- Finalmente você chegou – Bernard sequer precisou levantar os olhos para saber que o detetive os últimos degraus das escadas que o levaria até a sua sala.
Assim que o loiro pousou no chão, o legista acenou com a cabeça para onde ficava as luvas e máscaras para que o outro se preparasse e o acompanhasse na pesquisa. O relógio marcava três e vinte e dois da manhã.
- Perceptível – murmurou de resposta, já calçando as luvas e dando um olhar superficial pelo corpo. Era de uma mulher jovem e branca, que estava toda desmontada pela mesa, deixando claro que seus membros não estavam mais ligados ao corpo e tudo fora obra do legista para organização. Um par das batatas das pernas com o corte perto do tornozelo no canto superior da esquerda, um par de cotovelos que seguiam dos braços até os pulsos logo abaixo, formando linhas horizontais macabras de corpo humano. Os ombros, coxas – consequentemente joelhos – estavam na outra parte da grande mesa de metal.
A cabeça estavam dentro de um saco e o tronco estava sendo estudado.
Os traços característicos de agressão que Hillary sofrera também estavam presentes nesta nova garota. Na análise geral, não havia nada de diferente, exceto pela parte que Bernard tampava, tão focado e entretido na lombar da mulher. Apesar de que não encontrava, de modo algum, as mãos e pés da garota. Diante da organização, concluiu que elas não foram encontradas na cena do crime.
- Pervertido – o detetive se aproximou, curioso para ver o que tanto o outro fuçava naquela área. Um par de nádegas secas e mortas não exigia tanta atenção assim. Ainda mais em decomposição.
- Imoral, sujo, indecente, ofensivo, impróprio... A lista de adjetivos de do que esse cara fez com ela não acaba só em pervertido. – A tranquilidade na voz do legista era tão perceptível, junto com sua postura relaxada e sua calma com as mãos, que Bartle até estranhou. Estava se comportando de maneira estranha ultimamente.
- Me referia a você. – Stone soltou uma risada animada e surpresa, subitamente consciente do que estava fazendo. – O que há aí?
Percebeu que, na abertura da nádega esquerda da moça tinha algumas palavras escritas através de algum objeto cortante na parte superficial da epiderme. Era tão pequeno e tão bem desenhado que Bartle teve problemas na hora de ler, forçando a testa e procurando pela sala alguma lente de aumento. Não foi necessária.
- Tem isso em todas as extremidades do corpo dela. Cada cantinho escondido. Formando algumas palavras para formar alguma frase.
Stephen se perguntou o que será que quem quer que tenha feito isso queria dizer. Seria uma confissão? Uma explicação dramática do porquê fez? Estaria escrito uma das suas frases de seu livro favorito?
- E o que você conseguiu até agora? – ele foi direto atrás do joelho procurar as palavras, sem qualquer interrupção do colega. Encontrou apenas "sua mãe, sua avó, que, já, pecados, pagar". Palavras desconexas que criavam uma charada. – Já formou alguma coisa?
- Bom, olhei aí, atrás das orelhas, na cavidade do nariz – Bartle ergueu a sobrancelha, como se perguntasse "realmente?" –, nas axilas, embaixo da língua, abaixo do maxilar e nas partes íntimas. Mas creio que não precisarei olhar mais para completar.
O detetive apenas aguardou que ele continuasse. Stone, animado e com os olhos brilhando, revelou devagar, mantendo o suspense como se estivesse contando uma grande e esperada notícia.
- "Sua mãe lhe pediu / para que sua avó fosse encontrar / que, doente, já não podia as visitar / e lhe presenteasse com uma deliciosa cesta / com os pecados cometidos que ela teria que pagar." – Ambos homens se encararam durante alguns longos segundos. Enquanto Bernard soltava o ar que estava segurando pela emoção, Stephen estava pensando a mil por hora.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Rasgue-me
Детектив / ТриллерQuando os sinais estão evidentes, um padrão se segue, pistas são deixadas e nenhum culpado é encontrado pela trilha de sangue, pode se preparar para o provável: um serial killer está a solta, e você provavelmente poderá ser a próxima vítima. Positiv...