutil quanto um ronronar de um gato. Despejava as informações preguiçosa e lentamente, como em um livro de mistério para os dois policiais.

Enquanto esperava a garota se resolver lá dentro e arrumar todas as suas futilidades, detetive Bartle recebera uma ligação tripla do chefe com o legista, afirmando ser uma emergência. Ele sabia que tipo de emergência era aquela.

- Desta vez, estava jogado em uma borda irregular do rio. – Bernard continuou. - A água suja lavou o corpo do mesmo jeito, mas era claro que havia sido colocado ali propositalmente. Estava limpo e montado, apesar de todas as partes terem sido igualmente arrancadas como no corpo da vítima anterior.

- Então realmente estamos lidando com alguma ameaça.

"Você tinha dúvidas?" Bartle pensou, sozinho. Era lógico que tinha. Mas ele resolveu continuar sem interromper o colega.

- Talvez isso tenha sido justamente para provar que ele realmente era um assassino em potencial - Bernard argumentou, e o detetive quis rir. - Fala sério, aquele apelido que colocaram nele de "Wolf" soava realmente ridículo. Pode acontecer d'ele concordar e querer provar o óbvio, ofendido.

- Não é hora para brincadeiras, Stone. – O tom do chefe era impaciente. – Stephen, você está aí? Está nós ouvindo?

- Está aparecendo no seu visor que estou. Então eu estou.

- O que acha sobre isso? – Bernard murmurou maliciosamente.

- Não há o que achar ainda. Mas você não falou muita besteira. Já começou a biópsia?

- Estou no caminho. E tem algo bem esquisito, pelo que vi em uma olhada breve. Vai querer dar uma olhada ainda hoje?

- Só entregar a princesa no castelo e já estou aí. Quer estragar o suspense?

- Jamais. Mas acho que ficará bem interessado nisto. Traga um livro de contos de fadas. – Stone respondeu, por fim.

Prestes a desligar, Bartle foi interrompido por Huston. – O quê?

- Até agora está com ela?

Bartle suspirou cansado pelo óbvio. Não tinha acabado de responder que estava?

- Por quê? – ele respondeu, não interessado de verdade na resposta.

- Eu que pergunto. Por que ainda estão aí? Saíram quando o sol ainda estava no céu.

- O Sol jamais deixou o céu, Simon – lembrou e sentiu o chefe grunhir irritado. Talvez não fosse hora.

Se eles tinham demorado, é porque tinha enrolado. Não que fosse falar sobre a pequena e previsível conversa entre ambos – que não foi exatamente previsível -, mas os motivos eram muito simples e claros. Não se deu ao trabalho de responder, mas assegurou o chefe de que logo estaria lá. Desligou, ignorando os protestos.

Parou para se questionar quanto tempo havia se passado desde que Harriet estava em sua casa e se não havia algo verdadeiramente errado. Iria dar uma checada quando, ao travar o carro, ela surgiu nervosa, com apenas uma bolsa.

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Meia hora atrás

- Srta. Williams – as palavras foram pronunciadas de maneira doce, lentamente. Mas o charme que o belo homem jogava contra ela não era nada, já que Harriet o encarava incrédula, se perguntando que cara de pau ele tinha para, sendo um desconhecido, entrar em sua casa, quase a matar do coração, a atacar, e ainda fazer carinha de anjo e sussurrar seu nome como se nada estivesse acontecendo. Nada! Não acreditava em tamanha cara de pau.

Rasgue-meOnde histórias criam vida. Descubra agora